Risco de lesão medular por mergulho: Homem saltando de ponta em lago (Imagem: Edição de arte. Foto: Hasin Hayder/Unsplash)
Neurocirurgiã alerta para o aumento de acidentes de mergulho no verão e dá dicas para evitar esta que é a segunda maior causa de lesões na coluna durante a estação
Acidentes de mergulho são a segunda principal causa de lesões medulares no verão entre jovens adultos, segundo estudo do Ministério da Saúde. Além disso, cerca de 96% dos acidentes de mergulho acontecem entre os meses de setembro a maio.
Boa leitura!
Lesão medular por mergulho
Com a chegada da verão, acidentes em piscinas, mar e rios acendem um alerta entre especialistas. Nesta época do ano são registrados os maiores números de lesões que causam a perda de movimentos – como na paraplegia e tetraplegia – e até a morte, durante banhos e mergulhos.
Segundo estudo da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação ↗, o risco de acidentes ao mergulhar está diretamente relacionado ao modo como as pessoas entram na água e o perfil das vítimas. Nove em cada dez pessoas que sofreram acidente ao mergulhar ficaram tetraplégicas e a maioria é do sexo masculino.
Perfil das vítimas
De acordo com a pesquisa da Rede Sarah, a maioria dos pacientes investigados em acidentes de mergulho são adolescentes e jovens adultos do sexo masculino (93,8%), solteiros (69,4%) e residentes em área urbana (64,1%).
O predomínio de vítimas do sexo masculino é característica consensual na literatura especializada. Para a maioria dos pesquisadores que se dedicam ao tema, a explicação está nos aspectos sócio-comportamentais que diferenciam homens e mulheres quanto à exposição a fatores cotidianos de risco e às formas de enfrentamento dos mesmos.
Na pesquisa, a maior incidência isolada de casos de lesões decorrentes de mergulhos ocorreu na faixa de 20 a 29 anos e a maioria dos acidentes ocorreu entre 10 e 29 anos (70,8% dos casos). A idade que os pacientes possuíam na ocasião da lesão variou de 14 a 58 anos – uma idade média de 25,6 anos.
Senso comum e mídia
O estudo aponta ainda que o tema costuma ser tratado pelo senso comum e meios de comunicação “como parte do mesmo fenômeno produtor de lesões e mortes de jovens por Causas Externas”. O jovem é tratado de forma estereotipada, como quem assume conscientemente os riscos dessas atividades.
No caso específico dos mergulhos, a interpretação de risco é associada, em geral, ao consumo de bebida alcoólica e a saltos a partir de grandes alturas, sem avaliação suficiente da profundidade dos mesmos, segundo o texto. No entanto, isso não é observado nos dados da pesquisa, a qual constatou que a maioria dos pacientes investigados:
- não sabia da possibilidade de adquirir lesão medular em um mergulho (72,3%);
- saltou de locais com, no máximo, dois metros de altura (83,5%);
- afirmou não ter ingerido nenhuma quantidade de bebida alcoólica antes de mergulhar (49,1%).
Como evitar a lesão medular por mergulho?
Para garantir a segurança em momentos de lazer, a neurocirurgiã Danielle de Lara, do Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), compartilha algumas dicas de prevenção.
“Conhecer a profundidade do local, principalmente em lugares com pedras, como rios, cachoeiras e o costão do mar é essencial. Além disso, é preciso observar se há salva-vidas por perto, caso não tenha, pedir para familiares ficarem atentos e evitar ir longe ou no fundo”, ensina.
Da mesma forma, a Rede Sarah explica que em áreas como rios e cachoeiras, o nível da água muda ao longo do ano, as pedras se deslocam e surgem bancos de areia. Ao mergulhar onde não há profundidade, a pessoa pode bater a cabeça, a força do impacto é transferida para o pescoço, que é flexível, e fraturar uma ou mais vértebras da coluna.
Em saltos muito altos, mesmo em águas profundas, o peso do corpo é o suficiente para agravar uma fratura do pescoço e expor a pessoa a um grande risco de lesão na medula – “um ferimento que deixará a pessoa imediatamente tetraplégica, sem movimentos de braços nem de pernas”.
Piscinas, bebida alcoólicas e refeição
Piscinas permitem reconhecimento prévio de profundidade, mas Danielle reforça que também é importante observar se o motor está desligado, para evitar problemas de sucção entre outros.
“É simples mas vale ressaltar que é bom evitar saltar de cabeça e ficar atento com saltos em beiradas de piscinas, trampolins. Crianças sempre devem estar supervisionadas por um adulto e não superestime sua capacidade de nadar, caso não saiba nadar, não vá para o fundo”, alerta.
A neurocirurgiã alerta que a ingestão de bebidas alcoólicas e alimentos pesados devem ser evitados antes de entrar na água, como hábitos relevantes para evitar acidentes devido a má digestão, que pode gerar mal-estar, tontura, síncope (perda de consciência rápida), náuseas e vômito.
O que fazer em caso de acidentes de mergulho?
Caso ocorra um acidente, Danielle de Lara orienta que o procedimento a ser feito é checar os sinais vitais – respiração, batimentos cardíacos e nível de consciência.
“Caso a pessoa esteja sonolenta, comece a ficar mole, respondendo pouco, é importante levá-la a um serviço de urgência em hospital. Nesse momento a avaliação médica é de extrema importância, especialmente se houve pancadas na cabeça”.
“Se a criança apresentar dor de cabeça e vômitos também é importante levá-la ao médico o mais rápido possível. No momento do acidente todos querem ajudar, mas é preciso ter muito cuidado, pois a manipulação da pessoa realizada de forma incorreta pode piorar qualquer tipo de lesão”, completa.
Danielle informa os sinais ou sintomas de lesão na coluna após acidente de mergulho, que incluem dor local com eventual irradiação para os membros superiores.
“Podem incluir náuseas, cefaleia (dor de cabeça), tonturas, fraqueza ou incapacidade de mover braços ou pernas. Pode também ocorrer formigamento ou dormência nos membros e lesão na área abaixo da zona atingida. É frequente observar-se também sintomas como estado de consciência alterado, dificuldades respiratórias, perda de controle da bexiga ou do intestino”, conclui.
Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.