Entenda como o vício em tecnologia compromete a saúde mental

Criança dormindo com smartphone ao lado do travesseiro. Ilustra o Setembro Amarelo, sobre os riscos do vício em tecnologia para a saúde mental.
Fechando o mês de conscientização sobre a saúde mental e prevenção ao suicídio, especialista alerta para os riscos do vício em tecnologia: “Está adoecendo as pessoas.” (Foto: Freepik)

Professor de Psicologia do UniCuritiba explica como o uso excessivo de aplicativos, jogos e redes sociais acentua casos de ansiedade e depressão.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população brasileira não consegue passar um dia inteiro sem o celular. A pesquisa revela que 16% das pessoas entrevistadas admitem que o uso de smartphones prejudica o trabalho e afeta os relacionamentos familiares. Além disso, 12% acreditam que a dependência da internet causa distrações no trânsito, enquanto 9% reconhecem que o uso excessivo da tecnologia pode levar a problemas de saúde. Outros efeitos negativos incluem impacto nos estudos (8%) e comprometimento da vida sexual (6%).

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Boa leitura!

Setembro Amarelo alerta

O estudo ‘Hábitos Mobile 2022’ da Hibou Pesquisa e Insights  apresenta dados ainda mais alarmantes: 56% da população brasileira não consegue ficar longe do smartphone por mais de uma hora.

Neste contexto, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos faz um alerta importante durante o Setembro Amarelo, mês dedicado à saúde mental e à prevenção ao suicídio. Segundo ele, a tecnologia pode ser viciante e proporcionar uma sensação imediata de bem-estar. No entanto, o uso excessivo pode ter efeitos negativos na saúde mental a médio e longo prazo.

“A internet, em especial as redes sociais, e os jogos eletrônicos são programados para oferecer conteúdo de interesse para o usuário e, assim, captar a atenção. Isso consome muito do nosso tempo e nos leva a negligenciar os cuidados com a saúde, com as emoções e com os relacionamentos”, diz o especialista.

Identificando o vício em tecnologia

Mestre em Análise do Comportamento e professor do curso de Psicologia do UniCuritiba, Guilherme diz que o primeiro passo para identificar o desequilíbrio no uso de tecnologias e da internet é avaliar as mudanças nos hábitos e comportamentos.

“Uma criança que faz uso exagerado de celular, tablet ou computador deixa de brincar com outras crianças e de aperfeiçoar habilidades sociais. O efeito nos vínculos de amizade não demora a aparecer, aponta o psicólogo.”

A situação é tão preocupante que o vício em internet é considerado um transtorno de dependência. No caso específico dos jogos eletrônicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) compara o problema à dependência química, com consequências físicas e mentais semelhantes.

Riscos para a saúde mental

Estudos internacionais mostram os riscos da utilização exagerada das tecnologias na saúde mental. Pesquisadores da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, constataram que adolescentes excessivamente expostos a dispositivos eletrônicos manifestam com mais frequência sinais de insatisfação com a vida, infelicidade e problemas de autoestima.

O comportamento suicida entre pessoas que utilizam tecnologia e internet também tem sido alvo de estudos. Na Universidade de Oxford, por exemplo, especialistas analisam a relação entre práticas de autolesão e atividades online, como navegação na internet, tempo gasto em redes sociais e visitação em sites sobre suicídio.

O desafio da Psicologia, aponta o professor Ramos, do UniCuritiba, está em dosar o uso das tecnologias, já que elas fazem parte das rotinas de trabalho, estudo, lazer e interação.

“O fato de a internet ser muito acessível facilita o uso irrestrito e dificulta o controle dos efeitos negativos no bem-estar ou na saúde mental e emocional.”

Frustração, ansiedade e depressão

A falsa impressão de vidas perfeitas passada pelas redes sociais está adoecendo as pessoas. A exposição constante a imagens de corpos perfeitos, padrões de vida elevados, luxo, viagens e sofisticação é um dos principais fatores para a redução da autoestima e o sentimento de inferioridade.

Associado a isso está a ansiedade e à depressão. Um estudo com dez mil jovens canadenses revelou que quem passa mais de cinco horas diárias em redes sociais tem mais de 50% de chances de sofrer de depressão.

Dicas para equilibrar o uso

Ter a mão um aparelho multitarefas, como o smartphone, pode ser vantajoso para quem sabe administrar o tempo e tem autocontrole. O problema é quando o uso das tecnologias priva as pessoas de encontros presenciais e impedem o fortalecimento dos laços sociais.

“Estamos permanentemente em contato com pessoas graças à internet, mas a intensidade do vínculo é superficial. A tecnologia pode ser benéfica ou prejudicial e tudo vai depender da forma como é utilizada”, diz o professor Guilherme.

Para alcançar o equilíbrio, o psicólogo sugere que o usuário reflita sobre o tempo gasto nas redes sociais e na internet.

“O que eu proponho é uma reflexão sobre o uso da tecnologia e seus impactos nos projetos pessoais e profissionais, nas expectativas, sonhos e projetos. O exagero leva ao imediatismo, mas se o uso das tecnologias não estiver vinculado aos projetos de vida, não contribuirá para o sucesso e o bem-estar.”

Desintoxicação gradativa

A forma como as pessoas utilizam o celular e o tempo que passam conectadas à internet têm total influência na saúde mental, assim como a qualidade da informação consumida. Ainda que os aparelhos mais modernos tenham dispositivos para mensurar o bem-estar digital e bloquear o uso de aplicativos após determinado período, as pessoas enfrentam dificuldades para se desconectar.

Apesar da necessidade de equilibrar o uso de tecnologia em prol da saúde mental, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos avisa: o processo de desintoxicação precisa ser gradual. 

“Quem tem o hábito de usar a tecnologia por horas e horas todo dia terá dificuldades de fazer reduções drásticas. A dica é diminuir gradativamente o tempo de conexão, substituindo o uso da internet por outras atividades prazerosas.”

Adolescente deitado na cama e segurando um telefone em um quarto escuro.
Descrição alternativa #PraGeralVer: A imagem mostra uma pessoa jovem deitada em uma cama em um quarto escuro. A pessoa está segurando um telefone na mão. A cama tem lençóis brancos e um travesseiro branco. O fundo é escuro e a única fonte de luz vem da tela do telefone. (Foto: Freepik)

O primeiro passo é avaliar a real necessidade do uso da tecnologia para o trabalho e o estudo. Estimar, de fato, quanto ela é essencial para o sucesso profissional, os relacionamentos sociais, a interação com amigos e familiares.

“Não tem problema utilizar a tecnologia, desde que seja de forma adequada e coerente aos objetivos pessoais, sem interferência no bem-estar, na socialização e na qualidade de vida”, ensina o professor do UniCuritiba.

A importância de pedir ajuda

Se estabelecer limites para o uso diário de tecnologia, seja o acesso à internet, redes sociais ou jogos eletrônicos, for complicado, a dica é pedir ajuda. O cuidado deve começar na infância e, tanto a mãe quanto o pai, devem impor regras.

Segundo a Associação Pan-Americana da Saúde (Opas), 50% dos problemas relacionados à saúde mental têm origem adolescência, por volta dos 14 anos, levando à prevalência da depressão em adultos jovens.

O comportamento de crianças, adolescentes e jovens serve de alerta, em especial se ocorrerem alterações frequentes de humor. Tristeza e raiva súbitas são indicativos de que algo está errado, assim como o hábito de relembrar, com frequência, experiências ruins do passado.

Outros sinais envolvem a obsessão por problemas (quando a pessoa não consegue visualizar uma solução para resolver o que incomoda), insinuações verbais sobre a falta de expectativa no futuro, consumo abusivo de álcool e drogas, isolamento social e ideação suicida.

Nestes casos, segundo o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos, estudioso de educação e saúde mental, a melhor estratégia é recorrer a um especialista, que saberá orientar sobre as estratégias para vencer o vício em tecnologia e conduzir o tratamento contra a ansiedade ou a depressão.

Sobre o UniCuritiba

O UniCuritiba é uma instituição de ensino superior com mais de 70 anos de tradição, reconhecida pelo MEC como uma das melhores de Curitiba (PR). É conhecido por seu curso de Direito, que recebeu o selo de qualidade OAB Recomenda em todas as edições, e também é referência em Relações Internacionais. Faz parte do Ecossistema Ânima, oferecendo mais de 40 cursos de graduação, além de pós-graduação, mestrado e doutorado. A instituição possui estrutura completa com mais de 60 laboratórios e corpo docente composto por mestres e doutores com vasta experiência profissional. O ensino no UniCuritiba é focado na conexão com o mundo do trabalho e nas práticas mais atuais das profissões. Mais informações no site do UniCuritiba no Link .

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Jornalista Inclusivo

Da Equipe de Redação

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