Documentário Digitando com um dedo: O legado silencioso de Emílio Figueira à Inclusão de pessoas com deficiência no Brasil; Atos Três e Quatro
BASEADO NO TEXTO DE DEISE TOMAZIN BARBOZA*
Nota do editor:
Emílio Figueira utiliza a cannabis medicinal há mais de um ano e publicou um vídeo sobre essa experiência. Em seu depoimento, ele fala como é ter mais de 50 anos de idade e paralisia cerebral em um país que desconhece as consequências do envelhecimento da pessoa com deficiência. Ele utiliza os óleos de THC e CDB e os recomenda a outras pessoas com as mais variadas deficiências.
O vídeo é resultado do VII Curso sobre Cannabis Medicinal, parceria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Movimento pela Regulamentação da Cannabis Medicinal (MovReCam ↗), Instituto Jurema e a Sociedade Brasileira de Estudo da Cannabis Sativa – SBEC. Assista ao final do texto.
*DEISE TOMAZIN BARBOSA – Licenciada em Matemática e Pedagogia, especialista em Tecnologias Assistivas e Deficiências e mestre em Deficiências e Psicanálise. Gestora no Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Boa leitura!
Especial Emílio Figueira – Parte 2
Ato Três: Pessoas com Deficiência e Comunicação Social
Emílio trocava muitas correspondências com pessoas do Movimento e pesquisadores da área. Foi de onde veio a sua primeira grande influência, ao conhecer o antropólogo João Baptista Cintra Ribas, o qual o orientou amigavelmente por muitos trabalhos.
Em seguida, Figueira conheceria uma influência ainda maior, o assistente social Romeu Kazumi Sassaki ↗ que, antenado com tudo o que acontecia lá fora, traduzia e trazia para o Brasil todas as tendências e conceitos revolucionários referentes às pessoas com deficiência.
Nesse período, Emílio, já como pesquisador-bolsista do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Anomalias Crânio-Faciais (Centrinho-USP/Bauru), realizou sua primeira grande linha de pesquisa intitulada “Deficiência e Comunicação Social”. Nela, Figueira defendia a importância da normalização da imagem dessas pessoas nos meios de comunicação de massa, assim como a necessidade de surgirem mais publicações alternativas, focando todo o universo que as envolviam. Para o pesquisador, quanto mais informações veiculadas de forma correta, mais naturalmente ocorreria a inclusão em todos os níveis.
Em sete anos que Emílio Figueira permaneceu no Centrinho, produziu seis monografias de especializações, inclusive sobre a imagem das pessoas com deficiência na literatura infantojuvenil e publicou mais de trinta artigos científicos no Brasil e exterior.
Surgiu a internet, permitindo ao Emílio ampliar consideravelmente o alcance desse jornalismo especializado, escrevendo colunas para diversos blogs de comunicação de massa, exemplo a Globo.com, além dele mesmo criar sites e blogs temáticos. E, com o advento do computador e estudando computação gráfica, Figueira ajudou entidades a criarem publicações alternativas.
Iniciaria sua segunda linha de pesquisa, estudando o que intitulou de “Arte e Deficiência”, sobretudo dentro da história da arte, o que lhe rendeu novos artigos publicados em revistas especializadas e livros.
E de suas participações em projetos artísticos, o mais significante foi como ator de “Olhos de Dentro”, grupo teatral inclusivo que mescla pessoas com e sem deficiências há duas décadas, tendo à frente a atriz e diretora Nina Mancin, esta narradora que vos fala!
E dentre outras participações artísticas, Emílio Figueira participou de três exposições fotográficas sobre crianças com deficiência, escrevendo textos que acompanhavam as fotos de sua amiga, a fotógrafa Giselle Bohnen.
Ato Quatro: O conceito de inclusão e a educação inclusiva
Ainda na segunda metade dos anos 1990, o professor Romeu Sassaki apresentou-lhe ao conceito de Inclusão. A produção intelectual de Emílio Figueira voltada às questões das pessoas com deficiência passou a ser toda pautada por ela a partir dali.
Ao resolver cursar psicologia, Emílio abriria horizontes para novas linhas de pesquisas. Ainda na faculdade, estudava e escrevia sobre o que ele chamava de “Arte e Loucura” e de como o fazer artístico poderia ajudar na saúde mental. Estudo que lhe rendeu vários artigos e dois livros.
O importante mesmo, foi que, motivado pela memória da psicóloga uspiana Lígia Assupção Amaral, sua amiga da época da Revista Integração e que havia falecido na mesma semana em que ele prestou o vestibular, Figueira começou a estudar as relações entre psicologia e pessoas com deficiência, produzindo mais de cem textos, quatro livros. Linha de pesquisa que ele mantém até os dias atuais.
Foi a partir de seu mestrado em Educação Inclusiva que Emílio iniciou sua grande jornada, escrevendo vários textos de apoios didáticos, treinamentos. Viajou para várias partes do país para palestras, onde devido a sua dificuldade de dicção por causa da paralisia cerebral, montava suas apresentações em vídeo e se fazia ser entendido.
Teve cursos online em sites educacionais, além de montar os seus. Exemplo, foi um curso de Educação Inclusiva premiado pelo Memorial da Inclusão, que Emílio ofereceu por três anos gratuitamente e ajudou a treinar mais de 23 mil educadores no Brasil e exterior. Principalmente nas regiões norte e nordeste, onde sua obra e/ou história de vida tem sido referencial teórico para vários trabalhos e dissertações acadêmicas.
Fazendo inúmeros cursos e formações, Emílio sempre aplicou esses conhecimentos ao mundo das pessoas com deficiência. Outra grande influência em suas pesquisas e escritas, foi a obra “A Epopeia Ignorada” de Otto Marques da Silva, pioneiro brasileiro em reabilitação profissional e seu amigo desde os anos 1980. Dentre outros exemplos dessa influência, foi o seu segundo doutorado que, no campo da teologia, focou a história do caminhar da pessoa com deficiência desde o início da Bíblia e ao longo de todo o cristianismo.
E dentre suas obras, o livro “Caminhando em Silêncio”, que em sua quarta edição passou a se chamar “As pessoas com deficiência na história do Brasil – Uma Trajetória de Silêncios e Gritos”, é considerado por ele seu feito mais importante na área da inclusão.
Assista ao vídeo com depoimento Emílio Figueira
Sobre o autor
Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente.
Como escritor, Emílio é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de setenta títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Roteiros e projetos audiovisuais.
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