Leandro Santos, paratleta do Vôlei Sentado, conta como explorou seus bloqueios por meio do Paradesporto
A realidade de quem vem escrevendo sua história, entre percalços e conquistas, é foco do novo artigo da coluna Sem Barreiras, com final surpreendente, por Murilo Pereira
Poucas pessoas conhecem sua própria força, sua capacidade de reagir a certas peças que a vida prega e suas verdadeiras potencialidades. O destino, analisado sem uma reflexão profunda e sem a desejável habilidade de prever o futuro, é cruel. Entretanto, quando se encontra um caminho no qual o indivíduo se enxerga enquanto cidadão, tudo se encaixa, como um quebra-cabeças com milhares de peças e encaixes distintos.
Quando a pauta tange a inclusão social, na mídia contemporânea, constrói-se quase que uma regra a qual nos empurra para o sensacionalismo raso, ainda mais quando esses enredos envolvem dramas pessoais ou mudanças bruscas na trajetória de alguém. A partir do momento que nasceu a oportunidade da produção deste artigo, com a participação de Leandro Santos, paratleta do Vôlei Sentado ↗ do Sesi Suzano (SP) e da Seleção Brasileira, a única e útil intenção foi discutir por quais meios o Paradesporto permitiu que ele retomasse e além disso, lapidasse, seu lugar na sociedade.
Vindo de família simples, Leandro ingressou na Polícia Militar do Estado de São Paulo no ano 2006. Uma grave depressão o dominou e esteve ligada, diretamente, ao acidente de moto sofrido por ele em 2013. A consequência dessa fatalidade foi a amputação transtibial de membro inferior esquerdo. Então, em 2014, conheceu o vôlei sentado por meio de um amigo. Rapidamente, sentiu-se parte da nova realidade e, assim, surgiu a identificação com a modalidade.
“O Esporte Adaptado me possibilitou enxergar novas oportunidades em minha vida, inclusive perceber o quanto eu precisava valorizar mais a vida espiritual, o convívio familiar e o social. Descobri minha resistência para enfrentar novos desafios, suportar condições adversas para ser um vencedor”, respondeu o jogador quando questionado sobre em que o Paradesporto contribuiu para sua evolução como pessoa. De fato, a prática desportiva acaba tratando questões extremamente complexas de uma maneira mais leve e, consequentemente, apresentando outras formas, antes não imaginadas, de superar dilemas.
Embora toda a carreira descrita já atribua um significado ímpar para o personagem, o ser humano necessita de momentos que materializem sua luta, a fim de ter certeza dos resultados obtidos. Tal episódio para o paratleta é específico: “O ponto principal da minha carreira é, sem dúvidas, o Parapanamericano, onde conquistamos a medalha de ouro e pude sentir a satisfação e a superação muito presentes em mim. Todos os obstáculos que enfrentei até ali valeram a pena”, compartilhou o Tricampeão Brasileiro.
Além destes títulos, Leandro conquistou por três vezes o Campeonato Paulista de Vôlei Sentado. Atualmente, está pré-convocado para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, que acontecerão no segundo semestre de 2021. Na capital japonesa, o paratleta terá mais uma oportunidade de escrever outro capítulo de sua história, baseado em seu talento e confiança. A cada dia que passa, o Movimento Paralímpico ganha mais representantes que aumentam seu público-alvo e, por consequência, fortificam o propósito inclusivo.
Quando a coluna Sem Barreiras foi inaugurada, o objetivo principal era justamente apresentar as modalidades paralímpicas, através de histórias que pudessem servir de espelho e construir uma identificação sólida das Pessoas com Deficiência com o Esporte Adaptado. Hoje, com alguns artigos já publicados e outros no campo das ideias, é possível afirmar com tranquilidade que o desejo se materializou e, acima de tudo, trouxe um aprendizado imensurável tanto para o emissor quanto para os receptores das mensagens.
O Jornalista Murilo Pereira dos Santos é Paratleta pela categoria BC1 de Bocha Paralímpica Ituana. Ele é editor do "Prosa de Gol" (@prosadegol), nas redes sociais, e da página "Sem Barreiras" (@_sem_barreiras), esta última oriunda do seu blog, que também dá nome a sua coluna aqui no site Jornalista Inclusivo, sobre paradesporto e outras questões relacionadas a paralisia cerebral, acessibilidade e inclusão.