Médico especialista explica a relação entre a Síndrome de Down e doenças respiratórias
Otorrinolaringologista esclarece porquê pessoas com trissomia do cromossomo 21 sofrem mais com distúrbios respiratórios e o que pode ser feito para minimizar quadros infecciosos
A Síndrome de Down – trissomia do cromossomo 21 – está presente em 1 a cada 700 nascimentos no Brasil, de acordo com dados da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD). Desde sua descoberta, em 1866, por John Langdon Down, a medicina evoluiu muito, aumentando a expectativa e a qualidade de vida dessas pessoas com deficiência intelectual. Porém, ainda é comum que quem tenha a síndrome sofra com distúrbios respiratórios.
Otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Cícero Matsuyama explica que “isso acontece, pois existem malformações inerentes à trissomia do 21, tais como desproporção craniofacial, aumento exacerbado das amígdalas e faríngea (adenoide), hipertrofia da língua, aumento desproporcional do parênquima pulmonar e desproporção do alvéolo pulmonar e tecido adjacente, além de uma alteração no sistema imunológico”.
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Em entrevista ao JI, questionado sobre a incidência desses casos, Dr. Matsuyama disse que pelo fato do Hospital CEMA abordar distúrbios específicos da via respiratória superior, os pacientes com a síndrome habitualmente os procuram queixas a respeito destes órgãos.
“Podemos dizer que do ponto de vista otorrinolaringológico, os pacientes com a trissomia de 21 que procuram nosso hospital, na sua grande maioria possuem ou alterações funcionais ou anatômicas comuns na síndrome. Diremos que 90 % destes pacientes apresentam alguma alteração funcional ou anatômica”, diz.
Matsuyama explica que pessoas com a síndrome tendem a ter mais dificuldade para eliminar secreções, apresentam maior congestão venosa e aumento da pressão arterial. Essas alterações favorecem quadros respiratórios infecciosos, tanto das vias aéreas superiores quanto das inferiores.
“A drenagem ou eliminação adequada das secreções baseia-se como de qualquer outro paciente, mas sempre levando em conta as dificuldades encontradas nas síndromes, com relação a parte cognitiva, anatômica e funcional. A utilização de nebulização com solução fisiológica, hidratação vigorosa e lavagem nasais frequentes também com soro fisiológico costuma minimizar os sintomas”, sugere o especialista.
Entre as principais doenças que podem aparecer estão a apneia, hipotonia na estrutura muscular (perda de tônus) e flacidez na cartilagem que recobre as vias aéreas. “É comum também aparecer quadros de otite de repetição, rinossinusites, traqueobronquites e pneumonias”, detalha o otorrinolaringologista.
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Por essa maior predisposição, segundo o especialista, é importante haver sempre um acompanhamento médico, que deve começar já na gestação e persistir durante toda a vida. Uma alimentação saudável e a ida regular a um especialista são medidas que ajudam a evitar distúrbios respiratórios mais graves.
“A Síndrome de Down é uma das alterações cromossômicas mais frequentes na espécie humana. Hoje, temos novas terapias e medicamentos que são muito bem-vindos na assistência a esses pacientes, que têm uma melhor qualidade e mais expectativa de vida do que antigamente”, analisa Dr. Matsuyama.
Trissomia do 21 e a COVID-19
Em tempos de pandemia da COVID-19, doença causada pelo coronavírus (Sars-CoV-2), muito tem se falado sobre os perigos para pessoas com essa síndrome. Inclusive, estudo publicado em janeiro na revista Scientific Reports mostra que indivíduos com síndrome de Down podem ser mais suscetíveis à infecção. A informação sobre o estudo foi publicada pelo site da revista Galileu , fevereiro.
A redação do JI perguntou se o coronavírus é mais perigoso para pessoas com a trissomia do 21, devido as malformações, e quais são as orientações do otorrinolaringologista, que reforçou:
“A melhor orientação ainda é a prevenção, limpeza das mãos com álcool gel ou água e sabão, o uso constante de máscara e a não aglomeração. Fica a ressalva com relação a obesidade, muito comum em quem tem a síndrome e por vezes de mau prognóstico nos casos graves de COVID-19, a amorosidade (pessoas com síndrome de Down adoram um abraço e beijos) e orientação sempre constante em relação ao contato com as mãos em objetos potencialmente contaminados”.
Por fim, o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Cícero Matsuyama lembra que, na hipótese da presença do coronavírus, o mais importante é o tratamento adequado para cada fase da doença, “não existindo diferenciação da conduta para as pessoas com a síndrome de Down”, encerrou.