Em entrevista sobre iniciativa anunciada no mês mundial de conscientização do Autismo, Luciano Faustinoni explica a relação da IBM Brasil e a Neurodiversidade
Para encerrar o mês em que celebramos o Dia Internacional da Conscientização do Autismo (2 de abril), o JI entrevistou Luciano Faustinoni, Chief Information Officer (CIO) da IBM América Latina, sobre o Grupo de Afinidade de Neurodiversidade, anunciado pela IBM Brasil ↗. Iniciativa interna da empresa, visa a conscientização das variações naturais do cérebro humano dentro da IBM, para “impulsionar as contratações e contribuir para a atualização das políticas e dos processos de gestão”, segundo assessoria de imprensa.
A Neurodiversidade – termo criado em 1998 pela socióloga Judy Singer, se refere às diferenças neurológicas, como o autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA), dispraxia, dislexia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), síndrome de Tourette, entre outras. Falando especificamente do autismo, segundo o IBGE, 85% dos profissionais com TEA estão desempregados no Brasil.
“O engajamento das empresas de forma ampla é fundamental para reduzir a desigualdade”, diz o CIO Luciano Faustinoni. Ele explica que a IBM Brasil tem representatividade relevante, que se destaca globalmente na contratação desses profissionais.
“O mais importante é começar. Dê o primeiro passo!”
Desde 2019, a IBM Brasil promove o Programa de Neurodiversidade com objetivo de incluir e gerar oportunidades para profissionais autistas com síndrome de Asperger. O programa conta com o apoio de uma consultoria especializada na inclusão de autistas no mercado de trabalho. Ela acompanha todo o processo, desde a seleção e capacitação dos profissionais, o apoio às lideranças na inclusão e gestão, além da sensibilização dos times que receberão esses profissionais.
Abrir as portas do mercado de trabalho para pessoas neurodiversas, de acordo com a IBM, vai além da inclusão pela inclusão. “Provoca a discussão de como adequar o ambiente corporativo para acolher esses profissionais, ajudando-os a superarem seus desafios pessoais para que então, eles possam trazer suas perspectivas e habilidades únicas para agregar valor aos negócios, principalmente na área de tecnologia”, informou.
De acordo com o programa, como pontos fortes do espectro autista temos, por exemplo, a atenção a detalhes, alta capacidade de concentração, constância, excelente memória, habilidade visual e honestidade, que colaboram com o desempenho profissional para economizar tempo e reduzir erros no desenvolvimento e gerenciamento das aplicações de software na IBM, além de favorecer o reconhecimento de padrões e testagem mais acurada de códigos.
A IBM tem um compromisso de longa data com diversidade e foi pioneira em iniciativas de inclusão, por acreditar que a diversidade gera inovação, que é um de seus valores. Na IBM Brasil ainda existem mais seis grupos que discutem e debatem a diversidade:
- Afro;
- Mulheres;
- LGBTQI+;
- Pessoas com Deficiência;
- Cross Cultural;
- Worklife Integration.
Confira a entrevista com o padrinho executivo do Grupo de Afinidade de Neurodiversidade, o CIO Luciano Faustinoni, IT Executive – IBM América Latina:
Sobre a relação entre o meio corporativo e a vida dos funcionários, o que de prática, no dia a dia das equipes, vem sendo aplicado nessa iniciativa interna para aumentar a conscientização da neurodiversidade?
Primeiramente, é importante pontuar que a iniciativa privada tem um papel fundamental na transformação da sociedade e ampliação das iniciativas de inclusão. A IBM é um grande exemplo nesta área e inclusão está no DNA da companhia. Em 1935, a IBM criou sua primeira turma para capacitação exclusivamente voltada à formação técnica de mulheres – 30 anos antes dos Estados Unidos aprovarem a lei de equidade de salário entre homens e mulheres.
No dia a dia, trabalhamos muito na criação de uma organização inclusiva para todos. Isto significa repensar todo o nosso ambiente de trabalho de forma a capacitar nossos profissionais, reavaliar as estruturas físicas, acolher a diversidade, aprendendo e melhorando de forma contínua.
Como exemplo e resultado deste trabalho, acabamos de criar o Grupo de Afinidade de Neurodiversidade na IBM Brasil. Um dos principais benefícios deste grupo é expandir o horizonte de conhecimento dos nossos funcionários sobre o tema. Com o grupo, poderemos colocar um foco ainda maior em promover os benefícios da contratação de profissionais neurodiversos, fomentar discussões sobre melhores práticas e assim, servir como um canal direto de acolhimento dos profissionais neurodiversos.
Além da atualização das políticas e processos de gestão, como esse conhecimento ajuda a impulsionar as contratações, por exemplo?
À medida que ampliamos o conhecimento sobre o tema, as barreiras são reduzidas, sejam vieses, preconceitos ou processos. Assim, a criação do Grupo de Afinidade é tão importante, permitindo que o tema deixe de ser discutido como iniciativa específica, e passe para um âmbito organizacional e estratégico. Todo esse processo de aprendizado permite que as pessoas ou áreas envolvidas se transformem em um ambiente cada vez mais inclusivo. Como resultado, prepara a organização para ampliar sua demanda por profissionais neurodiversos.
Quanto à adequação do ambiente para receber esses profissionais, de que forma se dá, e qual é o feedback deles e também dos outros funcionários que os recebem?
Gosto sempre de repetir que existe uma diferença entre integrar e incluir. Temos que incluir, ou seja, estar atentos e transformar o ambiente de trabalho (pessoas, processos, espaços) para que seja inclusivo para todos. É importante compreender a individualidade de cada um.
Capacitar nossas lideranças e os respectivos times que receberam estes profissionais foi importante para o acolhimento. Rever o processo de seleção para que fosse adequado aos profissionais autistas foi fundamental para o sucesso da iniciativa. Já no espaço de trabalho, ajustes com equipamentos mais adequados que diminuem o desconforto com a luz ou o som, por exemplo, foram providenciados.
Uma boa maneira de começar é contando com uma rede capacitada e a IBM contou com a consultoria da Specialisterne, especializada na inclusão de profissionais autistas. Este suporte foi fundamental não somente para iniciar, mas para prover um acompanhamento contínuo de cada profissional e seus respectivos times e líderes. Este canal de comunicação de mão dupla é essencial para evoluirmos.
A neurodiversidade é incrível. Prova disso é o reconhecimento de habilidades como a atenção a detalhes, concentração e memória, entre outros. Como esses pontos fortes são tratados pelos superiores diretos e aproveitados pelas equipes?
O mais importante é que a diversidade impacta positivamente na inovação e engajamento. É impossível ter equipes criativas se tiverem todos a mesma linha de pensamento e, portanto, este é o maior benefício da inclusão. Os profissionais neurodiversos trazem uma perspectiva diferente, novas formas de pensar e ajudar a resolver problemas de negócio.
Além disso, estes profissionais têm se destacado por uma capacidade de aprendizagem muito rápida, realizando muitas horas de treinamentos num curto espaço de tempo. Eles são extremamente apaixonados por tecnologia, questionam o status quo e estão sempre dispostos a aprender.
Embora seus principais desafios sejam as habilidades de sociabilidade, percebemos, até o momento, uma excelente adaptação ao ambiente de trabalho. A interação com as equipes tem sido muito positiva.
E quanto às dificuldades dos profissionais com autismo, elas são trabalhadas de que forma?
Para acompanhar todo o processo de inclusão, a IBM contou com a consultoria da Specialisterne, que apoiou na seleção e capacitação dos profissionais. Os times e lideranças passam por uma sensibilização e treinamentos específicos e alinhados ao profissional que cada time vai receber. Este processo de acompanhamento, apoio especializado e reciclagem de conhecimento é contínuo após o início de cada profissional em seus novos times.
Como funcionam os grupos de discussão e debate sobre diversidade, eles têm um cronograma de atividades?
Os grupos de afinidades possuem um padrinho executivo, que reforça o alinhamento estratégico da organização, e funcionários voluntários. Eles debatem assuntos de interesse, compartilham experiências para ampliar o conhecimento e promovem ações efetivas para um ambiente mais diverso e inclusivo. Além do Grupo de Afinidade de Neurodiversidade, hoje, na IBM Brasil, temos mais seis grupos que discutem e debatem a diversidade: Afro, Mulheres, LGBT+, pessoas com deficiência, Cross Cultural e Worklife Integration.
Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.
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