Descrição da imagem: #PraCegoVer – Fotografia de uma pessoa em uma cadeira de rodas azul. Seu rosto não aparece na foto, que indica ser um homem. Ele veste suéter azul, camisa quadriculada, calça jeans azul e sapatos marrom. E se deslocando em frente a vitrines de lojas de um shopping. Fim da descrição | Foto: Reprodução
Já parou para pensar que a cadeira de rodas é um equipamento que garante a locomoção dos usuários?
Acredito que um dos assuntos mais polêmicos e que ainda aflige as famílias de pessoas com deficiência, atualmente, seja sobre o uso da cadeira de rodas.
Há uma crença e um preconceito muito grande de que as pessoas estão “presas” a uma cadeira de rodas. Que no momento em que a pessoa passa a usá-la, ela está desistindo do direito de andar e se condicionando a viver sentado.
Existe ainda aquela ideia horrorosa de que a cadeira de rodas te impede de chegar a lugares ou de estar em eventos, de que ela te limita. E essa é a ideia mais ignorante que ainda testemunhamos em nossa sociedade.
Quando nos referimos a pessoas com algum tipo de deficiência física, logo assumimos que haverá alguma alteração de movimento. Essa alteração, no entanto, pode ser em vários níveis e podem afetar o grau de mobilidade e independência do indivíduo em questão.
Pensando no desenvolvimento desta alteração, existem vários tipos de tratamentos com diferentes profissionais. Mas se pensarmos na rotina particular desta pessoa, como poderíamos facilitar a sua mobilidade?
Eis que surge a cadeira de rodas em nosso contexto
Eu posso sim melhorar a marcha do meu paciente, mas o quanto isto é suficiente para aumentar a sua participação efetiva na sociedade?
Existem situações em que o indivíduo tem limite de tempo para chegar ao local. E outras em que a distância percorrida é grande, por isso chegará cansado a seu destino, afetando seu desempenho, ou então situações onde o risco de queda é alto.
Eu preciso de soluções que facilitem a vida do meu paciente e não extensões da sessão de fisioterapia. Eu não posso exigir que quando ele for à faculdade ele vá andando, se desse modo chegará atrasado à aula e cansado, afetando seu aprendizado.
Eu não posso proibir meu paciente de usar uma cadeira, se em eventos abertos ele acabará ficando para trás dos outros participantes. A cadeira de rodas cabe muito bem a essas situações. Ela da velocidade e mobilidade. Ela permite que ele esteja presente sempre, em todas as situações que desejar. Não deixará de ir a algum lugar porque cansará e sentirá dores mais tarde. Ele estará presente por inteiro.
Estudos mostram que usar cadeira de rodas não torna a pessoa mais “preguiçosa”
Usar uma cadeira para se locomover não atrapalha na habilidade de andar. A perda na capacidade de deambular envolve muitos outros fatores.
Quem usa uma cadeira pode andar em ambientes internos, em terapia, distâncias curtas ou distâncias longas – se isso não for atrapalhá-lo, e ao mesmo tempo pode usar sua cadeira como um facilitador. Facilitador no tempo, na economia energética e na segurança.
Gostaria de exemplificar com um caso típico:
Eu preciso assistir a uma palestra em uma cidade localizada a 20 km de distância da minha casa. Tenho condições de ir caminhando, mas demorarei muito para chegar e provavelmente estarei muito cansada para prestar atenção ao conteúdo. Então eu vou de carro.
Assim, chegando rápido e dentro do horário, eu concluo meu objetivo, que é adquirir conhecimento. O fato de ter ido de carro ao invés de caminhando, não diminuiu a minha capacidade de andar, ela apenas proporcionou que eu tivesse acesso a outros níveis de participação.
Uma vida muito além da cadeira de rodas
A vida de uma pessoa com deficiência não é uma eterna e continua sessão de fisioterapia ↗. As pessoas são complexas, com muitos projetos e ações, e o objetivo final sempre deve ser valorizado. Não importa o meio.
Também há os indivíduos que não apresentam nenhum grau de marcha. Essa ausência de marcha pode se dar por infinitas causas, que não alteram o fato da necessidade de um dispositivo de locomoção.
Quando falamos no direito de ir e vir não estamos falando no direito de ir e vir andando. Estamos afirmando que TODAS as pessoas têm direito de estar onde desejam independente do modo.
Assim, todas as pessoas têm direito a mobilidade. À dispositivos que garantam sua mobilidade e sua participação na sociedade.
Existem muitos tipos de cadeiras de rodas, adequadas a cada tipo de necessidade. Existem cadeiras simples, cadeiras adaptadas e cadeiras motorizadas. Todas pensadas em facilitar a rotina das pessoas que precisam de algum auxílio.
A cadeira de rodas veio para trazer autonomia a quem a usa. Veio para tornar suas vidas ágeis e o mais independentes possível.
Então, a próxima vez que você encontrar com uma pessoa em sua cadeira de rodas, por favor, não pense “coitadinho, vive preso a uma cadeira”.
Por favor, pense “nossa, que legal que ele veio!”. Por favor, pense “que maravilhoso que estamos aqui todos juntos!”. Viva as nossas diferenças! Nada sobre nós sem nós!
Formada em Fisioterapia pela Unesp, Ana Carolina Navarro Nunes tem especialização Neurofuncional com enfoque Neuropediatrico. É coordenadora do setor Neurofuncional da clínica Fisiocenter, em Itu (SP), onde também atende como Fisioterapeuta. Aqui no site Jornalista Inclusivo ela é responsável pelo espaço "Sem Filtro & Com Afeto".
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