TDAH em debate: Controvérsias nos tratamentos e diagnósticos

Mulher negra triste sentada e com a mão no rosto. Atrás dela, palavras como TDAH em debate, depressão, controvérsias nos tratamentos e diagnósticos e pontos de interrogação.
Especialistas da Faculdade de Medicina Mackenzie colocam o TDAH em debate e discutem sobre polêmicas nos tratamentos e diagnósticos do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. (Foto: Freepik)

Flexibilização de critérios, autodiagnóstico e redes sociais: Os perigos da busca por identificação sem avaliação médica, da infância à vida adulta.

Desatenção, hiperatividade e impulsividade são características que costumam causar preocupação às mães, pais e educadores, e deve mesmo ser assim. Há uma grande possibilidade desses sintomas conjuntos retratarem o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A dificuldade no aprendizado, entretanto, costuma estar presente, mas não determina o diagnóstico. Transtorno do neurodesenvolvimento, a condição é percebida durante a infância, mais comumente.

Neste artigo

Boa leitura!

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TDAH em debate: Por quê?

Este artigo apresenta considerações acerca de assuntos mais recentes e relevantes do TDAH:

    • Flexibilização de critérios e mudanças no DSM-V: Aumento dos diagnósticos em adultos;
    • Transtorno Bipolar e TDAH: Desafios na diferenciação e diagnóstico preciso;
    • Mudança de diagnóstico na vida adulta: Estudos revelam possibilidades de transtornos afetivos;
    • Medicamentos estimulantes e psicoterapia: O principal método de tratamento em foco;
    • Autodiagnóstico e redes sociais: Os perigos da busca por identificação sem avaliação médica.

A partir da Lei 14.420, sancionada em 2022 , o Brasil passou a dedicar a primeira semana do mês de agosto com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoce do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Atualmente, a medicina descreve três tipos de TDAH: Desatento, Hiperativo e Misto ou Combinado, quando a pessoa possui ambas as características de forma igualmente predominante. Esses termos são utilizados para descrever o principal aspecto de cada paciente com TDAH.

Diagnóstico Multidisciplinar

Há um consenso entre os profissionais que o diagnóstico deve ser feito por meio de uma equipe multidisciplinar. “Composta por profissionais da saúde mental como psicólogo, psiquiatra, neurologista”, alerta a neuropediatra Mariane Wehmuth (FEMPAR), apontando para a existência de testes que avaliam o nível cognitivo e de desatenção para complementar o reconhecimento do transtorno.

Sobretudo, o TDAH ainda enfrenta subnotificação de diagnósticos. Isso acontece devido aos estereótipos estabelecidos pelo senso comum: hiperatividade física, dificuldade de prestar atenção, desconforto em situações que exijam um controle maior de suas emoções, entre outras.

Mascarando o TDAH

De acordo com a neuropediatra, é comum o desenvolvimento de defesa para escamotear as dificuldades.

“Adolescentes e adultos, são mais complicados para identificar o TDAH, porque ao longo da vida eles podem encontrar formas de mascarar (masking) o transtorno a partir de características aprendidas, espelhando-as (mirroring)”, afirma Mariane. 

Além disso, pacientes ainda podem apresentar uma hiperatividade mental quando existe um fluxo de pensamentos muito grande e, por isso, têm dificuldade em prestar atenção em aulas, esperar o outro terminar de falar, frequentemente se esquecem de compromissos e, até mesmo, perdem com frequência objetos em casa, de acordo com a especialista.

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Controvérsias nos tratamentos e diagnósticos

Alguns especialistas, como é o caso do Médico Psiquiatra e Professor da Faculdade Evangélica de Medicina (FEMPAR), Sivan Mauer, acreditam que, apesar do número de TDAHs ter aumentado muito nos últimos anos, podem ter acontecido equívocos nessas avaliações, principalmente de pessoas adultas. Segundo as pesquisas observadas por Mauer, parte desses novos diagnósticos se dão devido à flexibilização dos critérios e modificações no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais.

Até o DSM-III, que foi utilizado como referência até 1993, o TDAH era considerado apenas para a identificação dos casos em crianças. A partir do DSM-V, a 5ª edição do Manual , em 2013, o diagnóstico passou a ser aceito oficialmente para adultos e também houve uma flexibilização nas características para sua determinação. Desde então, se o paciente apresentar 6 dos 9 sintomas, ele já pode ser considerado TDAH.

Mulher negra sorrindo em atendimento com uma profissional de saúde. Atrás delas, sobreposição de palavras como Mudanças de diagnóstico; Riscos do autodiagnóstico; TDAH, controvérsias nos tratamentos e diagnósticos, entre outras.
Descrição alternativa #PraGeralVer: Mulher negra sorrindo em atendimento com uma profissional de saúde. Atrás delas, sobreposição de palavras como Mudanças de diagnóstico; Riscos do autodiagnóstico; TDAH, controvérsias, entre outras. (Foto: Freepik)

Transtorno Bipolar ou TDAH?

O diagnóstico de TDAH em adultos pode ser confundido com outros transtornos que apresentam características parecidas, como o Transtorno Bipolar, defende Mauer. Também conhecido como Transtorno Maníaco-Depressivo, é caracterizado por oscilações de humor e episódios de depressão e euforia (também chamada de “mania”), em que ambos costumam se intercalar.

A tese, de acordo com o especialista, é que o transtorno de humor pode acabar afetando a atenção, assim como a hiperatividade e a impulsividade desse paciente, tendo, portanto, características muito similares ao TDAH e dificultando um diagnóstico preciso.

Mudanças de Diagnóstico na Vida Adulta

Pesquisas mostraram a possibilidade de crianças que foram diagnosticadas com TDAH na infância possam ter uma mudança de diagnóstico para transtornos afetivos. Um estudo realizado durante 15 anos no sul do Brasil analisou 5.249 pessoas da infância até o início da vida-adulta (19 anos) e constatou que parte dos analisados que foram identificadas com TDAH na infância não permaneceram com o diagnóstico na vida adulta, também houve casos em que o paciente não foi diagnosticado na infância, mas apresentou os sintomas já adulto.

Durante a infância, 393 pacientes foram diagnosticados com o TDAH, compondo assim, 8,9% do número total de analisados. Posteriormente, aos 19 anos, cerca de 12% dos indivíduos tiveram um diagnóstico do TDAH na fase adulta, chegando ao número de 492 pacientes.

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Tratamentos e Resultados

O principal método usado no tratamento são os medicamentos estimulantes, como, por exemplo, o metilfenidato, conhecido comumente no Brasil pelo nome Ritalina. “Cerca de 65% das prescrições de medicamentos para pacientes com TDAH possuem o metilfenidato”, lembra Mauer. A psicoterapia também é uma ferramenta importante para o autoconhecimento e desenvolvimento dos pacientes com o TDAH.

Riscos de Autodiagnóstico

Apesar das pesquisas indicarem uma boa melhora nos sintomas relacionados ao TDAH a partir do uso contínuo da medicação, também há uma melhora do desempenho em pessoas não diagnosticadas com TDAH com o uso do Metilfenidato. A prescrição deve ser sempre acompanhada por médico psiquiatra.

Ao navegar nas redes sociais é possível ter acesso a milhares de vídeos que comentam situações comuns para pessoas com o transtorno, além de características, e possuem centenas de comentários de pessoas se “autodiagnosticando”. Apesar disso, apenas médicos psiquiatras, neurologistas e neuropediatras estão autorizados a fazer esse tipo de avaliação, portanto, ao desconfiar que possui o transtorno, é recomendado a procura de uma equipe de profissionais especializada no TDAH.

Sobre a Faculdade Mackenzie  

A Faculdade Presbiteriana Mackenzie é uma instituição de ensino confessional presbiteriana, filantrópica e de perfil comunitário. Comprometida com a formação de profissionais competentes e a produção de conhecimento, a instituição atende às necessidades da sociedade segundo princípios cristãos. O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora e responsável pela gestão administrativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e das Faculdades Presbiterianas Mackenzie em diferentes cidades do país, assim como pelos Colégios Presbiterianos Mackenzie e pelo Hospital Universitário Evangélico Mackenzie Paraná (Curitiba).

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Jornalista Inclusivo

Da Equipe de Redação

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