Dia Mundial do Braille 2023: O real acesso ao sistema no Brasil

Jovem estudante negro fazendo leitura em braille dentro da sala de aula. Ao fundo há uma lousa. Dia Mundial do Braille 2023.
Celebrar o Dia Mundial do Braille 2023 é lutar pelo acesso ao sistema no Brasil. (Foto: Reprodução/Flickr. Créditos: GPE/Kelley Lynch)

Com 74% das 506 mil pessoas cegas que ainda não são alfabetizadas no Brasil, o Dia Mundial do Braille 2023 não é uma data festiva

Com o início do novo Governo Federal, prometendo respeitar a diversidade e a inclusão social, e ainda pelo Dia Mundial do Braille – celebrado anualmente em 4 de janeiro, é novamente oportuno falar sobre o mais eficiente mecanismo de escrita e leitura para pessoas com deficiência visual: o sistema Braille.

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Acesso ao sistema no Brasil

De acordo com dados oficiais do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, o Brasil tem 506 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão. Porém, o grande desafio do país está na alfabetização, na formação do leitor e na oferta de recursos acessíveis às pessoas com deficiência visual.

Estudo científico da UnB (Universidade de Brasília), de 2015, aponta que 74% das pessoas cegas no país ainda não são alfabetizadas, incluindo as que não sabem ler em braille, ou outro método, e os que não possuem certificação escolar. Além disso, somente 13% concluiu o ensino médio e 11% os ensinos básicos e fundamental.

Lei Nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962 estipula que o código Braille esteja presente nos mais diversos materiais de literatura, livros didáticos, obras de difusão cultural, literária ou científica. Entretanto,  as pessoas com deficiência visual não estava sendo alfabetizadas através desse sistema de leitura e escrita.

Diante esse cenário, é imprescritível conscientizar e cobrar por políticas públicas para aumentar o acesso ao ensino do braille, que é imprescindível para a inclusão social. Locais comuns como mercados, farmácias, hospitais, restaurantes, parques e lojas comerciais ainda estão distantes dessa proposta.

Por que o sistema Braille?

O Dia Mundial do Braille é celebrado de forma universal e foi idealizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2018 . Mais que uma celebração, a data alerta para necessidade de promover a inclusão e garantir os direitos das mais 39 milhões de pessoas cegas e outras 246 milhões com algum tipo de deficiência leve ou severa na visão, ao redor do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Há quase dois séculos, na França, Louis Braille criava um método de escrita e leitura que – exceto alguns pequenos ajustes – permanece basicamente o mesmo até hoje. 

O sistema Braille é reconhecido como o instrumento mais preciso e eficaz para que as pessoas que já nasceram cegas ou perderam a visão nos primeiros anos de vida sejam alfabetizadas e formem conceitos sobre seres, objetos, formas e realidades utilizando-se desse sistema. E, mesmo quase 200 anos depois de sua criação, nenhuma tecnologia o substitui – não existe outro recurso capaz de alfabetizar as pessoas com deficiência visual.

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Alfabetizada em braille vira autoridade

Ainda garota, Regina Oliveira encontrou no braille a ferramenta fundamental para sua alfabetização e independência. Regina nasceu com glaucoma, diagnosticado nos seus primeiros três meses de vida. Identificada a doença, seus pais buscaram por uma cura junto aos médicos, mas, aos 7 anos, ela perdeu por completo a visão. Em casa, sua mãe havia começado a ensinar as letras do alfabeto.

Mas Regina queria frequentar a escola junto com as outras crianças. Ainda pequena, teve seu primeiro contato com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, onde foi alfabetizada em braille. Depois, estudou com as demais crianças do bairro na escola regular, contando com os livros didáticos produzidos na instituição.

“O braille é um recurso indispensável para a independência e a autonomia das pessoas cegas. Com o braille, as pessoas cegas passaram a ter acesso ao conhecimento, à cultura, ao lazer, à informação. É importante garantir o acesso ao sistema braille em todos os espaços para que a sociedade se torne mais inclusiva e empática” – Regina Oliveira, Coordenadora de editorial e revisão braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Foto de Regina Oliveira, pessoa com deficiência visual, ilustrando artigo sobre Dia Mundial do Braille.
Descrição da imagem #PraGeralVer: Fotografia de Regina Oliveira, mulher branca de cabelos curtos, na altura dos ombros. Está parada em frente a uma parede amarela, e veste camisa azul e óculos escuros. Com deficiência visual, ela segura uma bengala que utiliza para se locomover. (Foto: Divulgação. Créditos: Fundação Dorina Nowill para Cegos)

O trabalho da Fundação Dorina

A Fundação Dorina Nowill para Cegos, em conjunto com a Fundação LEGO, possui iniciativas como o LEGO Braille Bricks, kit composto por peças de LEGO com o alfabeto em Braille completo, números de 0 a 9, além de símbolos matemáticos e pode ser usado pelas crianças com ou sem deficiência, com o intuito de incentivar o aprendizado e inclusão.

Mais recentemente, em conjunto com o Instituto Mauricio de Sousa, a Fundação lançou a coleção “Dorinha pelo Brasil – Inclusão sem barreiras”, com cinco mil kits impressos contendo livros em braille e audiolivros. A coleção é protagonizada por Dorinha, a primeira personagem com deficiência visual da Turma da Mônica, que embarca em uma viagem pelo Brasil para ensinar inclusão e acessibilidade.

De valor imensurável para o Brasil, a Fundação Dorina mantém ainda a maior gráfica braille da América Latina em capacidade de produção.

“A Fundação Dorina nasceu com o propósito de incentivar a produção de materiais em braille para pessoas cegas ou com baixa visão. Missão que segue até hoje. Atualmente, temos um dos maiores parques gráficos braille em capacidade produtiva da América Latina, e somos referência na produção e distribuição de materiais nesse formato acessível. Nossas produções chegam ao Brasil todo e estimulam a leitura e o aprendizado de crianças e adultos” – Alexandre Munck, Superintendente Executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Formado em Comunicação Social (2006), foi repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. É consultor em inclusão, ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, e redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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