Iniciativas de acessibilidade ainda são limitadas no setor de eventos, mas soluções práticas mostram que é possível incluir todos os públicos com responsabilidade.
São Paulo, 30 de junho de 2025 — A indústria de eventos em São Paulo demonstrou um crescimento acelerado no primeiro trimestre de 2025, com 1.584 eventos realizados e um impacto econômico estimado em R$ 5,9 bilhões, um aumento de 110% em comparação ao ano anterior, segundo dados do VPCSB .
Apesar da expansão da agenda cultural brasileira, impulsionada pela retomada pós-pandemia e pela diversificação de centros culturais, a inclusão de todas as pessoas ainda avança lentamente neste cenário.
A Importância da Acessibilidade em Eventos: Um Compromisso Necessário
Mesmo com avanços na legislação e iniciativas pontuais, a maioria dos eventos no Brasil ainda apresenta barreiras que limitam a participação de pessoas com deficiência. A ausência de rampas, sinalização inadequada, falta de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou recursos de audiodescrição, e espaços mal adaptados, continuam a excluir milhares de pessoas do acesso pleno à vida cultural e social do país.
Tornar um evento acessível vai além do cumprimento da lei; é reconhecer a diversidade do público e planejar todas as etapas, da comunicação à execução, com essa premissa em mente, conforme destaca a cartilha do Sebrae sobre acessibilidade em eventos.
Desafios e Oportunidades para Eventos Inclusivos no Brasil
Planejamento Estrutural para um Público Diverso
No Brasil, mais de 18,6 milhões de pessoas, aproximadamente 8,9% da população, vivem com algum tipo de deficiência, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) de 2022, realizada pelo IBGE. Este grupo abrange uma vasta gama de condições, incluindo deficiências físicas, visuais, auditivas, intelectuais e múltiplas, cada uma exigindo abordagens específicas para acesso e inclusão.
Planejar um evento acessível começa pelo reconhecimento dessas necessidades. A escolha do local é crucial, exigindo a verificação de acessos adaptados, banheiros com barras de apoio, rotas acessíveis e áreas reservadas. Em espaços públicos ou temporários, como praças e ruas, a responsabilidade de prever e implementar estruturas que atendam a esse público é ainda maior.
A comunicação também desempenha um papel fundamental. As informações sobre o evento devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, como:
- Sites compatíveis com leitores de tela.
- Sinalização em braille.
- Vídeos com legendas ou intérpretes de Libras.
Sem esses recursos, mesmo pessoas com mobilidade garantida podem ser excluídas por falta de compreensão ou orientação.
Capacitação da Equipe Organizadora: Um Pilar da Inclusão
A acessibilidade vai além das adaptações físicas e equipamentos. É essencial que toda a equipe envolvida no evento, desde a bilheteria até a segurança, esteja preparada para interagir com diferentes tipos de público. A capacitação básica em atendimento inclusivo é fundamental para evitar situações constrangedoras e garantir que todas as pessoas se sintam acolhidas e respeitadas.
O planejamento deve contemplar soluções específicas para diversas deficiências. Pessoas com deficiência visual, por exemplo, se beneficiam de informações sonoras e mapas táteis, enquanto pessoas com deficiência auditiva necessitam de comunicação visual eficiente. A adaptação deve ser pensada de forma interseccional, considerando que um mesmo evento pode receber participantes com múltiplas necessidades específicas.
É importante ressaltar que a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) estabelece a obrigatoriedade de acessibilidade em espaços de uso coletivo, incluindo eventos temporários ou privados abertos ao público. Portanto, a acessibilidade não é apenas uma questão de boa vontade, mas uma exigência legal.
Impacto Positivo com Recursos Acessíveis e Criativos
A percepção de que a adaptação de um evento para a acessibilidade implica em custos elevados ainda persiste. No entanto, a cartilha do Sebrae e outros materiais especializados demonstram que muitas soluções são viáveis com planejamento antecipado e uso inteligente dos recursos.
Itens como a locação de plataformas elevatórias, a contratação de intérpretes de Libras, a produção de sinalização visual clara e a criação de áreas reservadas podem ser integrados ao orçamento desde o início do projeto. Quando essas adaptações são pensadas de forma integrada, seus custos são reduzidos e o impacto na experiência do público é significativo.
Existem também abordagens criativas para tornar a experiência mais inclusiva, como:
- Mapas táteis.
- Programação em áudio.
- Visitas guiadas adaptadas.
- Espaços de descanso sensorial.
Essas iniciativas atraem um público mais diverso e geram reconhecimento, fidelização e uma reputação positiva junto à imprensa e à sociedade.
Acessibilidade como Padrão: Espaços Inclusivos
Tornar um evento acessível deixou de ser um diferencial para se tornar um passo essencial na garantia da equidade e no respeito ao direito de todas as pessoas à participação plena na vida social e cultural. O crescente debate sobre inclusão no Brasil tem impulsionado produtores, empresas e instituições públicas a reavaliar suas práticas.
Embora ainda haja um longo caminho a percorrer no Brasil, os eventos que se destacam atualmente são aqueles que inovam na construção de experiências interativas e inclusivas , onde diversidade, conforto e acesso caminham juntos, sem exclusões. A inclusão começa no planejamento e se concretiza em cada detalhe. Quando toda a sociedade pode participar, a cultura se fortalece.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em parceria com o Inova.aê, oferece dicas essenciais sobre como colaborar para um evento mais acessível, disponíveis em seu site .
A experiência de uma pessoa em um evento vai muito além do palco, abrangendo o acesso ao local, a compra de ingressos, o uso de banheiros, o deslocamento interno e a garantia de conforto e segurança. Pensar em todos esses aspectos com a acessibilidade em mente torna o evento mais acolhedor e inclusivo.
Incluir pessoas com deficiência em todas as fases do planejamento e execução também é crucial para identificar barreiras muitas vezes invisíveis e desenvolver soluções mais precisas. A escuta ativa e a participação de profissionais com deficiência no processo criativo e logístico asseguram que a acessibilidade seja incorporada de maneira real e efetiva, e não apenas simbólica.