Cia Ananda apresenta “Cartas para Irene”, peça protagonizada pelo ator e dançarino Oscar Capucho
Em espetáculo de dança e teatro acessível da Ananda Cia. de Dança Contemporânea, artista cego reverencia a mãe, falecida em 2012, através de cartas escritas ao longo de seis meses
A Ananda Cia. de Dança Contemporânea estreia “Cartas para Irene”, um espetáculo de dança e teatro que fala sobre memória e saudade, e se estrutura a partir das cartas escritas pelo dançarino e ator Oscar Capucho à sua mãe, falecida em abril de 2012. Ele ficou cego aos 9 anos devido a um descolamento de retina. Neste espaço-tempo que marca a transição entre o mundo permeado por imagens e outro, de início obscuro, permeado de incertezas, o artista com deficiência visual descreve com emoção o papel que Irene, sua mãe, teve em sua vida.
Serão duas apresentações virtuais, na sexta-feira e no sábado, 25 e 26 de junho, às 20h e às 19h, respectivamente. Para assistir com audiodescrição na sexta (25) e com tradução em Libras no sábado (26), basta acessar o canal do YouTube, através do link: www.youtube.com/CiaAnanda ↗. A direção é de Anamaria Fernandes e a codireção de Duna Dias.
Segundo a assessoria, “Cartas para Irene” nasceu de uma conversa entre Oscar e Anamaria, quando o artista contou sua história e as marcas deixadas pela mãe, em sua trajetória. A diretora, diz o texto, propôs que o artista escrevesse cartas à mãe durante seis meses, em processo iniciado em julho de 2020. “Este é o princípio norteador e fundante da criação da montagem”, informa.
Ainda de acordo com a divulgação, as cartas, guardadas individualmente em envelopes selados, foram abertas de maneira aleatória. Cada carta, de conteúdo desconhecido pela diretora e assistente, instigou processos de improvisação nos quais o artista, na revelação do íntimo que a carta trouxe, transitou entre a escrita e a dança.
As cartas foram o alicerce da peça. Tudo partiu desta escrita, das linhas em braile que cruzam e marcam as folhas de papel. É um trabalho que propõe uma tessitura, no campo da intimidade, da escrita, da dança e da interpretação.
“Das palavras, emana-se um dizer do corpo, uma manifestação particular do íntimo que se desvela ao outro.”
“Nós buscamos fazer uma criação que captasse os sentimentos, as lembranças e emoções contidas nas cartas, de forma não literária. Trouxemos as palavras para o universo da dança, como matéria a ser esculpida pelo corpo, como um mergulho dentro do corpo. O atravessamento dessas emoções foi um processo difícil e delicado. Mas acredito que deste quarto íntimo, conseguimos criar algo sensível, tocante e compartilhável”, explica a diretora.
Irene era uma mulher pequenina no tamanho, mas grandiosa no caráter. Dona de casa, mulher forte e guerreira, nascida em Sabará/MG, criada desde os 3 anos pelos avós que trabalhavam na roça, plantando café. Oscar conta que a influência de Irene em sua vida foi e é fundamental em cada uma de suas escolhas. Desde então, muitas coisas a lhe dizer. Muitas já ditas no espaço íntimo desse artista, em cada lembrança, em datas comemorativas, em muitos silêncios. Algumas ainda não ditas, guardadas dentro do peito. Através das cartas, vamos conhecendo um pouco da história de Oscar e Irene.
A montagem traz essa mulher que vê, aos poucos, seu filho perder a visão. Uma mulher que faz a escolha de não ter dó de seu filho, de não o inferiorizar. Uma mulher que faz a escolha de tornar seu filho independente, de acreditar em suas potencialidades, de ter confiança em sua força. Uma mulher que aceita, sem preconceito, a homossexualidade do seu filho e sua escolha em ser artista.
Oscar Capucho revela que o espetáculo reverencia a sua mãe, que sempre o apoiou, independente da sua condição.
“Cartas para Irene é uma homenagem à minha mãe, essa mulher sábia e forte, que me educou, cuidou bem de mim e me colocou para o mundo. Ela permitiu que eu pudesse voar, alçar voos grandes, porque ela sempre acreditou em mim. A educação dela foi sempre neste lugar, na orientação que eu podia alcançar tudo o que eu almejava ou desejasse, sempre com caráter e respeito ao próximo. A forma dela me tratar foi importante porque eu fiquei cego aos nove anos e ela, ao invés de me colocar num lugar de vulnerabilidade, ela potencializava os meus pontos positivos. Ser cego nunca foi uma limitação para Irene. Ela dizia:
“Tudo para você vai ser difícil, então, faça algo que você goste”.
Devo a ela minha formação de ator e dançarino, esse homem que me tornei, pela condução dela. Quero eternizar Irene, contando a nossa história”, define Oscar Capucho.
A peça também traz esse homem, que vive sozinho, que luta pela sua sobrevivência, que luta para fazer o que escolheu como profissão. Um homem cego que, no mundo dos videntes, corre múltiplos riscos ao fechar o portão da sua casa. Um homem homossexual que, num país de homofobia, corre, a cada dia, risco por ser quem é. Um ator dançarino que se equilibra numa corda bamba e que, por suas características, sofreu e sofre diversos tipos de preconceitos.
“O processo foi difícil e doloroso, por trazer muita memória e lembrança. Eu chorava muito na abertura das cartas, enquanto eu estava desenvolvendo as cenas e as dramaturgias. Por mexer neste lugar de memória, da saudade da minha mãe. Aos poucos, eu fui controlando a emoção. No processo de criação, com o tempo, a gente vai amadurecendo essas relações do corpo e dos sentimentos. Não que eu não chore mais, ainda tem choro e tem emoção transmitida pelo meu corpo”, revela Capucho.
SOBRE OSCAR CAPUCHO
Artista formado em teatro pela UFMG, iniciou sua carreira atuando e, já com experiência, recebeu convites para dirigir trabalhos teatrais. Um curioso pesquisador do movimento, sempre se inspirou na dança, a qual lhe proporcionou diversas experiências com importantes artistas e uma relevante participação na cerimônia de abertura das Paraolimpíadas Rio-2016. Hoje, componente da cia. Ananda, compartilha sua pesquisa ministrando workshops e residências artísticas pelo Brasil e Europa.
FICHA TÉCNICA:
- Intérprete-criador: Oscar Capucho
- Direção artística: Anamaria Fernandes
- Co-direção: Duna Dias
- Preparador corporal: Alex Dias
- Filmagem: Gilberto Goulart
- Assistente de câmera: Juliana Cancio
- Figurino: Daise Guimarães
- Direção de arte: Taísa Campos
- Iluminação: Anna Paula Santos
- Trilha sonora e técnico de som: Admar Fernandes
- Contra-regra: Marrony Gualberto
- Intérprete de Libras: Uziel Ferreira
- Audiodescrição: Ver com Palavras
- Produção: Jo Caravelli, Juliana Cancio e Samuel Carvalho
- Assistência de produção: Duna Dias, Eduardo Henrique e Luana Magalhães
Projeto realizado com recursos da Lei Aldir Blanc ↗, viabilizado por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais – Edital 18/2020.
SERVIÇO:
Cia Ananda apresenta “Cartas para Irene”
- Data: Sexta-feira (25/06), às 20h (com transmissão e audiodescrição ao vivo)
- Link da exibição: https://youtu.be/PZ52ssN0FAg ↗
- Data: Sábado (26/06), às 19h (com transmissão e tradução em Libras ao vivo, sem audiodescrição)
- Link da exibição: https://youtu.be/MK5JDmbcNNI ↗
- Duração: 45 minutos
- Classificação: livre
LINKS ÚTEIS:
- Site: ciaananda.com.br ↗
- Facebook @anandacompanhia: www.facebook.com/anandacompanhia ↗
- Instagram @ciaanabda: www.instagram.com/ciaananda ↗
- Youtube @ciaananda: www.youtube.com/c/CiaAnanda ↗
- Lista de links: linktr.ee/ciaananda ↗
Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.