Os pseudodoutores e as epidemias diagnósticas

Criança em idade escolar, de costas para a lousa da sala de aula, com as mãos cabeça e os olhos apertados. Usa camiseta branca. Os pseudodoutores e as epidemias diagnósticas.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Foto colorida de criança em idade escolar, de costas para a lousa da sala de aula. Ela está com as mãos cabeça e os olhos apertados, usando camiseta branca. (Créditos: Imagem de jcomp no Freepik)

A importância da avaliação multiprofissional para a saúde mental de nossas crianças

Uma das coisas legais de ser professora é que estamos sempre em busca de novos conhecimentos. Particularmente tenho predileção pela Educação Especial, especificamente pelo TEA (Transtorno do Espectro do Autismo). Estou sempre lendo, pesquisando e estudando sobre este assunto.

Os últimos livros que li me fizeram refletir bastante sobre o meu papel como mãe e como professora.

No livro “A vida com… Autismo”, do Dr. Leonardo Maranhão, li relatos que me emocionaram muito devido às semelhanças entre as famílias descritas e a minha família. Ao mesmo tempo, me sensibilizei pelas dificuldades enfrentadas por eles, pela falta de apoio, pelo despreparo dos profissionais que deveriam acolhê-los e orientá-los. Mas de um modo especial, ler este livro me deu a esperança de que meus filhos podem sim ter um futuro promissor, independente das dificuldades e limitações que eles têm hoje.

O livro (que na verdade é um documento do Ministério da Saúde) “Linha de cuidado para a atenção às pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde “, fala do atendimento às pessoas no espectro do ponto de vista da saúde e bem estar, entretanto um trecho específico me chamou a atenção:

A banalização do diagnóstico psiquiátrico também tem se tornado um vício corriqueiro nos tempos atuais. Contudo, é importante destacar que o uso apropriado dos critérios operacionais requer uma formação clínica aprofundada e um acúmulo significativo de experiência profissional (GUILLBERG, 2011). A ilusão de simplicidade e objetividade, favorecida pela mídia, tem propiciado que pacientes, familiares, leigos em geral e profissionais de outras áreas, como os da educação, usem as classificações psiquiátricas como se fossem meras listas de sintomas que devem ser marcadas e pontuadas para se chegar a um “diagnóstico”. Esse uso distorcido das classificações psiquiátricas gera um número enorme de diagnósticos falso-positivo e tem sido uma das causas das frequentes “epidemias” diagnósticas da atualidade.

Quando meu filho mais velho estava no CEI – Centro de Educação Infantil, foi uma professora que nos atentou para o seu desenvolvimento atípico. De forma sensível e delicada ela nos orientou que seria interessante fazer uma avaliação. Foi esse “olhar atento” que nos levou ao primeiro passo em direção ao diagnóstico de Autismo do Pedro.

Infelizmente existem sim professores e educadores que usam de suas especializações para tentar diagnosticar seus alunos, quando na verdade deveriam usar esse conhecimento para aguçar seu olhar, acolher a família e prestar um atendimento educacional verdadeiramente inclusivo ao aluno.

Confesso que também já cometi esse erro, querer dar um diagnóstico para o aluno. E quando li este trecho do livro foi como um puxão de orelha, como se o universo estivesse me mandando um recado. E eu ouvi. O que as crianças/adolescentes precisam de seus educadores é: cuidado, orientação e respeito, não um rótulo.

Eu acredito na inclusão social e para isso precisamos de agentes transformadores que saibam seu papel na sociedade, e que trabalhem para que essa transformação aconteça.

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Renata Ubugata

Pedagoga, pós-graduada em Educação Infantil. Atualmente estudante de Educação Especial e Mãe apaixonada de dois meninos autistas.

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