8 fatos e mitos do autismo que você precisa saber

Homem negro com expressão de dúvidas sobre o TEA e camiseta com símbolo do infinito. Balões de diálogos com as palavras fato e mito. Símbolos de infinito representando a neurodiversidade caem de cima para baixo. Conheça 8 fatos e mitos do autismo.
Representando a neurodiversidade, o símbolo do infinito com cores do arco-íris celebra a diversidade de expressão dentro do TEA. Conheça mais fatos e mitos do autismo. (Foto: Wayhomestudio/Freepik)

Especialista em Neurodesenvolvimento Infantil e técnico no Proadi-SUS esclarece dúvidas sobre o Transtorno do Espectro Autista 

Neste dia 2 de abril, comemora-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para destacar a importância de desmistificar informações errôneas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e promover a inclusão de pessoas autistas em todos os espaços sociais.

Com o aumento de diagnósticos do transtorno, muitas dúvidas ainda cercam a sociedade. Por isso, apresentamos oito fatos e mitos sobre o TEA que é importante conhecer, além de outras informações relevantes sobre o tema.

Neste artigo

Boa leitura!

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O que é o TEA?

O TEA – Transtorno do Espectro Autista é uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento da comunicação social e da interação social. As pessoas com TEA podem apresentar particularidades na comunicação verbal e não verbal, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, o que pode levar a dificuldades no trabalho, na escola e na vida cotidiana.

O TEA é um espectro, o que significa que as pessoas com a condição apresentam uma ampla gama de sintomas e diferentes níveis de comprometimento. Embora o autismo não tenha cura, intervenções precoces e tratamentos podem ajudar as pessoas a melhorar suas habilidades sociais e de comunicação.

Por isso, a conscientização sobre o autismo é essencial para criar uma sociedade mais inclusiva e acessível para todas as pessoas.

8 Fatos e mitos do autismo

Como abril é o mês da conscientização mundial sobre o autismo, confira o que é fato ou mito e tire dúvidas sobre o TEA com o Dr. Thiago Rocha, Psiquiatra da Infância e Adolescência, coordenador do Centro Especializado em Neurodesenvolvimento Infantil (CENI) do Hospital Moinhos de Vento, e responsável técnico de projeto no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS).

1. Casos de autismo aumentaram nos últimos anos

FATO! Não há dúvidas de que há um aumento considerável nos casos de autismo nos últimos anos. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) atinge de 1% a 2% da população mundial e, no Brasil, aproximadamente 2 milhões de pessoas. “Esse crescimento da prevalência do TEA pode estar associado a três fatores principais”, conforme aponta o especialista:

  1. Ampliação do acesso a informações sobre o TEA, com redução de estigma e maior procura por diagnóstico;
  2. Crescimento do número de diagnósticos dos casos mais leves, que até recentemente não eram identificados;
  3. Aumento real do número de casos possivelmente associados à idade materna e paterna mais avançadas e aumento de casos de nascimentos prematuros.

2. Transtorno do Espectro Autista é uma doença

MITO! O Transtorno do Espectro Autista não é uma doença, como muitas pessoas imaginam. Na verdade, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento. O TEA é caracterizado por um desenvolvimento atípico, comportamentos repetitivos e estereotipados, déficits na comunicação e na interação social, além de um repertório restrito de interesses e atividades.

Sem uma definição do diagnóstico, e consequentemente sem a ajuda e o tratamento necessários para viver melhor com a condição, pessoas dentro do espectro passam anos, e até décadas, lidando com dificuldades que não sabem o que é, sentindo-se deslocados e “diferentes”, impactando seu desenvolvimento. Quando finalmente recebem o diagnóstico, sentem-se aliviados e passam a lidar com suas características de forma mais leve.

3.  autismo pode ser diagnosticado em bebês

FATO! O Transtorno do Espectro Autista geralmente apresenta sintomas antes dos 3 anos de idade, porém, alguns pais podem identificar os sinais de autismo ainda antes, quando a criança tem entre 9 e 12 meses, dependendo da gravidade dos sintomas. Inclusive, o Ministério da Saúde recomenda a realização de perguntas de rastreamento em todas as crianças entre 16 e 30 meses, por meio da Caderneta de Saúde da Criança, para identificar casos suspeitos de forma precoce.

No entanto, de maneira geral, o diagnóstico de TEA no Brasil é tardio. Esse atraso pode gerar consequências negativas para o desenvolvimento da criança, já que ela não recebe a estimulação adequada em períodos sensíveis do neurodesenvolvimento.

Esse atraso, de acordo com o especialista Thiago Rocha, pode gerar repercussões negativas para o desenvolvimento da criança, por não receber estimulação adequada em períodos sensíveis do neurodesenvolvimento.

“A falta de informações adequadas e dificuldades de acesso ao sistema de saúde são causas comuns para o diagnóstico tardio. A resistência ao diagnóstico e o estigma em torno de condições neurodivergentes também impedem que algumas crianças sejam levadas para avaliação e diagnosticadas”, aponta o psiquiatra.

4. Vacinas podem causar autismo

MITO! Segundo a OMS, não há nenhuma comprovação científica que ligue o autismo a nenhuma vacina. Essa relação surgiu a partir de um estudo realizado em 1998, que depois se mostrou fraudulento, no qual os resultados mostravam que vacinas para quadros virais como sarampo, caxumba ou rubéola aumentariam o risco do desenvolvimento de TEA nas crianças.

O estudo que ligava o autismo às vacinas foi conduzido pelo Dr. Andrew Wakefield e mais tarde foi considerado fraudulento. As investigações provaram que os dados foram manipulados e o estudo foi retratado pela revista científica que o publicou. Dr. Wakefield também teve sua licença médica revogada. Desde então, vários estudos refutaram qualquer ligação entre vacinas e autismo.

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5. Autismo pode ser hereditário

FATO! Diversas pesquisas já foram realizadas para buscar descobrir as possíveis causas por trás do desenvolvimento do TEA. Os estudos apontam uma forte influência genética nos casos, onde diferentes genes parecem contribuir para a ocorrência do diagnóstico.

“Além disso, fatores ambientais também podem influenciar, em menor grau, o risco do desenvolvimento do TEA. A explicação mais aceita no momento é uma contribuição de múltiplos fatores, numa combinação de fatores genéticos e ambientais”, explica Thiago

6. Todas as crianças autistas são agressivas

MITO! Essa inverdade de que todas as crianças autistas são agressivas é um equívoco comum associado ao Transtorno do Espectro Autista. É importante destacar que a agressividade não é uma característica inerente a todas as pessoas com autismo.

De fato, algumas crianças com autismo podem experimentar momentos de desconforto e, consequentemente, apresentar comportamentos agressivos. No entanto, isso não significa que todas as crianças autistas são agressivas. Algumas podem manifestar suas insatisfações de outras formas, como através da comunicação não verbal ou verbal.

É fundamental lembrar que o comportamento agressivo pode ser uma resposta a fatores externos, como ruído excessivo, luzes fortes, mudanças repentinas no ambiente ou situações que geram estresse e ansiedade. Por isso, é importante compreender as necessidades individuais de cada criança com autismo e proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para elas.

Desmistificar o mito da agressividade associada aos autistas é importante para evitar a discriminação e o preconceito. Cada criança com autismo é única e merece ser tratada com respeito e compreensão.

7. Medicamentos na gravidez aumentam o risco de autismo

FATO! Durante a gestação, alguns fatores podem aumentar o risco de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um fato comprovado por diversos estudos é que o uso de medicamentos como o ácido valpróico, que é comumente utilizado para tratar epilepsia e transtorno bipolar, pode aumentar as chances de uma criança nascer com autismo.

Portanto, é importante que as mulheres grávidas evitem a automedicação e procurem orientação médica antes de iniciar qualquer tratamento com medicamentos, a fim de minimizar os riscos à saúde do feto.

8. Pessoas autistas não conseguem trabalhar

MITO! Hoje, uma pessoa autista ter carreira já é uma realidade em diversas empresas, que se conscientizaram para incentivar e absorver o melhor que essas pessoas têm a oferecer como profissionais. Além disso, a inclusão de autistas no mercado de trabalho é garantida pela mesma lei que determina a participação mínima para pessoas com qualquer deficiência.

Foi a Lei 12.764/2012  — também conhecida como Lei Berenice Piana — que abriu as portas para o reconhecimento do Autismo dentro do rol das demais deficiências. Desde então, o autismo tem sido muito mais discutido e diagnosticado no país.

Sobre o Proadi-SUS

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, Proadi-SUS, foi criado em 2009 com o propósito de apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada demandados pelo Ministério da Saúde.

O programa é composto por seis hospitais sem fins lucrativos, que fornecem sua expertise para atender as necessidades do SUS. Os projetos do PROADI-SUS contribuem para a redução de filas de espera, a qualificação de profissionais, pesquisas de interesse da saúde pública, gestão do cuidado apoiada por inteligência artificial e melhoria da gestão de hospitais públicos e filantrópicos em todo o país. Mais informações no site proadi-sus.org.br .

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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Formado em Comunicação Social (2006), foi repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. É consultor em inclusão, ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, e redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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