Mortes por AVC podem chegar a 10 milhões por ano em 2050

Pessoa internada em hospital e deitada em uma cama. Mortes por AVC devem chegar a 10 milhões por ano em 2050.
Em 2022, o Brasil teve mais de 100 mil mortes por AVC. No primeiro semestre deste ano, já são 50 mil. Mas reconhecer os sintomas pode reduzir os riscos e sequelas da doença. (Foto: Alexander Grey)

Estudo internacional aponta que aumento global do AVC em jovens é desafio para alcançar a Meta de Desenvolvimento Sustentável 3.4.

Ocupando o segundo lugar no ranking de causas de morte em todo o mundo, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) está se tornando cada vez mais frequente entre pessoas com menos de 55 anos. Se este aumento persistir, a Meta 3.4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que visa reduzir em um terço a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis até 2030, pode não ser alcançada. É o que destaca um estudo recentemente publicado na revista The Lancet Neurology , que prevê que as mortes por AVC podem chegar a 10 milhões por ano em 2050.

O alerta acontece no mês do Dia Mundial do AVC (29/10), data que visa a prevenção desta condição, que se caracteriza pela interrupção de fluxo sanguíneo cerebral, por problema nos vasos, artérias ou veias.

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Boa leitura!

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Desafio global crescente e as sequelas da doença

De acordo com o estudo, as mortes por AVC devem aumentar 47%, passando de 6,6 milhões em 2020, para 9,7 milhões em 2050. Somente no Brasil foram 114 mil mortes em 2022. Apenas no primeiro semestre deste ano, 50 mil pessoas já morreram em decorrência da doença, sendo a primeira causa de óbitos no país.

“Nesse cenário de aumento contínuo de casos e alta mortalidade, é essencial saber identificar os sintomas iniciais, já que o tempo é um fator decisivo nesta doença, além de adotar medidas de prevenção, que podem reduzir muito os riscos”, destaca Alessandro Augusto de Sousa, neurologista do Hospital São Luiz Campinas.

Ainda de acordo com os pesquisadores do estudo, a incapacidade resultante de um AVC, que é a terceira causa de incapacidade no mundo, é especialmente substancial em países de baixa e média renda, onde o ritmo de crescimento supera o dos países mais ricos.

“Cerca de 70% das pessoas não retorna ao trabalho após um AVC devido às suas sequelas, e 50% ficam dependentes de outras pessoas no dia a dia”, complementa o neurologista.

Conhecendo os diferentes tipos de AVC

Há dois tipos de Acidente Vascular Cerebral: o isquêmico e o hemorrágico. O isquêmico, que é o mais frequente e corresponde a cerca de 80% de todos os casos, ocorre quando uma artéria cerebral é obstruída, levando a uma falta de oxigênio no tecido cerebral dependente dessa artéria, resultando em danos.

Por outro lado, o AVC hemorrágico acontece quando um vaso sanguíneo se rompe, causando sangramento no tecido cerebral. “Pode ocorrer devido a uma pressão arterial muito alta, aneurisma (dilatação frágil de uma artéria) ou outros problemas nos vasos sanguíneos”, esclarece Wagner Mauad Avelar, neurologista e membro titular da Sociedade Brasileira de AVC.

“Nos dois casos a rapidez no atendimento é fundamental para diminuir a chance de sequelas. Quanto antes for iniciado o tratamento, mais chances temos de salvar os neurônios que estão em sofrimento”, alerta Avelar, que também atua no Hospital São Luiz Campinas.

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Atenção para reconhecer os sintomas e sinais de alerta

  • Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo;
  • Confusão mental;
  • Alteração da fala ou compreensão;
  • Alteração na visão (em um ou ambos os olhos);
  • Alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar;
  • Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente. 

“As principais formas de prevenção do AVC estão relacionadas aos hábitos de vida, como a realização de atividades físicas, alimentação balanceada, controle de fatores de risco como hipertensão, diabetes e colesterol”, alerta Sousa.

A imagem mostra uma sala de hospital com uma paciente deitada em uma cama.
Descrição alternativa #PraGeralVer: A imagem mostra uma sala de hospital com uma paciente deitada em uma cama. A cama de hospital tem um painel de controle ao lado. A sala está equipada com equipamentos médicos, com soro e um monitor. O fundo consiste em um armário. (Foto: Alexander Grey / Unsplash)

A sigla que ajuda na identificação de acasos de AVC

O método SAMU é usado para identificar os sintomas iniciais de um AVC, em quatro passos:

  1. (S) Sorriso: Peça para a pessoa sorrir. Se o sorriso sair torto ou se a boca entortar, pode ser um sinal de AVC.
  2. (A) Abraço: Peça para a pessoa levantar os braços. Se a pessoa tiver alguma dificuldade para levantar um deles ou se, após levantar os dois, um deles cair bruscamente, pode ser um sinal de AVC.
  3. (M) Mensagem: Peça para a pessoa repetir uma frase ou uma mensagem qualquer. Se a pessoa não conseguir compreender ou não conseguir repetir a frase ou mensagem, pode ser um sinal de AVC.
  4. (U) Urgência: Se houver qualquer um desses sinais, chame imediatamente o serviço de urgência.

Essa técnica é simples e pode ser aplicada por qualquer pessoa quando houver suspeita de um AVC. É importante lembrar que o tempo é crucial no tratamento do AVC, portanto, quanto mais rápido o socorro for acionado, melhor será o prognóstico.

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Após o aparecimento dos sintomas o paciente tem até quatro horas e meia para iniciar o tratamento, que pode ser realizado com uso de medicamentos que ajudam a dissolver o coágulo; procedimento de cateterismo, para desobstruir a artéria por meio de cateter; cirurgias para conter o sangramento e aliviar a pressão intracraniana, entre outros.

“Caso identifique algum dessas condições anote o horário exato do início dos sintomas e acione imediatamente o serviço de emergência. Em casos de AVC é essencial encaminhar o paciente para uma unidade com estrutura adequada, pois o tempo é essencial”, enfatiza Avelar.

Maneiras de reduzir as mortes por AVC: Papel do governo

Os governos têm um papel crucial na redução dos casos e das mortes por AVC. Aqui estão algumas ações que a sociedade deve cobrar para que sejam tomadas pelos governos:

  1. Educação em saúde: Promover a educação em saúde desde cedo e continuamente, focando na prevenção e escolhas de estilo de vida saudável1 .
  2. Serviços médicos eficazes: Fornecer os medicamentos e terapias mais eficazes sem disparidades1 .
  3. Políticas ambientais: Implementar políticas ambientais em escolas, locais de trabalho e comunidades que promovam boa nutrição, atividade física regular e abstinência do tabagismo1 .
  4. Intervenções para reduzir o risco de AVC: Implementar intervenções para reduzir o risco de AVC, melhorando a pressão arterial, a dieta e a atividade física das pessoas2 .
  5. Conscientização sobre os sinais e sintomas do AVC: Aumentar a conscientização sobre os sinais e sintomas do AVC e melhorar o gerenciamento do AVC pode ajudar a reduzir a morte e a incapacidade relacionadas ao AVC2 .
  6. Implementação de leis de controle do tabaco: Como no caso do governo nigeriano, que está implementando a Lei Nacional de Controle do Tabaco (NTC Act) 2015 para combater os fatores de risco responsáveis3 .
  7. Avaliação dos principais fatores de risco: Avaliar os principais fatores de risco que levam à morte precoce, incapacidade e desigualdade na saúde: consumo de álcool, níveis de colesterol, pressão arterial, obesidade, falta de atividade física e tabagismo4 .

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Cuidados para evitar o risco de AVC: Papel das pessoas

Assim como os governos, a sociedade também tem um papel importante na redução dos casos e das mortes por AVC. Aqui estão algumas ações que as pessoas podem tomar:

Mudanças no estilo de vida: Adotar um estilo de vida saudável pode ajudar a prevenir o AVC e reduzir significativamente o risco de outras doenças, como demência, doenças cardíacas e diabetes1 .

Perda de peso: A perda de peso pode ajudar a reduzir o risco de AVC2 .

Não fumar: O tabagismo é um grande fator de risco para o AVC. Parar de fumar pode diminuir o risco de um AVC2 .

Ingestão moderada de álcool: Beber muito álcool pode aumentar a pressão arterial, o que também aumenta o risco de um AVC2 .

Cuidados médicos regulares: Obter cuidados médicos regulares pode ajudar a prevenir o AVC1 .

Reabilitação pós-AVC: A reabilitação pós-AVC é crucial para a recuperação. A reorganização neural é o principal motor da recuperação funcional após um AVC3 .

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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Formado em Comunicação Social (2006), foi repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. É consultor em inclusão, ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, e redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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