Descrição da Imagem #PraCegoVer: Ilustrando artigo Arremessos para a felicidade, fotografia em detalhe de um atleta da Bocha Paralímpica segura a bola com os dedos do pé. E no cantinho da foto aparece o controle de uma cadeira de rodas motorizada. 16/12/2018 – Centro Paralímpico Brasileiro, São Paulo, SP – Campeonato Brasileiro de Bocha Paralímpica. Foto: Daniel Zappe/CPB/MPIX.
Conheça três trajetórias que se entrelaçam para firmar a inclusão
Em sua nova publicação ‘Arremessos para a felicidade’, o Paratleta Murilo apresenta histórias no Paradesporto em entrevistas ricas em detalhes. Confira:
Dentre as modalidades adaptadas, a Bocha Paralímpica ↗ é uma das mais inclusivas por contemplar deficiências severas. Dito em outras palavras, o esporte possibilita que indivíduos quase eliminados dessa realidade possam desfrutar dos benefícios que somente o Paradesporto é capaz de promover.
Assim como sua versão convencional, a Bocha Adaptada é um jogo que requer, mais do que tudo, muita atenção e precisão. Por essa característica já colocada aqui de ser, talvez, a única chance para muita gente sentir a atmosfera única que envolve uma disputa, ela acaba por despertar um amor e um protagonismo indescritível na vida de seus praticantes. E quando faço tal afirmação, não é sobre a ambição de competir, de ganhar, mas sim sobre o sentimento de um atleta.
Eliseu dos Santos, de 43 anos e dono de cinco medalhas Paralímpicas, relatou ao Jornalista Inclusivo seu primeiro contato com a Bocha:
“Eu fazia fisioterapia e quando eu saía, ia ver o pessoal treinar. Até que um dia, eles me convidaram para participar”.
Eliseu tem distrofia muscular e é integrante da classe BC4. O Atleta Paralímpico ainda nos contou que foi através desse universo que conheceu sua esposa, com quem tem dois filhos.
Como em toda modalidade, a arbitragem tem um papel central durante as partidas, garantindo que a igualdade seja respeitada e dando uma dinâmica interessante para a disputa.
A segunda personagem desse artigo é Mohara Mendes Leal Itohara, Educadora Física de 42 anos, especializada em Atividade Física Adaptada e Saúde, com ênfase em grupos especiais e deficiências.
Mohara é árbitra regional da ANDE (Associação Nacional de Desporto para Deficientes) ↗. “A minha relação com a Bocha Paralímpica surgiu realizando um voluntariado, durante a edição das Paralimpíadas Escolares de 2010, em São Paulo. Com a oportunidade, fiquei muito interessada em conhecer melhor a modalidade que cativou tanto o meu coração”.
A coordenadora da equipe de arbitragem de Bocha Paralímpica do Campeonato Paulista da região Sudeste afirma que os principais preparos para um árbitro são: “o estudo minucioso das regras, a imparcialidade, muita dedicação e gostar do que faz”.
Arremessos para felicidade:
Continua após o vídeo…
E você conhece mesmo a bocha adaptada? Assista ao vídeo abaixo:
Praticada por atletas com elevado grau de paralisia cerebral ou deficiências severas, a bocha paralímpica só apareceu no Brasil na década de 1970. A competição consiste em lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma branca (jack ou bolim). Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio, e contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros.
A modalidade teve um antecessor nos Jogos Paralímpicos: o lawn bowls, uma espécie de bocha jogada na grama. E foi justamente no lawn bowls que o Brasil conquistou sua primeira medalha em Jogos: Róbson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos “Curtinho” foram prata nos Jogos de Toronto, no Canadá, em 1976. Nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, o Brasil encerrou com duas medalhas: um ouro nos pares BC3, com Antonio Leme, Evelyn de Oliveira e Evani Soares, e uma prata nos pares BC4, com Eliseu dos Santos, Dirceu Pinto e Marcelo dos Santos.
Saiba mais sobre as Classes da Bocha, no site do Comitê Paralímpico Brasileiro, neste link: https://cpb.org.br/modalidades/51/bocha ↗
Arremessos para felicidade na bocha adaptada
O Brasil é uma das referências quando o assunto é Bocha Adaptada e é quase impossível não falar de Maciel Santos, Atleta Paralímpico de 35 anos, da categoria BC2.
Maciel é terceiro colocado no Ranking Mundial Individual e Campeão Brasileiro de forma invicta há 12 anos.
“Comecei na Bocha em 1996, através de um amigo que fazia fisioterapia junto comigo e que me levou no Clube dos Paraplégicos, em São Paulo. Inicialmente, era apenas uma recreação, mas no mesmo ano disputei meu primeiro campeonato oficial, que foi o Brasileiro”.
Alguns anos depois, Maciel foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, em 2002, quando tinha apenas 15 anos e hoje já completa 24 só de modalidade.
A Bocha Paralímpica reserva histórias realmente únicas. Durante a entrevista, Eliseu relembra a que mais o marcou em toda a sua trajetória:
“Há bastante histórias que me marcaram. Porém, quando comecei a treinar e logo fui para a minha primeira competição, o Campeonato Brasileiro, fiquei em terceiro lugar. Ao chegar em casa, minha mãe me olhou com orgulho. Disso nunca me esquecerei”.
O detentor de dois títulos da Copa América em Duplas, além desse relato, lembra que quando foi para as Paralimpíadas de Londres, em 2012, sua esposa estava grávida do primeiro filho. Era um menino e ele nasceu no dia 29 de agosto, abertura dos Jogos.
“Fui conhecê-lo apenas 13 dias depois, no meu retorno”.
Conversando sobre a perspectiva no esporte, Mohara – que foi árbitra do BISFed 2018 São Paulo Boccia Regional Open e BISFed 2019 São Paulo Americas Regional Championships –, frisa que o que a faz seguir é o amor pela modalidade:
“Um dia muito especial foi quando realizei meu primeiro jogo como árbitra, durante o 12º Campeonato Brasileiro de Bocha Paralímpica, em Uberlândia (MG). Durante o trajeto da Câmara de Chamada até a quadra, meus olhos encheram de lágrimas. Estava realizando um sonho”.
A profissional, que já esteve envolvida nas principais competições do país, como Brasileiro, Regional, Paralimpíadas Escolares e Universitários e Copa Brasil, afirma que sempre será muito grata a todos que participaram de seu caminho na Bocha.
Um dos trechos mais emocionantes de nosso bate papo com Maciel Santos, Campeão Paralímpico em 2012 e Bicampeão Para-panamericano (2015-2019), foi quando ele contou sobre a experiência de disputar uma Paralimpíada em casa:
“Foi um dos momentos mais esperados. Infelizmente, a medalha não veio, mas o aprendizado foi único”.
O capitão da Seleção Brasileira por equipes BC1/BC2 destacou a importância do desempenho de nossos Para atletas no ano passado, conquistando vagas para Tóquio 2020 em todas as categorias.
Essas foram três histórias que mostram um pouco do quão singular e especial faz-se a Bocha Paralímpica. Evidentemente, o objetivo desse artigo, até porque seria impossível, não é, de modo algum, tentar refletir o sentimento que ronda uma quadra em dia de disputa.
Contudo, os relatos fazem muitas pessoas refletirem sobre a realidade do Paradesporto, ainda mais em modalidades mais inclusivas e são capazes de modificar pensamentos que colocam em situação de vítima a Pessoa com Deficiência.
O Jornalista Murilo Pereira dos Santos é Paratleta pela categoria BC1 de Bocha Paralímpica Ituana. Ele é editor do "Prosa de Gol" (@prosadegol), nas redes sociais, e da página "Sem Barreiras" (@_sem_barreiras), esta última oriunda do seu blog, que também dá nome a sua coluna aqui no site Jornalista Inclusivo, sobre paradesporto e outras questões relacionadas a paralisia cerebral, acessibilidade e inclusão.