Do BBB 22 à vida real: A gordofobia além da estética

Arte com a logo do programa de TV Big Brother Brasil e fotos do artista Tiago Abravanel, três delas vestindo só uma sunga, ilustrando a gordofobia além da estética.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Arte com plano de fundo colorido e fotografias ilustrando “a gordofobia além da estética”. No canto esquerdo superior, sobreposição da logo “Big Brother Brasil”. No centro da arte está o participante Tiago Abravanel, homem branco, calvo com barba e bigode pretos. Usa óculos de grau, camisa escura com desenhos de bananas e calça clara. Está sorrindo, com a mão esquerda no bolsa e fazendo o sinal de paz e amor. Além dessa, há mais três fotografias do Tiago, dentro da casa do BBB, vestindo apenas uma sunga de banho colorida. (Fotos: Reprodução/Globo. Créditos: Edição JI)

Psicóloga Deise Moraes Saluti explica como a gordofobia pode afetar a saúde mental, o porquê das pessoas cometerem esse preconceito e como lidar com ele

Não foi apenas no Big Brother Brasil 22 que as pessoas puderam ver relatos sobre gordofobia, onde o participante Tiago Abravanel contou que a obesidade vai além da estética, pois também está no cotidiano, quando não é possível passar em catracas ou o cinto do avião não fecha, entre outras inúmeras situações do dia a dia.

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No Brasil, estamos falando de ao menos 41 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), que constatou a obesidade em uma de cada quatro pessoas com 18 anos ou mais.

Também conhecida como Fat-Shaming, a gordofobia, assim como o capacitismo e outros tipos de preconceito, afeta drasticamente a saúde mental das vítimas. Para a psicóloga e neuropsicopedagoga Deise Moraes Saluti, falando de forma objetiva, se trata da fobia de pessoas gordas:

“Ou seja, pessoas sem empatia costumam prejudicar outras pessoas para se afirmarem ou ganhar população. Muito encontrado nos colégios antigamente, hoje é vista principalmente entre alunos de 5ª a 8ª série onde as crianças, para construírem suas turminhas, riem e zombam de qualquer pessoa por qualquer tipo de diferença entre o grupo”.  

Ela ressalta que, como qualquer outro tipo de preconceito, pode causar diversos tipos de transtornos ou, muitas vezes, traumas que podem ser irreversíveis, pois as pessoas que sofrem o preconceito podem tirar a própria vida, acreditando que viver não tem mais sentido.

“Para as pessoas que possuem a forma física acima de 25Kg/m² ainda são consideradas com sobrepeso, porém, acima de 30kg/m² já será considerado obeso e, para os preconceituosos, o fator determinante é afetar psicologicamente as pessoas com essas características e, em muitos casos, conseguem. Em outras situações, muitas pessoas obesas são mais felizes que talvez alguém com uma estrutura física magra”, pontua.

Foto colorida da psicóloga Deise Moraes Saluti, mulher de pele branca com cabelos longos castanhos claros.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Foto colorida, em ambiente interno, da psicóloga e neuropsicopedagoga Deise Moraes Saluti. Ela é uma mulher de pele branca com cabelos longos castanhos claros. Está sorrindo, usa colar com pedras azuis e as unhas pintadas no mesmo tom do colar. (Foto: Divulgação. Créditos: Assessoria de Imprensa)

O que leva uma pessoa a praticar gordofobia?

Deise explica que pessoas com baixa autoestima tendem a ofender e tentar prejudicar psicologicamente o outro justamente para aliviar a dor emocional que sente e, dessa forma, inutilizam outras pessoas para se sentirem bem. 

No nosso País a prática ainda não é considerada crime, porém, a vítima pode denunciar por injúria e danos morais, então, juntar qualquer tipo de prova do ocorrido pode ser útil no tribunal, caso haja um possível processo”, lembra.

Para a profissional, nos dias de hoje a obesidade deixou de fazer parte da estética e é tratada como doença multifatorial, ou seja, ligada a fatores genéticos, metabólicos, sociais, ambientais e psicológicos do indivíduo.

“A maior preocupação de médicos e especialistas em obesidade é que os pacientes chegam sempre carregando muita culpa, que tudo ‘acontece somente por culpa dele’ e todos nós sabemos os fatores negativos que podem causar”, realça Deise.

Três fotos do artista Tiago Abravanel, vestido com sunga de banho colorida. Descrição detalhada na legenda.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Arte com três fotos do Tiago Abravanel, no programa BBB 22. Ele é branco, calvo e usa barba e bigode pretos. À esquerda, Tiago está de frente e com a mão próxima à boca, fumando. Na foto meio ele está caminhando em área externa da casa. Na última imagem, está de perfil e prestes a acender o cigarro. Nas três imagens ele veste apenas uma sunga de banho, nas cores do arco-íris, que representa a bandeira LGBTQIA+. (Fotos: Reprodução/Globo. Créditos: Edição JI)

Segundo a psicóloga, em todos os casos de sobrepeso, obesidade ou obesidade mórbida, a chegada ao consultório está sempre ligada a alguma infelicidade, pois quando o paciente não se aceita ou necessita de cuidados médicos, é porque atingiu seu limite. Entretanto, não é critério de tristeza e sim um dos fatores ou gatilhos e, claro, como qualquer tipo de tristeza, precisa ser tratada. 

“Indico a qualquer pessoa que se sente de maneira culposa ou constrangedora a buscar um profissional da saúde mental, caso contrário, Tiago Abravanel está corretíssimo: achar que uma pessoa gorda não tem saúde é, além de indiscreto, uma grande ignorância”, finaliza.

SOBRE DEISE MORAES SALUTI

Deise Moraes Saluti é psicóloga (CRP 06/154356), pós-graduada em Neuropsicopedagogia e Psicologia Infantil, além de especializada em atendimento de adolescentes e adultos. Na literatura, é coordenadora editorial do livro “Mulheres Invisíveis” (2021), da Ed. Conquista, sobre violência doméstica contra a mulher. 

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