Vacinação no Brasil: Propostas para atingir 90% de cobertura vacinal

Profissional da saúde aplicando vacina no braço de uma pessoa. Sobre a imagem, o texto: meta de 90% da cobertura vacinal?
Médicos apontam desafios para a vacinação no Brasil e propostas para ajudar o país a atingir a meta de cobertura vacinal. (Imagem: Edição de arte. Foto: Angelo Esslinger/Pixabay)

Documento da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Aliança pela Saúde no Brasil aponta ações para o setor da saúde e contribuições da sociedade civil

Em resposta ao Movimento Nacional pela Vacinação, lançado em fevereiro de 2023 pelo Ministério da Saúde (MS) , entidades que compõe a Aliança pela Saúde no Brasil produziram um documento intitulado Desafios para a Vacinação no Brasil: Ações Necessárias do Setor Saúde e Contribuições da Sociedade Civil . A meta é atingir a cobertura vacinal de 90% em todos os grupos.

A Sociedade Brasileira de Medicina de Família também está envolvida na iniciativa, que propõe o envolvimento das sociedades científicas e o diálogo interfederativo. Neste artigo, vamos analisar as principais propostas apresentadas pela ASB e pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família para atingir a meta.

Neste artigo

Boa leitura!

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Vacinação no Brasil: Baixas históricas

De acordo com a Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI), a cobertura vacinal (CV) no Brasil vem sofrendo um declínio desde 2016, sem indícios de retomada. Atualmente, a CV apresenta números comparáveis aos da década de 1980. Em 2021, a CV de crianças com menos de um ano de idade atingiu o menor patamar histórico no país, com apenas 70%, o que levantou alertas por parte das autoridades sanitárias.

Gráfico com dados da vacinação no Brasil - mostra a cobertura vacinal de 2014 a 2021.
Descrição da imagem #PraGeralVer: Gráfico mostra as coberturas vacinais em crianças menores de um ano de idade, no Brasil, de 2014 a 2021 (DataSUS). (Imagem: Reprodução. Créditos: ASB/AMB)

Riscos à saúde pública

Os dados do Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde (PQAVS) mostram que o número de municípios com CV acima de 95% para as vacinas contra poliomielite, pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e haemophilus influenza tipo B), pneumocócica, tríplice viral e D1 caiu de 2.257 para 914 entre 2018 e 2021. Essa heterogeneidade na cobertura vacinal apresenta riscos à saúde pública, uma vez que pode haver a reintrodução de doenças já eliminadas ou sob controle, como é o caso do sarampo, que apresentou surtos registrados e persistentes no país desde 2018.

Covid-19 e fake news

Além disso, a pandemia de Covid-19 afetou os serviços de saúde, gerando excessos de demanda e fragilizando a vigilância e a qualidade da informação sobre imunização. Falsas notícias também foram amplamente disseminadas, abalando a confiança de pessoas, famílias e até mesmo de profissionais de saúde sobre as vacinas. Neste contexto, é imprescindível que medidas sejam tomadas para reverter a situação e atingir a meta de 90% de cobertura vacinal no Brasil.

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Hesitação vacinal da população

A hesitação vacinal é caracterizada pelo atraso ou recusa da vacinação, mesmo quando a vacina está disponível nos serviços de saúde. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou a hesitação vacinal como uma das principais ameaças à saúde pública, destacando fatores como falta de confiança, conveniência e complacência como elementos subjacentes a esse fenômeno.

Desafios para a cobertura vacinal

A adesão à vacinação é influenciada pelo imaginário e mecanismos sociais que afetam a propensão de uma dada comunidade a ser vacinada ou não. Entre os fatores que afetam a decisão de se vacinar, estão a confiança na importância, segurança e eficácia das vacinas, bem como a compatibilidade com os valores do indivíduo. A desinformação e as notícias falsas desempenham um papel importante ao levantar dúvidas desnecessárias sobre a efetividade das vacinas.

Papel dos profissionais na ampliação

Os profissionais de saúde são os principais influenciadores nas decisões sobre vacinação e devem ser apoiados para fornecer informações confiáveis. Compreender o problema da hesitação vacinal entre os profissionais de saúde pode orientar ações para ampliação da vacinação e produzir conhecimento com potencial para ser empregado na abordagem de outros agravos imunopreveníveis.

Como aumentar a cobertura vacinal

Com base nas recomendações da InterAcademy Partnership (IAP), a ASB defende que toda a sociedade civil organizada deve promover debates abertos sobre o tema da vacinação, com base em evidências científicas e fontes confiáveis; evitar a politização do debate; cobrar do poder público um monitoramento contínuo e transparente da cobertura vacinal e da ocorrência de doenças preveníveis, com o apoio de estados e municípios; contribuir para esclarecer dúvidas sobre vacinação e combater as fake news em todos os espaços de representação social.

A efetividade de ações na ampliação urgente da vacinação e consequente mudança de cenário deve compreender ações de conveniência, contexto de cada estado, complacência, comunicação e acesso.

No âmbito da ASB, as entidades aliadas recomendam e as sociedades de especialidade convidadas entendem que ações articuladas são fundamentais para contribuir para o alcance de 90% de cobertura vacinal no país.

Durante a Semana Mundial de Imunização, celebrada pela OMS entre 24 e 30 de abril, a ASB apresenta as seguintes propostas:

  • Que a ASB e as entidades aliadas possam desenvolver ações e campanhas descentralizada para reduzir a hesitação vacinal, combater a desinformação (fake news).
  • Que todas as Sociedades de Especialidades filiadas à Associação Médica Brasileira (AMB) promovam campanhas, cursos ou publiquem informações relevantes e customizadas para os médicos especialistas, de modo sistemático, para que todos estejam engajados e bem informados sobre as vacinas.
  • Que a AMB apoie tecnicamente a ASB desenvolvendo mensagens para todos os profissionais de saúde e em especial os médicos, independente de sua filiação associativa e em todos os níveis de complexidade e pontos das Redes de Atenção à Saúde (RAS), com o objetivo de aumentar o engajamento desses profissionais na defesa da vacinação.
  • Que a AMB contribua com o Movimento Nacional pela Vacinação, diretamente e/ou através de ações coordenadas com as Sociedades de Especialidades e Federadas.
  • Que o poder público desenvolva, de modo sistematizado, campanhas para promover a vacinação para todas as faixas etárias da população, visto que a comunicação eficiente é uma importante ferramenta de educação em saúde.
  • Que o poder público desenvolva tutoriais e/ou cursos de capacitação para qualificar os profissionais das salas de vacinação, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).
  • Que o poder público garanta a disponibilidade de vacinas nos serviços de saúde, incluindoampliação e flexibilização dos horários de aplicação das vacinas.
  • Que o poder público possa garantir profissionais de saúde capacitados e em número suficiente às necessidades dos serviços de saúde, inclusive para assegurar a disponibilização de dados confiáveis nos sistemas de informação.
  • Que a ASB busque ampliar sua rede de entidades aliadas, em especial no setor da educação emtodos os níveis, desde o ensino fundamental até o ensino universitário, para desenvolver campanhas voltadas para professores, estudantes e profissionais afins.
  • Que a ASB contribua com campanhas voltadas para a sociedade em geral, para combater as notícias falsas (fake news) e para reduzir a hesitação vacinal, com a contribuição e apoio do poder público.

Responsáveis pelo documento

  • Marcia Bandini – Aliança pela Saúde no Brasil (ASB);
  • Luciana Rodrigues Silva – Associação Médica Brasileira (AMB);
  • Renato Kfouri (Sociedade Brasileira de Imunizações – SBIm);
  • Clóvis Constantino – Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP);
  • Alberto Chebabo – Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI); e
  • Zeliete Zambon – Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). 

A íntegra do documento, no formato PDF, analisando o cenário e elencando propostas concretas pode ser acessado no link: https://bit.ly/40HrsVq

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Jornalista Inclusivo

Da Equipe de Redação

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