Promovida pela ONG Mais Diferenças, formação online busca reverter cenário de exclusão, onde a taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência é quatro vezes maior que a da população geral.
Brasil, 08 de setembro de 2025 – Em um país onde o acesso à leitura ainda é profundamente desigual, a ONG Mais Diferenças promove, no dia 9 de setembro, a “Oficina Formativa sobre Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva”. O evento online e gratuito, que acontece das 18h às 21h, é destinado a bibliotecários, mediadores de leitura, educadores e demais pessoas interessadas de todo o Brasil, com o objetivo de fortalecer práticas que garantam o direito à literatura acessível para todas as pessoas.
O Acesso à Leitura Acessível: Um Direito Universal, Uma Realidade Restrita
A iniciativa surge como uma resposta direta a um cenário alarmante. De acordo com o panorama de indicadores do Censo 2022 do IBGE , o Brasil possui mais de 14,4 milhões de pessoas com deficiência (7,3% da população). Para essa comunidade, as barreiras no acesso à educação e à cultura são ainda mais acentuadas. A taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência é de 21,3%, mais de quatro vezes superior à da população sem deficiência (5,2%). Na região Norte, o índice é ainda maior, chegando a 23%. A formação de mediadores de leitura com uma perspectiva inclusiva é, portanto, uma ferramenta essencial para combater essa exclusão estrutural.
A Leitura como Direito Negado: O Cenário da Exclusão
Globalmente, o acesso à literatura para pessoas com deficiência visual ou outras dificuldades de leitura é marcado por uma profunda desigualdade, um fenômeno conhecido como “fome de livros”. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO), estima-se que menos de 10% de todas as obras publicadas no mundo sejam produzidas em formatos acessíveis, como braille, áudio ou digital compatível com leitores de tela.
Para combater essa exclusão, foi criado o Tratado de Marraqueche , um acordo internacional que facilita a produção e o intercâmbio de livros acessíveis entre os países. Embora mais de 100 nações já tenham ratificado o tratado — com o Brasil sendo um dos primeiros a fazê-lo —, a implementação prática ainda enfrenta barreiras burocráticas e a baixa adesão do mercado editorial tradicional.
No Brasil, apesar dos avanços legais, o cenário ainda é desafiador. A produção de livros acessíveis depende majoritariamente de instituições especializadas, como a Fundação Dorina Nowill para Cegos e o Instituto Benjamin Constant, e de programas governamentais, como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Acessível, que distribui materiais para a educação básica. Fora desses nichos, a disponibilidade de lançamentos e obras de interesse geral em formatos acessíveis ainda é limitada. A produção de livros em braille, por exemplo, possui um custo elevado e uma logística complexa, o que restringe sua escala e alcance em um país de dimensões continentais.
A tecnologia digital, no entanto, surge como um caminho promissor para a democratização do acesso. O crescimento do mercado de audiolivros no Brasil, que segundo pesquisas da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) tem registrado aumentos anuais de dois dígitos, beneficia indiretamente a comunidade com deficiência visual. A produção e distribuição de e-books com design acessível e audiolivros são significativamente mais baratas e rápidas que as de formatos físicos, como o braille. O desafio, agora, é garantir que essa produção digital já nasça com os princípios do design universal, assegurando que a promessa de um mundo mais inclusivo se traduza, de fato, no direito fundamental de acesso à leitura para todos.
Formar para Transformar: A Proposta da Oficina
A oficina faz parte do projeto “Páginas Abertas: livros para diferentes formas de ler” e visa fomentar reflexões e práticas sobre mediação de leitura acessível, considerando os desafios de um país com dimensões continentais. A escolha do formato online e gratuito busca justamente superar barreiras geográficas e econômicas, ampliando o alcance da formação.
“A mediação de leitura acessível é uma prática potente de inclusão, porque reconhece e valoriza os diferentes modos de ler o mundo. As ações formativas para profissionais que trabalham no campo da literatura criam caminhos para que crianças, jovens e adultos, com e sem deficiência, possam compartilhar o prazer da leitura, com equiparação de oportunidades.”
Carla Mauch, coordenadora da Mais Diferenças
A iniciativa dialoga com uma concepção ampla de leitura, que vai além da decodificação de palavras. “Uma sociedade que acolhe a todas e todos é uma sociedade que aprende com a diversidade. Uma sociedade que disponibiliza livros em múltiplos formatos acessíveis é uma sociedade que amplia o acesso à leitura e estabelece que existem muitas formas de ler”, reforça Carla.
Inclusão como Base, Não como Exceção

O evento promovido pela Mais Diferenças parte do princípio de que a inclusão deve ser a base de qualquer prática educativa e cultural. A formação de mediadores, segundo a organização, precisa contemplar não apenas os aspectos técnicos dos recursos de acessibilidade — como audiodescrição, Libras e formatos digitais acessíveis —, mas também o desenvolvimento de uma escuta sensível, de um repertório crítico e de práticas anticapacitistas.
Ao direcionar suas ações com um olhar especial para a região Norte, a ONG também chama a atenção para a urgência de descentralizar as políticas culturais e garantir a participação de profissionais de fora do eixo Centro-Sul em ações formativas sobre acessibilidade e inclusão. A diversidade de dificuldades enfrentadas pela população com deficiência — que, segundo o Censo, inclui 4% com dificuldade de enxergar, 2,6% de andar e 1,4% com limitações nas funções mentais — exige que os mediadores estejam preparados para uma ampla gama de necessidades.
Para Carla Mauch, o papel do mediador é também político e afetivo. “Cada leitura compartilhada é um gesto de escuta, de construção de vínculos e de fortalecimento da cidadania. Por isso, a formação de mediadores acessíveis não é apenas uma questão técnica, mas um compromisso com a justiça social”, conclui.
Como Participar da Oficina da Mais Diferenças
A oficina é aberta a todos os interessados, e as inscrições devem ser feitas online. O encontro será realizado via Google Meet, permitindo a interação entre os participantes e os formadores.
Serviço – Oficina Formativa sobre Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva
- Data: 9 de setembro de 2025 (terça-feira)
- Horário: 18h às 21h (horário de Brasília)
- Formato: Online (via Google Meet)
- Público: Bibliotecários, mediadores de leitura, educadores e demais interessados.
- Custo: Gratuito
- Inscrições: Neste link
Sobre a Mais Diferenças
Criada em 2005, a Mais Diferenças é uma organização da sociedade civil que atua na promoção da educação e da cultura inclusivas, com foco na acessibilidade e na garantia dos direitos das pessoas com deficiência. Reconhecida como OSCIP e Entidade Promotora de Direitos Humanos, desenvolve projetos em parceria com setores públicos, privados e organizações nacionais e internacionais. Saiba mais em: maisdiferencas.org.br .