A eficácia do espaço sensorial no desenvolvimento da criança autista

Foto com duas crianças em um quarto transformado em espaço sensorial para o desenvolvimento da criança autista.
Estratégia para o desenvolvimento da criança autista, um espaço sensorial pode melhorar a comunicação e interação social. (Foto: Divulgação)

Ambientes sensoriais estimulam crianças com TEA a desenvolver habilidades cognitivas, motoras e sociais.

Comemorando o Dia das Crianças, que tal pensarmos em como tornar o dia a dia dos nossos pequenos mais enriquecedor e estimulante? Especialmente quando se trata de crianças no espectro do autismo, a criação de um ambiente adequado pode fazer toda a diferença em seu desenvolvimento. Neste artigo, vamos entender como isso funciona e como você pode implementar essa estratégia em casa.

Neste artigo

Boa leitura!

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O espectro autista no atual contexto

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode resultar em desafios de comunicação, interação social e déficits na reciprocidade sócio emocional. O espaço sensorial surge como uma estratégia eficaz para o desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ajudando a melhorar a comunicação e interação social. Mas como isso funciona? E como você pode criar um espaço sensorial para o seu filho? Vamos descobrir.

O relatório do Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento , publicado em março deste ano pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), apontou que 1 em cada 36 crianças de 8 anos é identificada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa estatística indica um crescimento de 22% em comparação com a pesquisa anterior, divulgada em dezembro de 2021, a qual estimava que 1 em cada 44 crianças era diagnosticada com TEA em 2018.

Ao aplicar essa prevalência ao contexto brasileiro, é possível estimar o número de crianças com TEA no país. Com base nos dados do IBGE de abril de 2023, que apontam uma população aproximada de 215.902.000 habitantes, a divisão desse valor por 36 e a multiplicação pelo percentual identificado nos EUA (2,777…%) resultam em cerca de 5.997.222 pessoas vivendo no Espectro Autista.

Conforme descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode resultar em desafios de comunicação, interação social e déficits na reciprocidade sócio emocional. Crianças com TEA podem demonstrar mudanças e atrasos em diversos aspectos do desenvolvimento, ter dificuldades em participar de brincadeiras imaginativas e exibir rigidez cognitiva.

Por que presentear a criança com um espaço sensorial?

A psiquiatra especialista em infância e adolescência Danielle H. Admoni — supervisora na residência da Unifesp/EPM e reconhecida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) –, destaca que estamos acostumados a processar múltiplas percepções sensoriais simultaneamente desde cedo. No entanto, para crianças no espectro autista, isso pode resultar em sobrecarga sensorial.

Imagem de um quarto transformado em espaço sensorial com uma cabana de pano no centro e uma criança autista sentada no chão.
Descrição alternativa #PraGeralVer: Imagem de um quarto transformado em espaço sensorial com uma cabana de pano no centro. A cabana dé amarela e tem uma entrada em um dos lados. A criança está sentada no chão na frente da cabana de costas para a câmera. O quarto está decorado com pôsteres coloridos, brinquedos e móveis. Há uma estante no lado direito do quarto e uma janela com uma cortina branca no lado esquerdo. O chão está coberto com um tapete bege e há almofadas azuis e amarelas espalhadas pelo quarto. (Foto: Midjourney / ChatPCD)

Admoni explica que “uma criança com TEA enfrenta dificuldades em processar estímulos sensoriais, seja por hipersensibilidade ou hipossensibilidade. Muitas vezes, crises de choro são resultado da imaturidade do sistema neurológico em lidar com determinadas situações. No caso das crises sensoriais, o choro é um sinal de sobrecarga, ou seja, muitos estímulos, ao mesmo tempo, atordoam a criança com TEA.”

Por isso, Admoni enfatiza a importância de criar um ambiente doméstico especialmente planejado para estimular o desenvolvimento das habilidades da criança. Este espaço também pode servir como um refúgio seguro durante momentos de excesso de estímulos que possam causar desconforto.

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Dicas para criar um ambiente sensorial em casa

Para a criação de um ambiente sensorial adequado, é altamente recomendável a colaboração da pessoa especialista que já tem um histórico de acompanhamento da criança. Esta pessoa terá a habilidade necessária para personalizar o ambiente de acordo com as necessidades individuais da criança. De acordo com a psiquiatra, o passo inicial é identificar um cômodo na residência que seja menos propenso a uma possível sobrecarga de estímulos.

No espaço selecionado, inclua apenas móveis robustos e seguros, evitando itens frágeis ou que possam representar algum risco para a criança. Assim, remova todos os objetos que possam ser perigosos e mantenha apenas uma mesa pequena com duas cadeiras, adequadas para atividades como desenho, escrita, modelagem, pintura e jogos de tabuleiro. A psiquiatra ainda sugere a inclusão de almofadas, redes, bolas, pufes, lousa para uso com canetinha, balanço e prateleira com livros interativos.

Danielle Admoni também aconselha paredes com cores neutras e sem quadros ou cartazes, a não ser que sejam significativos para as atividades realizadas. Pisos confortáveis e de fácil limpeza, como borracha, E.V.A. ou vinil, são especialmente recomendados para o convívio com crianças pequenas, visto que muitas atividades e brincadeiras ocorrerão no chão.

Adicionalmente, ela sugere a instalação de um espelho na parede, acima do piso ou do rodapé. O propósito é incentivar o contato visual indireto com a criança, bem como auxiliar na percepção corporal própria.

“Outra boa dica é criar uma caixa sensorial em que a criança possa colocar as mãos para sentir o que tem dentro, estimulando a imaginação, a coragem, a associação de ideias, a sensibilidade e a memória. Dentro da caixa, podem ser colocados algodões, folhas secas, flanelas, embalagens de presentes e outros tipos de materiais com texturas bem características, como gelado, duro e áspero”.  

Além dos brinquedos que a criança já possui, é possível criar novos, utilizando diversos materiais disponíveis em casa, como caixas de papelão, tecidos, baldes, recipientes e garrafas plásticas.

Imagem de uma criança com autismo no quarto transformado em espaço sensorial.
Descrição alternativa #PraGeralVer: Imagem de uma criança com autismo no quarto transformado em espaço sensorial. A criança está sentada de pernas cruzadas no chão com uma bola azul na frente dela. O quarto está cheio de almofadas coloridas. Há uma estante ao fundo com livros e brinquedos, além de uma janela com luz natural entrando. O clima geral da imagem é alegre. (Foto: Midjourney / ChatPCD)

“Um ponto importante é que os objetos ao redor proporcionem liberdade de explorar e interagir com demais elementos. Todas essas vivências incentivam os sentidos, a percepção de espaço, a criatividade, a capacidade de concentração, o controle das emoções, a coordenação entre a visão e a ação, entre outros benefícios essenciais para o desenvolvimento das crianças com TEA”, finaliza Danielle Admoni.

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Lista de checagem para um espaço sensorial

Aqui estão algumas dicas de materiais de baixo custo e estratégias para criação de um espaço sensorial para crianças autistas em casa:

  1. Colaboração com especialista: Trabalhe com um especialista que já acompanha a criança para personalizar o ambiente de acordo com as necessidades individuais da criança.
  2. Seleção do cômodo: Identifique um cômodo na residência que seja menos propenso a uma possível sobrecarga de estímulos.
  3. Móveis robustos e seguros: Inclua apenas móveis robustos e seguros, evitando itens frágeis ou que possam representar algum risco para a criança.
  4. Mesa e cadeiras: Mantenha apenas uma mesa pequena com duas cadeiras, adequadas para atividades como desenho, escrita, modelagem, pintura e jogos de tabuleiro.
  5. Itens adicionais: Inclua almofadas, redes, bolas, pufes, lousa para uso com canetinha, balanço e prateleira com livros interativos.
  6. Paredes neutras: Prefira paredes com cores neutras e sem quadros ou cartazes, a não ser que sejam significativos para as atividades realizadas.
  7. Pisos confortáveis: Opte por pisos confortáveis e de fácil limpeza, como borracha, E.V.A. ou vinil.
  8. Espelho na parede: Instale um espelho na parede, acima do piso ou do rodapé para incentivar o contato visual indireto com a criança e auxiliar na percepção corporal própria.
  9. Caixa sensorial: Crie uma caixa sensorial com materiais de texturas características como algodões, folhas secas, flanelas, embalagens de presentes etc.
  10. Brinquedos caseiros: Além dos brinquedos que a criança já possui, crie novos utilizando materiais disponíveis em casa, como caixas de papelão, tecidos, baldes, recipientes e garrafas plásticas.
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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Formado em Comunicação Social (2006), foi repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. É consultor em inclusão, ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, e redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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