Descrição da Imagem #PraCegoVer: Ilustração para o artigo Acima de Qualquer Limitação com o título dourado Paradesporto e 2020 na cor branca. Na imagem, um paratleta com prótese de perna pratica o Salto em Altura. Freepik Premium ↗
A necessária mudança no papel da grande mídia no Esporte Adaptado
Paratleta e estudante de jornalismo, Murilo Pereira apresenta novo artigo com reflexões valiosas e acima de qualquer limitação, na coluna Sem Barreiras
Ao tratar do Paradesporto, um dos pilares que sustenta o debate, obviamente, é o da visibilidade. Essa visibilidade não se restringe ao significado bruto do termo, mas envolve questões muito mais complexas, que vão além das quadras, dos campos, tatames e piscinas.
Recentemente, na Rio 2016, que foi o grande divisor de águas para o Esporte Adaptado brasileiro, tivemos o episódio envolvendo o estúdio, montado pela Rede Globo dentro do Parque Olímpico, para a transmissão dos jogos. Bastou apenas as Olimpíadas terminarem para a instalação ser desativada, ignorando completamente as Paralimpíadas.
É bem verdade que algumas modalidades tiveram suas disputas transmitidas pelo SporTv, um dos canais fechados da emissora, mas nada se compara com a audiência de uma TV aberta.
Em contrapartida, em um dos dias da competição mais importante do Ciclo Paradesportivo, o número de torcedores presentes nas arenas superou as marcas da versão convencional dos Jogos. Aqui, não vou entrar no mérito de preços de ingressos ou de atração por uma ou outra modalidade. Fato é que a estatística está aí para rebater o posicionamento de boa parte da grande mídia.
Contudo, se criticamos quando algo acontece de maneira errônea, devemos também valorizar as atitudes que conduzem para um caminho certo. De um tempo para cá, as finais do Campeonato Brasileiro de Futebol de 5 estão sendo transmitidas também pelos canais SporTv, com a equipe in loco, assim como ocorre em algumas ocasiões no Goalball. Certamente, é uma escolha a ser comemorada, pois as duas modalidades envolvem Pessoas com Deficiência Visual. Logo, os desafios da cobertura, principalmente relacionados aos cuidados necessários com sons que podem atrapalhar a partida, são detalhes que trazem o telespectador para dentro do esporte.
Não seria possível deixar de ressaltar também que eventos como o Futebol de 5 e o Goalball são sempre realizados no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro. Então, é uma chance das pessoas conhecerem, ainda que pouco, da beleza desse lugar e entender que há sim muita coisa boa sendo feita aqui no Brasil.
Acima de Qualquer Limitação vs. Sensacionalismo na Mídia
Um posicionamento que me incomoda bastante enquanto telespectador e que, depois que eu ingressei no Paradesporto como atleta, tornou-se mais aguçado é o sensacionalismo, presente quando o assunto é Esporte Adaptado.
Muitas vezes, a história do Paratleta é colocada em um patamar maior do que suas conquistas esportivas. É evidente que é pelo fato de, quase sempre, o enredo trazer algo sobre dificuldades enfrentadas ao longo da vida, da superação para chegar onde chegou. Não é bem por aí. A cobertura de um evento esportivo, ele envolvendo ou não Pessoas com Deficiência, deve limitar-se apenas aos méritos das disputas, como já ocorre ao tratar de indivíduos sem nenhum tipo de limitação.
Nós, Paratletas, treinamos, corremos atrás dos nossos sonhos, sentimos dor para isso. Entretanto, esse é o caminho não somente dos Para, mas sim de todos os Atletas. A trajetória para alcançar-se o alto rendimento não é curta e, muito menos, suave. Ao contrário do que parece para muita gente, tal histórico se faz extremamente compensador quando se chega em uma conquista representativa. Não por isso é preciso colocá-la acima das habilidades do praticante.
A longa caminhada do Paratleta de alto rendimento
O último ponto, mas não menos importante consegui identificar apenas através da vivência. Talvez, em parte por ignorância minha também. Desde que iniciei na Bocha Paralímpica há quatro anos, já ouvi muitas vezes: então você vai para Tóquio? É primordial as pessoas compreenderem que, assim como nos demais esportes, existe uma hierarquia no sentido de competições. Eu, por exemplo, disputo a Segunda Divisão do Campeonato Paulista. Somente para alcançar o Campeonato Brasileiro, que é a principal competição nacional, são muitos degraus.
Após conquistar uma competição nacional, dependemos ainda de uma convocação para a Seleção Brasileira, que exige uma avaliação de análise de desempenho. Passada essas etapas, aí sim começa a busca por uma vaga nos Jogos Paralímpicos, através de competições internacionais, que são disputadas pelos atletas mais bem colocados do ranking mundial. Então, chegar em uma Paralimpíada não é assim de um dia para o outro e tal falsa percepção é motivada muito pela visibilidade obscura do Paradesporto.
Fazendo um breve apanhado das discussões aqui apresentadas, sem dúvidas é necessária uma mudança no comportamento da grande mídia, no que tange o Esporte Adaptado. Todavia, como em inúmeras questões da vida cotidiana, se cada um se interessar, correr atrás da informação, a rede entrelaça-se com mais facilidade. Consequentemente, a visão sobre o Paradesporto é construída de uma forma mais homogênea e igualitária.
O Jornalista Murilo Pereira dos Santos é Paratleta pela categoria BC1 de Bocha Paralímpica Ituana. Ele é editor do "Prosa de Gol" (@prosadegol), nas redes sociais, e da página "Sem Barreiras" (@_sem_barreiras), esta última oriunda do seu blog, que também dá nome a sua coluna aqui no site Jornalista Inclusivo, sobre paradesporto e outras questões relacionadas a paralisia cerebral, acessibilidade e inclusão.