Fundo Agbara: Potencializando as mulheres negras e indígenas do Brasil

Fotografia com logo do Fundo Agbara, e oito mulheres, ilustrando o texto "Potencializando mulheres negras e indígenas".
Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem de capa do texto Fundo Agbara: Potencializando mulheres negras e indígenas. Fotografia com oito mulheres negras que fazem parte do Fundo Agbara, o primeiro de apoio a mulheres negras e indígenas do Brasil. Cinco delas estão em pé, uma sentada e duas agachadas. Todas usam máscara de proteção. No centro da imagem está o logo do projeto. Créditos: Divulgação/Edição JI

Mulheres negras e indígenas ganham primeiro fundo de apoio para empreender

Com a força da herança iorubá, surge o Fundo Agbara, para oferecer o instrumental e os recursos para que mulheres negras e indígenas do Brasil conquistem seu espaço profissional e pessoal e resgatem sua dignidade e autoestima

Agbara significa potência, força e poder. Com este nome imponente, nasce o primeiro fundo de apoio  a mulheres negras e indígenas do Brasil. O Fundo Agbara sobressai por seu objetivo de potencializar o maior número possível de empreendedoras negras e indígenas, viabilizando independência financeira e emocional. Seu papel vai mais além ao surgir como uma resposta à falta de políticas públicas direcionadas a esses públicos e suas comunidades.

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Criado em meio à crise econômica intensificada pela pandemia do coronavírus, o projeto criado por mulheres do interior de São Paulo arrecada doações para transferência de renda tanto na capital quanto em outras cidades do interior, como Hortolândia, Sumaré, Americana e Paulínia. 

O Fundo Agbara é uma iniciativa recente, lançada em setembro de 2020, já soma mais de 270 doadores recorrentes cadastrados. Também já recebeu mais de 200 inscrições e beneficiou mais de 10 mulheres.

O Fundo Agbara ainda tem como premissa a elaboração de ações contínuas e cotidianas de combate efetivo do racismo institucional e estrutural. Também atua para ajudar as mulheres a serem independentes e conseguirem se libertar de relações abusivas e ciclos de violência.

Imagem em fundo amarelo com o texto: “Em uma sociedade racista NÃO BASTA NÃO SER RACISTA. É preciso ser antirracista”.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem em fundo amarelo com o texto: “Em uma sociedade racista NÃO BASTA NÃO SER RACISTA. É preciso ser antirracista”. Abaixo está o nome Angela Davis, que é professora e filósofa socialista, militante e participante ativa dos movimentos negros e feministas nos EUA. Créditos: Reprodução/ site fundoagbara.org.br

Diretora-executiva e uma das fundadoras do fundo, a educadora Aline Odara afirma que a organização fornece algumas assessorias. “Estamos cadastrando parceiros que queiram oferecer assessorias dos mais diversos tipos. E, para depois da pandemia, temos feito uma reserva financeira para preparar cursos de aprimoramento para essas mulheres”, salienta.

Outra fundadora, a publicitária Fabiana Aguiar acrescenta que a iniciativa abrange também o sentimento de acolhimento e apoio trazido pela rede.

Afroempreendedorismo

Em torno de 40% das pessoas negras adultas são empreendedoras no Brasil. Estas pessoas podem ser denominadas afroempreendedoras e são aquelas que usam uma estratégia de desenvolver uma atividade empresária, criativa e inovadora, com ou sem o auxílio de colaboradores. Um ponto importante a ser destacado é que ser afroempreendedor não é ligado ao objeto da atividade e sim à condição étnica do sujeito: 

“Toda pessoa negra que empreende é afroempreendedora.”

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O afroempreendedorismo no Brasil, apesar de ser uma estratégia bem antiga de sobrevivência das pessoas negras – há registros que datam de antes da abolição da escravidão – não obedece às mesmas dinâmicas do empreendedorismo praticado por pessoas brancas e isso tem raízes históricas.

Após mais de 130 anos do fim da escravidão, pessoas negras ocupam os piores postos de trabalho e ganham os piores salários: 67% de negros no Brasil recebem até 1,5 salário-mínimo. Nesse ritmo, a igualdade salarial entre brancos e negros no Brasil só será possível em 2089.

Imagem em fundo azul com o logo Fundo Agbara.
Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem em fundo azul com o logo formado pelo nome, em amarelo: “Fundo Agbara”, e pictograma na cor laranja, do perfil de um rosto de mulher negra com cabelos black baixos. Créditos: Divulgação

Esses elementos contribuem para que a maioria dos afroempreendedores sejam pessoas que empreendem por necessidade e não por desejo de se dedicar a algo que domina. Considerando ainda que o índice de escolaridade da população negra no Brasil é mais baixo do que o da população branca, muitos afroempreendimentos acabam tendo vida curta.

Entretanto, a movimentação de afroempreendedores tem apresentado características bem diferenciadas. Primeiro porque disponibiliza produtos que não foram lançados tradicionalmente: empreendedores negros apresentam uma visão privilegiada sobre as necessidades da população negra, atendendo especificidades de consumo.

Em segundo lugar, o afroempreendedorismo promove iniciativas de organização em rede, tais como o Black Money, que busca agregar valor à atividade empresária de pessoas negras, como o fortalecimento da comunidade negra e o uso da movimentação financeira como estratégia de combate ao racismo estrutural.

Foto de três mulheres negras, com filtro amarelo, ilustrando "Fundo Agbara".
Descrição da imagem #PraCegoVer: Fotografia com filtro amarelo e o texto: “Força e Potência em Yorubá”. A fotografia, como plano de fundo, mostra três mulheres negras de perfil. Créditos: Roberto Parizotti (foto) / Reprodução / site fundoagbara.org.br

Saiba como receber o apoio ou ser um doador

Para concorrer aos aportes financeiros (que são possíveis graças a parcerias com empresas, como Insecta, Cufa Campinas-SP, entre outras) ou assessorias técnicas, as interessadas negras ou indígenas devem realizar a inscrição através do site da entidade, no link: fundoagbara.org.br/seja-beneficiada/ .

Quem quiser ser apoiador e fazer doações ao fundo, também deve fazê-lo pelo site.

Confira os depoimentos de mulheres contempladas

  • Lucineide Clementino Sol, Grafismo Indígena:

“Sou administradora da página Grafismo Indígena, que tem como objetivo divulgar a cultura do povo tradicional. O valor arrecadado será direcionado a arrumar o meu instrumento de trabalho, que é o notebook que parou de funcionar”.

  • Cássia Helena, Acássia Modas e Acessórios

“Com um celular, montei uma lojinha virtual onde anuncio pijamas e bolsas! Acrescento R$ 20 em cima dos produtos, pois, não tenho como ter um estoque. Assim vou ajudando em casa!”

  • Fabiana Patrícia Cândida, Rapper e Cozinheira

“Em junho, tive a ideia de oferecer salgados veganos e vegetarianos, e está tendo uma boa aceitação. O problema é que meu fogão de seis bocas, funcionam só três bocas, o forno também não funciona, o que me limita bastante pra poder vender outros produtos. Por isso, recorri ao fundo”.

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