Diversidade na posse de Lula: Análise de uma ativista preta e mãe de criança atípica

Foto mostrando a diversidade na posse de Lula com as pessoas que subiram a rampa do Planalto ao lado do novo presidente, seu vice, primeira e segunda-dama.
Simbolismos da diversidade na posse de Lula. (Foto: Reprodução. Créditos: Tânia Rego/Agência Brasil)

Artigo de opinião da palestrante, escritora e ativista preta Gaby Pereira, mãe de criança com atípica com deficiência múltipla

Em 2018, quando o ex-presidente Bolsonaro estava sendo empossado, sua esposa Michele fez um discurso em Libras como forma de mostrar a inclusão das pessoas com deficiência. Eu lembro de receber inúmeras mensagens de gente emocionada e chorando, e recebi diversas críticas ao dar minha opinião sobre o ocorrido. Como alguém que não é surda usa a segunda língua mais falada no pais e acha que isso é representatividade, e garantia de um governo mais inclusivo?

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    Boa leitura!

    Eu não preciso nem dizer que os últimos 4 anos tivemos desde a extinção da Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência, intenção de congelar o aumento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), a exclusão da escola regular, aumento da fome, violência contra povos indígenas, negros, mulheres, LGBTs e pessoas com deficiência (PCDs), desmatamento da Amazônia e economia indo pelo ralo.

    Diversidade na posse de Lula

    Porém, hoje o intuito aqui é falar sobre a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi todo organizado pela primeira dama, a socióloga Rosângela Lula da Silva, popularmente conhecida como Janja. A posse contou com  diversos grupos de trabalhos para que a sociedade como um todo soubesse que o seu governo será de fato para todos, todas e todes.

    A subida da rampa do Palácio do Planalto com pessoas que representam a nossa diversidade foram Raoni Metuktire, cacique e líder do povo Kayapó ; Aline Sousa, catadora de materiais recicláveis do Distrito Federal ; Francisco Carlos do Nascimento e Silva, criança de 10 anos que vive em Itaquera, região periférica de São Paulo; Wesley Rocha, metalúrgico; Murilo Jesus, professor; Jucimara Santos, cozinheira; Ivan Baron influenciador digital e pessoa com deficiência ; Flávio Pereira, artesão e a cachorra Resistência, também esteve presente na subida.

    Acessibilidade, inclusão e empatia

    A organização da posse do presidente Lula estudou criteriosamente e planejou a acessibilidade do evento para garantir acesso e conforto às pessoas com deficiência.

    > Intérprete de Libras para pessoas surdas;

    > Área PCD com acesso de acompanhante;

    > Equipe de acessibilidade para dar assistência às pessoas com deficiência;

    > Placas de sinalização;

    > Abafadores de ruído para pessoas com sensibilidade auditiva;

    > Banheiros acessíveis e próximos à área PCD, conforme manual do participante do evento;

    > Os 21 tiros de canhão, tradição nas posses presidenciais, foram substituídos para evitar danos a autistas sensíveis a barulhos e animais de estimação.

    Assim, com a entrega da faixa sendo realizada pelo grupo que representa a diversidade brasileira – uma vez que o ex-presidente Bolsonaro não compareceu –, fica provado que a gana do ex-presidente sempre foi o poder, que está acima do povo e nunca ao lado do povo.

    Lula também assinou diversos decreto que prejudicam os direitos de alguns setores da sociedade:

    > Inicia o processo de reestruturação da política de controle de armas no país;

    > Restabelece o combate ao desmatamento na Amazônia;

    > Decreto que, segundo o novo governo, segregava pessoas com deficiência na educação regular;

    > Decreto que “remove impedimentos à participação social na construção de políticas públicas;

    > Despacho determinando a elaboração de propostas em favor dos catadores;

    > Cumprindo promessa de campanha, Lula firmou despacho que determina que a CGU (Controladoria-Geral da União) reavalie, em 30 dias, “as decisões que impuseram sigilo indevido sobre informações da administração pública”. São os propalados sigilos de 100 anos impostos por Bolsonaro em diversas áreas.

    Análise final

    Em seus dois discursos Lula deixou claro a intenção de como vai governar, quando quebra o protocolo e coloca o vice-presidente Geraldo Alckmin e sua esposa Lu Alckmin para estarem ao seu lado como protagonistas – inclusive ambas esposas sobem a rampa na frente deles –, faz um pedido de paz a quem não o elegeu e confirma que nosso país continuará laico e todas as religiões seguirão sendo respeitadas.

    Porém, quando olhamos o panorama de todo o evento, podemos perceber a desigualdade dessas diversidades nos espaços de poder. Pois na mesa principal para assinar a posse, tínhamos apenas uma mulher branca Rosa Weber. 

    Nas mesas estendidas era nítida a cor de pele, gênero e condição: homens brancos, héteros e típicos. Quando vemos a foto do presidente, seu vice e esposas se vê a paridade de gênero com homens e mulheres brancos.

    No evento, a multidão do povo era formada por negros, indígenas e mulheres. Já nos espaços de poder, a cor que predominava era a branca, com uma maioria de homens cis e nenhuma pessoa LGBTQIAPN+ (aliás, na rampa eu senti falta da letra T). E na multidão tivemos vários exemplos, mas em nenhum momento foi mostrado onde estavam incluídas as pessoas com deficiência – e eu nem preciso falar sobre o espaço de poder.

    Quero aqui dizer que eu fiquei extremamente emocionada com toda a cerimônia da posse, porém, precisamos que em 2027 esteja naturalizada a ocupação e reocupação da diversidade humana nos espaços de poder. Eu quero olhar para a TV e não precisar me emocionar com o mínimo que nunca tivemos, e cair na ilusão do Tokenismo.

    Desejo que nos próximos anos a gente consiga reconstruir o nosso país, tornar nossa sociedade mais justa e igualitária, que a gente não precise mais falar só de luta e dor, e que a nossa existência seja naturalizada em todos os espaços.

    Lula tem um amplo trabalho de reconstruir o nosso país e eu quero que nossa família faça parte disso!!

    Sobre Gaby Pereira e a Família Atípica

    Gabriela Pereira do Santos é natural de Macapá (AP), 35 anos, casada com Moisés Santos, mulher negra, autista com TDAH, graduanda em Psicopedagogia, formada em Teologia, Libras, Braille. Desde 2015, estuda sobre diversidade humana e Inteseccionalidade. Mãe do Benyamin Luiz, uma criança negra com deficiência múltipla (trissomia do 21, surdez e autismo). É ativista dos Direitos Humanos, criadora do projeto social AMPARA, que acolhe famílias atípicas da periferia, e do canal Família Atípica, onde mostra o dia a dia da sua família.

    “Em nosso canal falamos de maneira leve e com bom humor, afinal, nossa vida por si só já tem muitas dificuldades. Queremos mostrar a vida real e falar de como lidamos com as dificuldades que a paternidade e maternidade nos trás. Somos uma família simples, que mora na periferia e luta para que os direitos do nosso filho sejam respeitados, buscando sempre que ele tenha melhor qualidade de vida”, completa Gaby.

    Texto: Gaby Pereira
    Edição: Rafael Ferraz

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