Objetivo é sensibilizar jovens leitores sobre a temática da inclusão de forma lúdica e divertida
Idealizado pela psicóloga Carina Alves, o Projeto Literatura Acessível disponibiliza livros gratuitos em multiformato, com Libras, braille, audiodescrição, pictogramas e linguagem simples
Tente pensar no último personagem com alguma deficiência que você viu, ele era protagonista? Mesmo com milhares de pessoas com deficiência, essa parcela da população tem pouco destaque na literatura e dramaturgia, assim como visibilidade na sociedade. No entanto, o protagonismo dessas pessoas, as discussões sobre inclusão, acessibilidade e o combate ao preconceito ganham luz com a psicóloga Carina Alves, criadora do Literatura Acessível.
Escritora, ativista, empreendedora social e diretora do Instituto Incluir ↗, Carina criou uma coletânea de livros infanto-juvenis, com histórias protagonizadas por personagens que têm alguma deficiência, revelando a dicotomia da ‘inclusão X exclusão’. Com objetivo de sensibilizar crianças e jovens sobre a temática da inclusão de maneira lúdica, divertida e acessível, o projeto tem multiformato – Libras, braille, audiodescrição, pictogramas e leitura simples.
Outro diferencial do trabalho é o multilinguismo, com textos em português e alemão. “Aprendi esse conceito na Alemanha (que já recebeu nossos livros) que para trabalhar com filhos de refugiados em escolas e bibliotecas é preciso ter no mínimo duas línguas nos livros. Conheci livros de até oito línguas em uma mesma obra. É uma meta minha. Quem sabe um dia!”, almeja Carina, doutoranda em Educação, na perspectiva Inclusiva, pela UFRRJ.
São 10 livros, todos com tramas que envolvem situações de capacitismo, bullying, educação inclusiva, paradesporto, cultura acessível e diversidade. O Literatura Acessível roda escolas e bibliotecas públicas do Brasil, com exemplares distribuídos gratuitamente, junto de um kit que contempla contação de histórias, bonecos inclusivos e material educativo.
As histórias dos livros são contadas pela Carina e algumas têm a participação de outros autores. Já os kits, além dos livros, trazem bonecos feitos de pano e crochê, que são os protagonistas das histórias. “Todo o kit é enviado gratuitamente para escolas e bibliotecas públicas do Brasil”, informa a assessoria de imprensa.
Mestre em Letras e Ciências Humanas, com especialização em Psicologia do Esporte e formação em Biopsicologia e Wellness, Carina garante a acessibilidade em Libras de duas formas: “Buscamos um intérprete e vamos para o estúdio, gravamos e disponibilizamos no site www.literaturaacessivel.com.br ↗. Há também um QR Code dos livros impressos, que leva direto ao site onde disponibiliza os formatos na Língua de Sinais e a audiodescrição”.
Carina conta que o projeto “planta uma sementinha nessas crianças e adolescentes”, visando formar uma sociedade com uma mente mais inclusiva e menos preconceituosa. E completa:
“Queremos mostrar para nossa sociedade a potencialidade da pessoa com deficiência e quebrar o paradigma da ideia de incapacidade delas. A ideia é usar a ludicidade para falar de algo ainda tão estigmatizado pela nossa cultura que ainda vive a barbárie da exclusão”, afirma a psicóloga.
A doutoranda salienta que o avanço no processo de inclusão ocorre a cada ano que passa e que é preciso unir forças, junto ao poder público, privado e a sociedade civil. “Se as políticas públicas andarem na contramão do que a gente vem lutando por anos para mudar, não chegaremos a lugar nenhum, a não ser no retrocesso de tudo que já foi construído na educação brasileira em termos de inclusão”, diz a escritora.
Carina usa como exemplo de retrocesso na Educação Inclusiva, o Decreto 10.502/2020 ↗, que segue na contramão dos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, na Constituição Federal e na Lei Brasileira de Inclusão (Lei Nº 13.146/2015 ↗), “já que o decreto prevê a matrícula de crianças e adolescentes com deficiência em classes e instituições especializadas, segregando esses estudantes”.
Por fim, a profissional diz que “não há como retornar ao modelo em que as pessoas com deficiência ocupavam escolas e espaços segregados. Na escola regular a diversidade é uma grande oportunidade para todos aprenderem mais. Construir um mundo mais justo para todas as pessoas passa, necessariamente, pelo encontro com a diferença na escola”.
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