Reclassificação da síndrome de Burnout como doença de trabalho passa a valer em janeiro de 2022

Arte com foto e texto, de pessoa lamentando. Ilustra a síndrome de burnout, como doença de trabalho. Descrição detalhada na legenda.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Arte com fotografia em preto e branco, com título no canto esquerdo superior. Texto: “Síndrome de Burnout – Doença de trabalho (CID-11)”. Fotografia de pessoa cabisbaixa, com a mão esquerda sobre a cabeça. Tem cabelos pretos curtos e pele branca. Filtro azul e rosa simulam luminosidade na imagem. (Foto: PxHere/ Créditos: Edição JI)

Advogada explica impacto para empresas que terão de adotar programas preventivos

Você conhece a neuroarquitetura? Saiba como ela pode melhorar a qualidade de vida no ambiente corporativo a fim de evitar a síndrome de Burnout – como doença de trabalho prevista na CID-11

A partir de 1ª de janeiro de 2022, a síndrome de Burnout será classificada como doença do trabalho pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A doença, anteriormente considerada como uma condição psiquiátrica, será oficializada como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.

A reclassificação dessa e de outras condições entra em vigor com a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), anunciada por Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em 2018 :

“A CID é um produto do qual a OMS realmente se orgulha. Ela nos permite entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e agir para evitar sofrimento e salvar vidas”.

A alteração afeta a rotina de empresas, tornando-se mais um fator de risco financeiro e jurídico, como explica a advogada Aline Cogo Carvalho (GBA Advogados Associados):

“A reclassificação da Síndrome de Burnout exige que as empresas tomem medidas para prevenir o desgaste de seus colaboradores, garantindo programas preventivos ao Burnout”.

Segundo Aline, na Justiça do Trabalho, a responsabilização da empresa será avaliada a partir de um laudo médico comprovando a Síndrome de Burnout, histórico do trabalhador e avaliação do ambiente laboral, inclusive relatos testemunhais.

Serão buscadas comprovações de uma degradação emocional e fatores causadores da síndrome, como assédio moral, excessivas metas ou agressivas cobranças e competitividades.

Na visão da advogada, uma estratégia que pode ser adotada é a reunião do grupo de colaboradores e gestores, dando oportunidade para que aqueles que se sentem sobrecarregados possam expor a situação e solicitar medidas para a resolução do problema.

Outra possibilidade para aproximar coordenadores e suas equipes são os encontros fora do ambiente de trabalho, como o happy hour:

“Reunir-se fora da empresa gera a oportunidade de conversas mais descontraídas, podendo ser consideradas terapêuticas para eliminar o estresse após um dia desgastante de trabalho”.

Problema mundial

Homem branco, com a cabeça baixa, sentado em cadeira de rodas com notebook no colo.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Fotografia colorida, em ambiente interno e iluminado. Homem branco de cabelos castanhos claros, barba e bigode. Está sentado na cadeira de rodas com um computador notebook no colo. Ele está com o cotovelo esquerdo está apoiado no braço da cadeira e com a mão esquerda na testa. Usa camisa branca e calça jeans. (Foto: Pexels/ Créditos: Ivan Samkov)

Roberta Von Zuben, psicóloga do Vera Cruz Casa de Saúde, explica que a síndrome de Burnout é um problema mundial e que exige atenção, sendo muitas vezes difícil de perceber e trazendo consequência não somente para o indivíduo:

“Essa síndrome traz consequências para a própria pessoa, para o seu trabalho e para a sociedade”, afirma a psicóloga.

Para o indivíduo, explica Roberta, a síndrome representa uma fadiga constante e progressiva, imunodeficiência grande, resfriados e gripes constantes, problemas cardíacos e de pressão alta.

A pessoa com Burnout apresenta falta de concentração, alterações de memória, lentificação, sentimento de solidão, impaciência, impotência e outras características que afetam ainda a vida social do indivíduo e até mesmo familiar:

“Ele passa a ter um distanciamento socioafetivo, não tem mais aquele entrosamento familiar com seu cônjuge, com seus pais ou com seus filhos”, diz.

A síndrome traz ainda consequências para a pessoa no trabalho e, em razão disso, para a própria organização que ela trabalha, como conclui a psicóloga do Vera Cruz:

“A doença impede que a pessoa consiga dar o melhor de si, gerando um desgaste muito grande que, por diversas vezes, leva ao desligamento da empresa. Temos que começar a colocar os nossos recursos a favor da saúde mental, tomando decisões baseadas em evidências científicas. As empresas precisam alterar suas políticas e benefícios de recursos humanos, focando na saúde mental e dando apoio ao colaborador”.

Arquitetura como aliada

Foto de ambiente corporativo com técnicas da neuroarquitetura. Descrição na legenda, abaixo.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Fotografia colorida, em ambiente interno corporativo. Imagem ilustra a neuroarquitetura, em projeto desenvolvido pela AKMX, mostrando a utilização da madeira no piso. Na lateral direita, há um canteiro de plantas naturais próximo às mesas redondas e janelas. No local também tem vasos pendurados no teto, como elemento da arquitetura biofílica, que auxilia a minimizar o estresse. (Foto: Divulgação)

A arquitetura do ambiente de trabalho pode ser uma importante aliada para garantir a saúde mental dos colaboradores. Em seus projetos, a AKMX Arquitetura e Engenharia tem aplicado técnicas da neuroarquitetura , dentre elas a biofilia e experiência do usuário, como estratégias para uma melhor qualidade de vida no trabalho.

Intervenções biofílicas tendem a resgatar os laços originais entre a natureza e o ser humano. Para escritórios, essa relação orgânica, aliada à qualidade de uso dos espaços e suas funções, que estão diretamente relacionados à experiência do usuário, por exemplo, potencializa sensações positivas, minimiza o estresse e fomenta o bem-estar entre as pessoas.

Denise Moraes, líder de projetos e sócia da AKMX, lembra que a arquitetura biofílica vem sendo aplicada cada vez mais em ambientes de trabalho, transformando espaços com a utilização de elementos naturais ou que remetam à natureza, como o uso de vegetação ou de formas orgânicas, por exemplo:

 “Como um ambiente físico pode impactar o nosso cérebro? É importante pensar em espaços corporativos mais humanizados, afinal, o ambiente de trabalho influencia diretamente na motivação e no comportamento do funcionário”. 

Os benefícios que elementos biofílicos proporcionam aos ambientes de trabalho vão muito além da estética e da decoração. Um estudo feito pela Universidade de Hyogo, no Japão, em uma empresa, mostrou que a frequência do pulso dos colaboradores, coletada em dois períodos distintos, variava após a colocação das plantas perto deles, colaborando para a redução do estresse fisiológico e psicológico dos funcionários.

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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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