Descrição da Imagem #PraCegoVer – Ilustra o artigo a “Relação entre Libras, Psicólogo e o Surdo”, é uma fotografia com fundo branco e várias mãos fazendo sinais, simbolizando, mas não retratando a Língua Brasileira de Sinais. Fim da descrição.
Libras como Instrumento Mediador entre Psicólogo e o Paciente Surdo
Formada em psicologia e expert na Língua Brasileira de Sinais, Rafaela Costa explica a relação entre Libras, Psicólogo e o Surdo
No Brasil existem 9.722.163 de brasileiros com deficiência auditiva¹, nos mais diferentes graus, desde a leve à severa. Essa quantidade expressiva de sujeitos Surdos aponta para a necessidade do profissional psicólogo estar habilitado na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
A Língua Brasileira de Sinais tem como influência a Língua de Sinais Francesa² e se estabeleceu como um instrumento oficial de comunicação e de expressão. Assim, a LIBRAS ↗ é um sistema linguístico de caráter visual-motor e que possui uma estrutura gramatical própria permitindo a transmissão de ideias e de fatos originários das experiências de pessoas Surdas do Brasil³. Vale ressaltar a importância da profissão do Tradutor Intérprete de Libras (TILS), que após anos de atuação, teve sua profissão regulamentada em 2010⁴.
Anos antes da regulamentação da profissão do TILS, ocorreu em 1992, no Rio de Janeiro o II Encontro Nacional de Intérpretes, no qual foi aprovado o código de ética do TILS, este documento passou a orientar esse profissional, abrangendo diversas situações que envolvem sua atuação.
Princípios fundamentais da profissão do TILS no código de ética:
1. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidências a ele confiadas;
2. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante a interpretação, evitando dar opiniões próprias, a menos que seja requerido a fazê-lo;
3. O profissional deve ser fiel na interpretação, procurando transmitir o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante;
4. O intérprete deve reconhecer seu nível de competência, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais quando necessário, especialmente em palestras técnicas;
5. O intérprete deve se vestir de modo adequado, sem adereços, e evitando chamar a atenção sobre si mesmo durante o exercício da função.
Assim, o profissional TILS é o interlocutor na comunicação entre Surdo e ouvinte. Seu trabalho está relacionado com a interação comunicativa, social e cultural, possibilitando a inserção da pessoa Surda na sociedade. Além disso, tem o intuito de garantir os direitos linguísticos da pessoa Surda, como também a valorização da Língua de Sinais⁵.
Devido não existir ainda muitos profissionais de saúde, sobretudo psicólogos habilitados na LIBRAS, o acolhimento psicológico da pessoa Surda é prejudicado. Diante dessa situação surge a seguinte pergunta: o TILS pode ser inserido nesse ambiente e atuar ao lado do psicólogo?
Estudiosos explicam que a relação entre psicólogo, paciente Surdo e Intérprete de LIBRAS ainda se encontra em situação de desarmonia. Tal situação deve ser considerada, pois as transferências e contratransferências⁶ apontam, como pano de fundo, a história de vida e experiência pessoal dos sujeitos envolvidos, produzindo interferências no acolhimento psicológico.
Assim, na perspectiva do atendimento psicoterapêutico, o profissional TILS se torna um elemento que gera ruído na comunicação entre psicólogo e paciente Surdo.
O Filósofo Paul Ricoeur explica que nossas palavras expressam as nossas crenças e identidades, ou seja, tudo aquilo que consideramos importantes a partir de nossas experiências e vivências⁷.
Consideramos, então que a LIBRAS é um instrumento que pode ampliar as possibilidades de comunicação e de interação entre o psicólogo e o paciente Surdo no atendimento psicoterapêutico⁸.
REFERÊNCIAS:
¹ BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Brasília. DF. 2010.
² MOURA, Maria Cecília de. O surdo: caminhos para uma nova Identidade. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
³ BRASIL. Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 abr. 2002.
⁴ BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Diário Oficial da União, Brasília, 2010.
⁵ QUADROS, Ronice Müller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa. 2. ed Secretaria de Educação Especial; Brasília: MEC; SEESP, 2007.
⁶ Transferência e Contratransferências são conceitos centrais na compreensão da relação terapêutica nas diversas vertentes da psicanálise. Se trata do conjunto de sentimentos positivos e negativos que o paciente dirige ao psicólogo, sentimentos estes que não são justificáveis em sua atitude profissional, mas que se fundamentam nas experiências que o paciente teve em sua vida com seus pais ou criadores. Esse processo pode gerar obstáculos que impedem o processo analítico.
⁷ RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Editora Unicamp, 2007.
⁸ OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo soció-histórico. 5. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
Rafaela Costa
Psicóloga Acessível em LIBRAS, em Recife (PE), Rafaela é Tradutora Intérprete de LIBRAS na Secretaria de Educação do Estado de PE. É formada em Psicologia, Especialista em Rede de Atenção Psicossocial, Autismo e Deficiência Visual, formada em Surdocegueira, e Tiflologia. Com Especialização em Educação Inclusiva, e Certificação em Proficiência em LIBRAS e Pedagogia, comanda a coluna "Recortes da Psicologia Inclusiva".
Olá, Marcos. Muito obrigado. Ficamos bastante felizes com seu comentário.
Muito bom e útil este site.
Gostei muito!
Parabéns!
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