Conheça a estilista que democratiza a moda e ressignifica padrões de beleza para mulheres com e sem deficiência
Com etiquetas em braille, blaisers, casacos, calças adaptadas para cadeirantes, acessórios e muita bagagem, a Equal Moda Inclusiva se destaca com cortes e acabamentos diferenciados para mulheres que priorizam o conforto
Roupas com personalidade e storytelling, cortes e acabamentos diferenciados. Esses são apenas alguns dos adjetivos de uma marca que democratiza a moda e ressignifica os padrões de beleza, vestindo mulheres com e sem deficiência, que priorizam o conforto com estilo e inclusão.
Hoje, a coluna “Inclusão & Moda, um Match Perfeito” – espaço criado pela Gestora de Moda Inclusiva Belly Paula, apresenta a Equal Moda Inclusiva: marca idealizada pela estilista Silvana Louro, com experiências que vão muito além do “adaptar roupas para pessoas com deficiência”.
Longe de discursos capacitistas de superação e heroísmo, a marca tem seu diferencial na confecção de roupas em duas versões: peças iguais com e sem adaptação, atendendo simultaneamente, mulheres com e sem deficiência.
As peças proporcionam autonomia, conforto e estilo, contribuindo com a autoestima feminina. São terninhos, blaisers, casacos, calças para cadeirantes, peças com etiquetas em Braille e diversos acessórios. Entre os produtos no site www.silvanalouro.com.br ↗, a categoria Moda Inclusiva também oferece faixas para joelhos, capas de chuva e pochetes adaptadas para cadeirantes.
Quem é Silvana Louro da Equal Moda Inclusiva?
Estilista e produtora que abraça a humanização e democratização da Moda, Silvana Louro tem seu foco em disponibilizar roupas adaptadas em todo o país, contribuindo para o protagonismo de pessoas com e sem deficiência juntas, nas áreas de Moda e Beleza.
Criou e produziu para a Delegação Fluminense, o primeiro uniforme paralímpico adaptado do mundo, nas Paralimpíadas Escolares de 2015. Uniforme que inclusive fará parte do novo acervo do Museu Paralímpico do Engenhão (RJ), como legado nacional.
Para a concretização do projeto, Silvana contou com a participação de fisioterapeutas e importantes associações, como a Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (ANDEF) ↗, Associação Fluminense de Reabilitação (AFR) ↗, Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (AFAC) ↗ e o Instituto Benjamin Constant ↗.
Antes da Equal, Silvana trabalhou para importantes agências formando modelos para o mercado internacional, como a Raica Oliveira e Susana Werner, entre outras. Também produziu inúmeros desfiles e catálogos de moda nos anos 80 e 90. Além de coordenar a área de Moda no Centro de Treinamento de Moda e Beleza do Senac Copacabana, uma referência na época.
Novos ares e desafios
Exaurida das áreas de moda e beleza, Silvana partiu em busca de novos desafios se voluntariando na sua cidade, em Niterói (RJ), no sertão da Bahia e pela IDEX International. Viajou pela África resgatando bebês leões nas savanas e pela Ásia, passando pela Índia, Butão e Nepal. Uma desconstrução completa dos ambientes que vivia.
Para sorte do mundo fashion, a estilista carioca diz que após essas experiências não se enquadrou mais na Moda convencional. Por isso iniciou uma especialização em Gerenciamento de Projetos, que a direcionou a trabalhar com paratletas no projeto Rio 2016, onde vivenciou as dificuldades que eles tinham para se vestir.
Em andamento, tem parcerias com importante marca masculina, para o lançamento no mercado nacional das adaptações de roupas para o público masculino. E outra parceria de lingeries adaptadas, com uma indústria mineira.
A estilista produziu nove editoriais bimestrais de moda para a Revista Universo PcD, sendo também colunista. Dirigiu e produziu a 1ª Cidade PcD na Barra (RJ), evento onde 50 modelos com e sem deficiência desfilaram por três dias seguidos.
Participaram de o evento, marcas como Reserva, 1980 DD, Mr Cat, Nicobaldo Infantil e mais 6 marcas convencionais, além das inclusivas Equal Moda Inclusiva de Niterói, Livanz de São Paulo e Midian Silva de Florianópolis.
Recentemente, em busca de investimento para expandir sua marca, participou da 5ª Temporada do SharkTank Brasil pelo Canal da Sony, somando sócios e apoiadores para sua marca. Assista ao vídeo abaixo, após nosso bate-papo.
“Assim a moda foi ressignificada e definitivamente volta a fazer parte da minha vida”, conta a estilista, apaixonada pelo segmento e por pessoas, que ressalta:
“QUANDO SOMOS EMPÁTICOS, NOS TORNAMOS SERES HUMANOS MELHORES”
Confira a entrevista:
Acessando seu site, chama a atenção a Coleção Indígena. Como surgiu essa ideia, e como é essa coleção?
Na verdade, todas as roupas partem da Coleção Indígena. Cores, texturas, estampas e beneficiamentos. A inspiração indígena veio de uma índia que conheci através de uma amiga. Ela é amputada e faz todos os detalhes e acessórios, com um braço só. Sua etnia é a Hunikūi, no Acre. Ela mora lá e como é amputada não consegue acompanhar a produção da cooperativa, seu tempo difere do tempo de produção das outras artesãs. Então nós compramos dela, ela envia de lá e assim, vendemos. Assim ela incrementa sua produção.
Sobre as parcerias em andamento, poderia adiantar alguma coisa, uma dica?
Entendemos que as parcerias possibilitam a produção e a diversificação de produtos. Temos hoje parcerias de capas de chuva com a Plástico Bolha Store, de bolsas com a Poch.Me e de acessórios com Pãteany Hunikūi, do Acre.
As outras parcerias estão em confidencialidade. Mas garanto que são bárbaras. Cada uma delas demanda um tempo e investimentos significativos e a pandemia não ajudou. Preferimos não gerar mais expectativas. Vamos esperar juntos os lançamentos!
Principalmente quem não se relaciona com o público das PcDs, acaba distinguindo essas pessoas das demais, devido suas características. Por outro lado, é notório o crescimento de movimentos contrários a segregação dessas pessoas, inclusive através de serviços e produtos com adaptações que atendam a todos. Fale sobre essa tendência:
Comecei minhas pesquisas em 2011 e sempre acreditei na importância das adaptações das roupas e no potencial consumidor da pessoa com deficiência, sem gerar guetos.
Vivemos hoje um momento histórico muito importante de quebra de paradigmas: não faz muito tempo, as PcDs se vestiam sem nenhuma representatividade. As famílias as escondiam e elas não escolhiam suas roupas.
As redes sociais impactaram a sociedade dando voz e espaço para que as PcDs se mostrassem e falassem sobre suas vidas e necessidades.
“É UM MOMENTO ÚNICO E SEM RETROCESSO”
As famílias e pessoas envolvidas compartilham informações e se unem em grupos para discussões saudáveis, ações políticas urgentes e essenciais como manter a educação inclusiva nas escolas, dentre inúmeras outras.
A sociedade está aprendendo com esses movimentos e as influencers PcDs. Estamos no caminho e o processo começou.
Acabar com o capacitismo e naturalizar as relações começa com a socialização através da escola, refletindo nas famílias e na sociedade como um todo.
A moda é minha ferramenta de inclusão. E é meu papel oportunizar experiências entre pessoas com e sem deficiência principalmente nas áreas que atuo.
Como você vê a aceitação do público – especificamente o das pessoas com deficiência, no que diz respeito a moda inclusiva e as adaptações criadas para facilitar o ato de vestir? Você sente alguma resistência por parte dessas pessoas?
É uma experiência inédita o de poder escolher uma roupa que atenda suas necessidades e ao mesmo tempo ter estilo e design.
Escolher uma roupa com amigas em igualdade de condições é mais especial ainda. Nossas roupas são iguais, adaptadas e não adaptadas, com algumas raras excepções.
Ter a opção de entrar no maior MarketPlace de Moda da América Latina e se ver representada por cadeirantes, amputadas e paralisadas cerebrais é um mega avanço.
Estamos visceralmente dentro do mercado de moda. As PcDs estão digerindo tudo isso e gostando muito.
Me corrija se eu estiver equivocado, mas a Tommy Hilfiger chegou a lançar uma coleção de moda inclusiva, certo?
Sim! Lançou. Quando comecei minhas pesquisas já existiam muitas marcas lá fora.
O importante para uma marca lançar roupas adaptadas é não ficar na superficialidade, no marketing para ficar “bonito” e inclusivo porque fica bacana para a empresa.
Ser efêmero é péssimo. Assim como lançar roupas direcionadas às PcDs apenas em pessoas sem deficiência. Não sei se é o caso da Tommy. Mas já vi algumas marcas com essas ações.
É importante ter empatia para trabalhar com qualquer segmento. Principalmente ao se tratar de um segmento novo, a importância de encantar e fidelizar os clientes é mais importante ainda.
Sendo uma estilista – independente da moda inclusiva ou adaptada – você acredita que as grandes marcas, populares e grifes, vão aderir à moda inclusiva?
Ouço muitos “nãos”, mas não tenho medo de negativas. Foco nos acertos. Procuro parcerias que estejam alinhadas aos produtos que preciso e vou conversar com os empresários. Se vão aderir ou não, reflete muito quanto ao amadurecimento e visão estratégica de cada empresa.
O que mais se quer saber é se as PcDs consomem moda e beleza. Não temos esses números ainda em pesquisas. As PcDs e pessoas simpáticas ao movimento precisam aderir e fortalecer empresas que investem nesse segundo.
“TER PROPÓSITO FAZ TODA DIFERENÇA TAMBÉM NA HORA DA COMPRA”
Sou movida pela grande paixão e o propósito do meu trabalho. Já vi crianças com menos de 6 anos chorarem muito ao ter de se vestirem. Porque dói! Movimentar para vestir pode doer muito. Principalmente quem tem as articulações enrijecidas.
Agora me diz: a roupa representa o que para você? Se sentir bem, sair, passear, ter uma identidade. Um adulto entende, mas uma criança não entende o porquê de sentir dor.
E que tipo de relação uma criança constrói sentindo dor ao se vestir? Demorar muito tempo para se arrumar, ficar toda suada para poder ir no aniversário ou no shopping! Ela desiste. Desiste de sair, de ir à escola… desiste. Passa a não querer sair.
São realidades que precisam mudar. Podemos ajudar com as adaptações nas roupas. A dor desaparece. Mostrar para o mercado essas necessidades é primordial. As pessoas simplesmente não sabem.
Se em outras áreas e serviços, a pessoa com deficiência já é respeitada como público que consome, por que na moda, ao menos na maior parte, isso não é ainda uma realidade concreta?
Venho de um ambiente de modelos internacionais. Raica Oliveira, Suzana Werner dentre outras, foram minhas alunas. E posso dizer que ninguém aguenta mais padrões pré estabelecidos de nada!
Somos plurais e são justamente as diferenças que nos tornam especiais e incríveis. Transcender esses padrões físicos é essencial.
A realidade só vai se concretizar com o fortalecimento da autoestima da PcD e o amadurecimento da sociedade.
Mas isso não quer dizer que não podemos fazer a nossa parte.
Independente de números exatos e porcentagem, são milhares de brasileiros com alguma deficiência. Você concorda que é público muito grande a ser explorado por marcas que fazem a diferença, como a Equal? Fale a respeito.
Sim. É um nicho com grande potencial. Recebo muitas mensagens perguntando porque eu não produzo para ostomizados, ou para pessoas com nanismo, para SDs (Síndrome de Down), por exemplo. Muitas e muitas pessoas aborrecidas até por eu não produzir tudo para todos.
Como estilista eu amaria. Mas cada marca escolhe onde atuar, porque são muitas especificidades, pesquisas e investimento.
Comecei me especializando em cadeirantes, depois paralisados cerebrais, visuais e agora amputados. São anos com fisioterapeutas e networking com as pessoas, instituições e famílias, para chegar ao produto final.
Só as etiquetas em braille foram 3 protótipos e testes.
A Equal Moda Inclusiva adoraria sim, atender a todos, mas não temos como absorver tudo de uma vez. A gente tenta e adora, mas demanda tempo.
Por isso sempre convido outras marcas para entrarem no mercado. Se cada marca escolhesse um ou dois tipos diferentes de deficiência, rapidinho todos teriam opções.
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