MITsp 2025 leva cultura surda e questões raciais ao Itaú Cultural

Elenco da peça "Língua" com quatro pessoas em cena interpretando história sobre a cultura surda - Cultura surda na MITsp 2025.

Ícone de fotografia Legenda descritiva: Elenco da peça "Língua" em cena, interpretando uma história sobre a cultura surda e sua relação com a sociedade. Integra a programação da MITsp 2025 no IC. (Foto: Renato Mangolin)

Mostra Internacional de Teatro de São Paulo celebra uma década com arte que desafia fronteiras: surdez, maternidade negra e diálogos urgentes ocupam os palcos no Itaú Cultural.

Na confluência entre arte e resistência, a 10ª edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) chega ao Itaú Cultural com uma programação que transcende o palco para ecoar vozes silenciadas. De 13 a 23 de março, o IC — parceiro histórico do festival — abre espaço para espetáculos que confrontam estruturas sociais, como o encarceramento de mães negras e a convivência da pessoa surda na sociedade, além de debates que amplificam poéticas negras, indígenas e trans. Gratuita e acessível, a programação celebra uma década de provocação estética e política, reforçando o teatro como território de insurgência e transformação.

Do monólogo Parto Pavilhão, que resgata a fuga real de mulheres presas com seus bebês, à peça Língua, que navega entre Libras e português para questionar a incomunicabilidade, a MITsp desenha um mapa crítico das urgências brasileiras. Paralelamente, mesas com nomes como Amara Moira, Erica Malunguinho e Edgar Kanaykõ Xakriabá debatem como a arte tece encontros entre corpos dissidentes. E, como legado dessa década, o lançamento da revista Cartografias (260 páginas) convida o público a mergulhar na história do festival, enquanto vozes como as da Cia Os Crespos apontam futuros possíveis para as cenas negras no teatro.

Os espetáculos da MITsp 2025 no Itaú Cultural

Questões raciais: Mulheres negras em cárcere

A atriz Aysha Nascimento em cena no monólogo "Parto Pavilhão", peça que aborda o encarceramento de mulheres negras e mães no Brasil.
Descrição da imagem: A fotografia retrata a atriz Aysha Nascimento no palco durante a apresentação do monólogo “Parto Pavilhão”. Sentada sobre uma estrutura metálica, ela segura um balão vermelho preso por um fio, demonstrando angústia e intensidade emocional. A peça discute o encarceramento de mulheres negras e mães no Brasil, trazendo à tona questões sociais urgentes. A iluminação dramática e o fundo escuro enfatizam a expressividade da atriz e o impacto da narrativa. (Foto: Noelia Nájera)

A programação cênica da MITsp no IC começa com a apresentação da peça Parto Pavilhão, no dia 20 de março (quinta-feira), às 20h. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Naruna Costa, o monólogo é livremente inspirado na fuga de um grupo de presas, com seus bebês, do Centro de Progressão Penitenciária do Butantã, em 2009, e discute o encarceramento de mulheres negras e mães no Brasil.

Com nuances de realismo fantástico, a peça se passa a partir do ponto de vista de Rose, uma ex-técnica de enfermagem, detenta em uma penitenciária provisória para mães. Interpretada pela atriz Aysha Nascimento, a personagem ajuda nos serviços de parto e cuidados com os filhos e, durante um jogo da seleção brasileira, planeja uma fuga.

A cultura surda em paradoxo com a sociedade

Às 21h do sábado (dia 22), e às 15h e 19h do domingo (dia 23), a Sala Itaú Cultural apresenta a peça carioca Língua, segundo projeto do diretor Vinicius Arneiro e do ator Filipe Codeço dedicado a investigar os paradoxos entre a cultura surda e a sociedade. O espetáculo, que tem dramaturgia de Arneiro e Pedro Emanuel, e conta no elenco com Erika Rettl, Jhonatas, Narciso, Luize Mendes Dias e Ricardo Boaretto, além de Codeço, tem como questões centrais o desejo de dizer alguma coisa e a impossibilidade de ser compreendido.

Na trama, narrada em português e em Libras, uma mãe prepara uma festa de aniversário para seu filho surdo, que cresceu rodeado de pessoas ouvintes. O encontro reúne um pequeno grupo de amigos do rapaz e revela os afetos, dilemas e as diferenças culturais entre eles.

Reflexões além dos palcos

Em paralelo às apresentações artísticas, a programação da MITsp no Itaú Cultural leva para fora do palco encontros sobre as artes cênicas e a contemporaneidade, reunindo pensadores e pesquisadores de diferentes áreas.

Integrando o recorte Reflexões Estético-Políticas, da ação Olhares Críticos, no dia 14 (sexta-feira), às 18h, acontece a mesa A Arte Como Lugar de Encontro, na Sala Vermelha do IC. A proposta é debater sobre como as práticas artísticas são espaços de encontro entre diferentes corpos, territórios e estéticas. A conversa trata das potencialidades transformadoras da arte contemporânea e tem como convidados a escritora, professora de literatura e ativista Amara Moira, o mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais Edgar Kanaykõ Xakriabá – do povo indígena Xakriabá daquele estado –, e a educadora, artista plástica, empresária e política brasileira Erica Malunguinho, primeira deputada estadual trans eleita no Brasil.

10 anos da MITsp

No dia 18 (terça-feira), às 16h, acontece a programação especial MITsp – História e Perspectivas, com a participação de Antonio Araujo, diretor artístico da mostra, e Guilherme Marques, diretor geral de produção, além da crítica de teatro Maria Fernanda Vomero. Juntos, eles tecem olhares sobre os 10 anos da MITsp, destacando conquistas, desafios e possibilidades futuras, a partir da importância do festival para as artes cênicas brasileiras e sua relevância internacional.

Por sua vez, no dia 21 (sexta-feira), duas atividades fecham a série de encontros da mostra no Itaú Cultural. Ambas integram o eixo das Ações Pedagógicas, com curadoria da professora e pesquisadora em teatro Alexandra Dumas.

A primeira, às 15h, é uma roda de conversa com autores e leitores em torno do lançamento da revista digital Cartografias, editada por Ferdinando Martins, jornalista, professor e pesquisador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com ensaios e entrevistas sobre a programação da MITsp. A publicação, que pode ser baixada a partir do site www.mitsp.org , traz ainda um dossiê especial com análises e depoimentos sobre os 10 anos da mostra. Também serão lançados livros de teatro, performances, críticas e política. O encontro acontece na Sala Vermelha.

A programação encerra às 18h, ainda na Sala Vermelha, com a mesa Percursos Cênicos de Poéticas Negras, com a participação de três mulheres negras de destaque no cenário teatral nacional: Jéssica Nascimento Olaegbé, artista do corpo, historiadora social e dramaturga; Lucelia Sergio, atriz, diretora, dramaturga, crítica de arte e cofundadora da Cia Os Crespos; e Mônica Santana, jornalista, atriz e gestora de comunicação, como mediadora.

No encontro, elas falam das formas como as poéticas negras vêm se apresentando com força no atual cenário teatral brasileiro, tornando-se imprescindíveis nos palcos e discussões no campo das culturas cênicas. Abordam, ainda, formas de articular percepções, tensões, pesquisas, críticas e criações a respeito do tema.


Serviço

Mostra Internacional de Teatro de São Paulo – MITsp 2025 no Itaú Cultural

Toda a programação acima é acessível em Libras e entrada gratuita.

Para assistir à programação em ambos os espaços, é preciso reservar os ingressos a partir das 12h da terça-feira da semana da apresentação, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural no link: https://www.itaucultural.org.br/

NO ITAÚ CULTURAL:

Peça – Parto Pavilhão

  • Dia 20 de março (quinta-feira), às 20h

Com Aysha Nascimento. Dramaturgia: Jhonny Salaberg. Direção: Naruna Costa.
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: livre

Peça – Língua

  • Dia 22 de março (sábado), às 21h
  • Dia 23 de março (domingo), às 15h e às 19h

Direção: Vinicius Arneiro
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Duração: 75 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

Mesa – A Arte Como Lugar de Encontros

  • Dia 14 de março (sexta-feira), às 18h

Com Amara Moira, Edgar Kanaykõ Xakriabá e Erica Malunguinho
Sala Vermelha (Piso 3)
Capacidade: 40 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: livre

Mesa – MITsp: História e Perspectivas

  • Dia 18 de março (terça-feira), às 15h

Com Antonio Araujo (diretor artístico da MITsp), Guilherme Marques (diretor geral de produção da MITsp) e a crítica de teatro Maria Fernanda Vomero.
Sala Vermelha (Piso 3)
Capacidade: 40 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: livre

Publicações – cartografias e lançamento de livros

  • Dia 21 de março (sexta-feira), às 15h

Sala Vermelha (Piso 3)
Capacidade: 40 lugares
Duração: 90 minuto
Classificação Indicativa: livre

Mesa – Percursos Cênicos de Poéticas Negras

  • Dia 21 de março (sexta-feira), às 18h

Sala Vermelha (Piso 3)
Capacidade: 40 lugares
Duração: 90 minutos

 

Deixe um comentário