Um coração, dois sonhos. Por Murilo Pereira

Foto da Seleção Brasileira de Goalball, nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, em Lima, Peru. Descrição na legenda, ilustrando "Um coração, dois sonhos".
Descrição da imagem #PraCegoVer: Ilustração do artigo “Um coração, dois sonhos” é a fotografia da Seleção Feminina de Goalball, logo após receber a medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, em Lima, Peru. Na imagem estão as seis jogadoras da equipe, e a Gleyse Portiolli é a quarta jogadora, da esquerda para direita. Ela está beijando a medalha, segurando com a mão direita, e com a outra mão segura a mascote da competição, chamada “Milco” (representando as tradicionais estátuas que homenageiam as culturas das antigas civilizações peruanas). Todas vestem o uniforme oficial, com calça azul e o nome Brasil, em amarelo, e agasalho nessas duas cores. Créditos: Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais/ cbdv.org.br/ Edição JI

Os relatos de como dois sonhos distintos podem se cruzar para preencher um único coração

Em seu novo artigo – Um coração, dois sonhos – Murilo dialoga com a medalhista da Seleção Brasileira Feminina de Goalball Gleyse Portiolli, sobre os desafios da maternidade alinhados ao Paradesporto

As pessoas são compostas pelos seus sonhos. Talvez, em alguns casos, o esporte seja uma realização marcante. Porém, o ser humano não pode ser completado apenas por números, disputas e conquistas. A verdade é que tal caminho, certamente, o levará para a felicidade plena. O afeto oferecido por meio do Paradesporto, por exemplo, é uma maneira indireta do praticante alcançar seus objetivos pessoais.

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A rotina de um Paratleta de alto rendimento é frenética. O convívio social também é fator importante na manutenção do equilíbrio mental do indivíduo. Contudo, com centenas de atividades relacionadas à prática esportiva, mas para além da modalidade, o tempo livre torna-se escasso. Quando transferimos tal realidade para o universo feminino, no qual tem-se possivelmente, o sonho da maternidade, as responsabilidades são potencializadas.

Querendo entender um pouco mais sobre esse cotidiano de Atleta Paralímpica e mãe, a coluna Sem Barreiras bateu um papo com Gleyse Portiolli, atleta de Goalball e mãe da Heloisa. A jogadora da Seleção Brasileira Feminina de Goalball conheceu o Esporte Adaptado aos 22 anos, quando também voltou a estudar, no Estado do Paraná.

Gleyse, da Seleção Brasileira Feminina de Goalball, ilustrando "Um coração, dois sonhos".
Descrição da imagem #PraCegoVer: Gleyse está com uma medalha de prata pendurada em seu pescoço e usa uniforme azul escuro. No seu ombro esquerdo, há o logotipo da Olympikus e no direito o do Comitê Paralímpico Brasileiro. Ela é uma mulher com pele clara, e cabelos castanhos escuros. Créditos: Reprodução/ Facebook

“Conheci outras pessoas com Deficiência Visual e isso me abriu um horizonte. Eles me apresentaram o Esporte Adaptado e foi uma felicidade sem fim”, dividiu Gleice sobre o início de sua carreira. Em 2007, ela iniciou a prática das aulas de Paratletismo e Goalball, simultaneamente. Logo em seguida, veio sua primeira convocação para a Seleção Brasileira de Goalball. Assim, nesse momento, a estudante precisou escolher entre a sala de aula e as quadras.

Em meados de 2011, quando foi para a sua primeira competição internacional, o Parapanamericano de Guadalajara, Gleyse também conheceu seu marido. Dois anos depois, mudaram-se para São Paulo, onde vivem até hoje. A capital paulista virou cenário dos treinos da Paratleta. Precisamente, o Sesi/SP foi a equipe que a acolheu. Seu rendimento despontou e muitas realizações profissionais vieram, como jogar a Paralimpíada Rio 2016, por exemplo. Após esse marco, o lado materno falou mais alto. Em 2017, a jogadora optou por pausar a vida nas quadras para conceber sua filha Heloisa.

Gleyse está deitada fazendo uma defesa. Descrição na legenda.
Descrição da imagem #PraCegoVer: A paratleta está deitada na quadra de Goalball fazendo uma defesa, em jogo pela Copa Loterias Caixa de Goalball 2019 - Série A - feminino, no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. Ela está de lado, de costas para o gol, apoiada no chão com o cotovelo direito, e segurando a bola, na cor azul, com o outro braço. Ela usa o uniforme preto, com mangas compridas vermelhas, da equipe do Sesi. A viseira é verde e a amarela. Créditos: Renan Cacioli/CBDV

Perguntada sobre como fez para manter os laços com o Goalball durante a gravidez, Gleyse recordou-se: “Eu sentia muitas saudades do Goalball, mas nunca deixei de acompanhar o que estava acontecendo na modalidade. Sempre que possível, eu treinava na academia ou realizava movimentos em casa”. Com a filha, a rotina esportiva da multimedalhista ficou ainda mais complexa. Entretanto, nunca deixou de ser intensa e de muita dedicação, como sempre decidiu agir.

As trajetórias dos seres humanos estão traçadas, muito antes de nosso conhecimento. O Paradesporto construiu um caminho na vida da jogadora, ligando seus dois principais sonhos. Hoje, um serve de combustível para seguir evoluindo nos objetivos relacionados a outra face.

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Em conversa, ela frisou que ainda há muita coisa para acontecer, tanto na vida de atleta como na de mãe: muitos ensinamentos, aprendizados e atitudes que moldarão o cidadão, visando um futuro melhor.

No ponto em que Gleyse foi indagada sobre seu planejamento de vida, escolhas e frutos de suas atitudes, a Paraatleta não hesitou em afirmar: “Tudo isso foi um grande divisor de águas para mim. O Goalball e a Heloisa me apresentaram outra visão de mundo e, por meio dela, obtive a certeza de que acertei em todas as minhas ações”. Ela ainda completou dizendo que agiria da mesma forma, nos mesmos momentos de sua caminhada, principalmente com relação à gravidez e à retomada da carreira atlética.

Murilo Pereira
Murilo Pereira

O Jornalista Murilo Pereira dos Santos é Paratleta pela categoria BC1 de Bocha Paralímpica Ituana. Ele é editor do "Prosa de Gol" (@prosadegol), nas redes sociais, e da página "Sem Barreiras" (@_sem_barreiras), esta última oriunda do seu blog, que também dá nome a sua coluna aqui no site Jornalista Inclusivo, sobre paradesporto e outras questões relacionadas a paralisia cerebral, acessibilidade e inclusão.

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