“Apesar de estarem incluídos no público-alvo da educação especial, muitos estudantes ainda estão invisíveis perante as escolas, famílias e sociedade”, aponta a especialista em educação inclusiva Fabiane Favarelli Navega
Em 10 de agosto é celebrado o Dia Internacional da Superdotação. Segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013 ↗), a condição é caracterizada pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades, com alto desempenho nas diversas áreas das atividades humanas como as acadêmicas, intelectual, liderança, psicomotricidade e artes, demonstradas desde a infância.
Pessoas em idade escolar com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) fazem parte do público da Educação Especial e têm direito a um atendimento especializado – fundamental para identificar e atender as necessidades desses alunos, bem como estimular seu desenvolvimento, interesses e aptidões.
Boa leitura!
Por que celebrar o Dia da Superdotação?
Especialista em Educação Inclusiva há mais de duas décadas, a psicopedagoga Fabiane Favarelli Navega explica que o Dia da Superdotação precisa ser amplamente divulgado para compreendermos quem são esses alunos com Altas Habilidades/Superdotação.
“Apesar destes estudantes estarem incluídos no público-alvo da educação especial, muitos ainda se encontram invisíveis perante as escolas, famílias e sociedade”, alerta a psicopedagoga.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3,5 a 5% da população possui tais capacidades, no entanto, de acordo com os resultados apresentados pelo Ministério da Educação (MEC) em 2020, apenas 24.424 estudantes constam cadastrados pelos Núcleos de Atendimento às Altas Habilidades/Superdotação (NAAHSD).
> Confira o resultado do Censo Escolar 2020 divulgado pelo MEC ↗ (arquivo em PDF).
Mitos Da Superdotação no Brasil
Mas por que um número tão baixo? Para Fabiane, isso está relacionado a falta de identificação pelas instituições escolares. Segundo ela, mitos e ideias equivocadas sobre o assunto impedem a identificação e o atendimento a esse público. Ela cita exemplos como: “a superdotação é um fenômeno raro”, “estudantes com altas habilidades não precisam de apoio pedagógico, aprendem sozinhas”, “essa criança é chata, pergunta o tempo todo” e “superdotados são todos gênios”, entre outros.
Idealizadora do livro Pessoas e dEficiência: Diálogos Interdisciplinares Inclusivos, Fabiane explica que é necessário compreender o que é ser uma pessoa com altas habilidades, para que possamos atender suas necessidades e habilidades, seja ela acadêmica, emocional ou social. “Segundo Joseph Renzulli, um dos mais importantes teóricos no assunto, a habilidade acima da média, criatividade e motivação compõe a personalidade desses indivíduos. Ele aponta ainda que existem dois tipos de comportamentos de Superdotados, os acadêmicos e os criativos-produtivos”, ensina a especialista.
A importância de preparar profissionais
Investir no preparo das instituições garantirá que os direitos educacionais desses estudantes sejam cumpridos e a oferta de atendimento seja coerente com as suas habilidades. Dentro do contexto escolar o atendimento especializado deve suplementar a sua aprendizagem, por meio do enriquecimento intracurricular e direcionamento aos seus interesses específicos.
Além do alerta para o baixo índice de identificação desses indivíduos, a profissional afirma que é necessário rever a formação dos estudantes nos cursos de Pedagogia e também a formação continuada desse educador para desmistificar esses mitos, identificar esses estudantes e atender suas necessidades.
“Devemos oferecer todo o suporte educacional, emocional e social para que estudantes com Altas Habilidades e Superdotação possam se desenvolver plenamente. Considerar tais capacidades é planear um futuro brilhante para nossa sociedade, é valorizar cada ser em suas potencialidades, almejando futuras descobertas nas áreas da ciência, tecnologia e muitas outras. Além de tudo, é fazer prosperar emocionalmente essas crianças em sua satisfação e realização pessoal”, completa.
Como é a reação de professoras(es) diante dessas alunas(os)?
Todo educador traz para sua prática pedagógica as vivências e crenças que aprendeu ao longa de sua trajetória. Portanto, as ideias e concepções que ele tem sobre altas habilidades/superdotação influenciarão na forma de compreender, reconhecer e atender esses estudantes. Muitos podem reagir com medo, estranheza, insegurança, e até não reconhecer suas habilidades. Estudantes superdotados quando não têm suas necessidades atendidas, podem manifestar comportamentos inadequados na sala de aula (inquietude, agitação, desinteresse) e esses comportamentos, muitas vezes, chamam mais a atenção do professor do que as suas habilidades, no entanto, é comum esses estudantes serem encaminhados para médicos e avaliações com suspeita de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Sobre Fabiane Favarelli Navega
Especialista em Superdotação, Fabiane Favarelli Navega é professora de ensino superior no Centro Universitário de Paulínia (UNIFACP) e Mestranda do Programa de pós-graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação, na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.
Além do livro ‘Pessoas e dEficiência: Diálogos Interdisciplinares Inclusivos’, que pode ser adquirido neste link ↗, Fabiane deve lançar em outro a obra ‘Inclusão: Construindo o Futuro na Transformação do Presente’. “Traremos um conteúdo muito rico para transformar as ações e desconstruir nosso capacitismo”, informou. O livro conta com profissionais de diversas áreas como educação, psicologia, direito, medicina, terapia ocupacional e política, entre outras, abordando assuntos relacionados a inclusão.