Iniciativa da Unesp oferece audiodescrições de espaços públicos em Bauru, Botucatu e Marília, cidades que somam mais de 25 mil pessoas com dificuldade de enxergar, segundo o IBGE.
Bauru, 05 setembro de 2025 – Em um país onde barreiras arquitetônicas e informacionais ainda limitam a plena participação de milhões de pessoas na vida social, a tecnologia surge como uma aliada fundamental para a autonomia. É nesse contexto que o aplicativo Siga – Guia Acessível da Cidade, desenvolvido pelo projeto de extensão Biblioteca Falada da Unesp de Bauru, oferece uma nova forma de explorar o espaço urbano para pessoas com deficiência visual.
A Realidade da Deficiência Visual no Interior Paulista
A iniciativa atende a uma demanda concreta. De acordo com o Censo 2022 do IBGE , as cidades de Bauru, Botucatu e Marília somam mais de 25 mil pessoas que relataram ter grande dificuldade ou não conseguir enxergar de modo algum. Em todo o Brasil, são mais de 7,8 milhões de pessoas nessa condição (4% da população).
O aplicativo Siga Cidades busca, portanto, diminuir os obstáculos cotidianos enfrentados por essa comunidade, oferecendo descrições em áudio de espaços públicos e promovendo a inclusão em um mês simbólico, marcado pelo Setembro Verde e pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/09).
Da Sala de Aula para a Cidade: A Gênese do Siga

O projeto Siga Cidades é uma evolução do Biblioteca Falada , uma iniciativa que desde 2004 atua na produção de mídia sonora acessível. A ideia de expandir a audiodescrição para o espaço urbano surgiu de uma necessidade real, expressa por uma estudante com deficiência visual. “Fizemos a audiodescrição da Rádio Unesp para auxiliar uma visita guiada, e uma aluna me disse que gostaria que o mesmo fosse feito com uma das ruas principais da cidade”, relembra Suely Maciel, coordenadora do projeto e docente da Unesp.
A audiodescrição é uma ferramenta de acessibilidade que traduz imagens em palavras, oferecendo informações claras sobre elementos visuais. Embora já seja utilizada em museus e eventos culturais, sua aplicação em âmbito municipal ainda é rara, o que torna o Siga Cidades um projeto pioneiro. Com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unesp, a equipe iniciou os trabalhos em Bauru, descrevendo 79 locais. Posteriormente, com financiamento da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade, o projeto se expandiu para Botucatu (22 locais) e Marília (20 locais), com planos de chegar a Araraquara em breve.
Como Funciona o Aplicativo Siga Cidades?
Disponível para celulares e computadores, o Siga Cidades oferece descrições em áudio de uma variedade de espaços públicos, como pontos turísticos, prédios oficiais, comércios, locais religiosos e unidades de saúde e educação. O recurso busca fornecer noções imagéticas e espaciais para que os usuários possam se deslocar com mais autonomia e segurança, além de conhecer novos espaços de lazer e estudo.
A escolha dos locais a serem descritos é feita de forma colaborativa, com a participação de instituições que atendem pessoas com deficiência visual, como o Lar Escola Santa Luzia em Bauru e a Associação de Deficientes Visuais de Marília. Além das descrições espaciais, a equipe produz áudios histórico-informativos que contextualizam os ambientes em termos arquitetônicos e culturais.
“Se estamos falando da Prefeitura de Araraquara, a pessoa precisa entender de onde ela veio, como foi construída, se foram feitas reformas e qual o seu tamanho. Esse contexto facilita a compreensão das informações que estarão na audiodescrição.”
Marcela Evangelista, graduanda em jornalismo e assessora do Biblioteca Falada
Formando Profissionais para um Futuro Mais Acessível
Além do impacto direto na vida dos usuários, o projeto Siga Cidades desempenha um papel crucial na formação de novos profissionais. Os estudantes envolvidos na iniciativa adquirem conhecimentos especializados em acessibilidade midiática e audiodescrição, competências cada vez mais demandadas em um mercado que precisa se adequar à Lei Brasileira de Inclusão (LBI) .
“Existem dois diferenciais importantes: conhecimento sobre acessibilidade midiática e sobre audiodescrição. Isso proporciona uma formação diferenciada”, destaca a professora Suely Maciel. Ao capacitar futuros jornalistas, designers e comunicadores com uma perspectiva inclusiva, o projeto contribui para a construção de uma sociedade onde a acessibilidade não seja uma exceção, mas a regra, garantindo que a informação e a cultura cheguem a todas as pessoas, independentemente de suas habilidades visuais.