Exibição de “Meu Malvado Favorito” e Oficina de Capacitação para Professores marcam a estreia da edição 2025 em aldeia com acesso limitado ao cinema.
O Festival de Cinema Acessível Kids – a serviço da inclusão educacional – dará início à sua temporada 2025 hoje, 12 de junho, com uma exibição especial do filme “Meu Malvado Favorito” na comunidade Kaingang, em Porto Alegre. A sessão, gratuita e acessível, acontecerá às 14h na Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Fag Nhin, na Lomba do Pinheiro, um local onde cerca de 80% da população nunca teve a oportunidade de ir ao cinema. Além da exibição, o Festival promoverá uma oficina de capacitação em inclusão social para professores de escolas públicas da região, agendada para 17 de junho.
A escolha da comunidade Kaingang para a estreia da edição 2025 reforça o compromisso do Festival com a democratização do acesso à cultura e à educação, especialmente em regiões com pouca infraestrutura cultural e em um contexto pós-enchentes no Rio Grande do Sul. O projeto visa combater a evasão escolar e promover a inclusão de crianças com e sem deficiência, oferecendo uma experiência cinematográfica completa com audiodescrição, legendas descritivas e Língua Brasileira de Sinais (Libras), além de capacitar educadores para um ambiente escolar mais acolhedor e inclusivo.
Festival de Cinema Acessível Kids 2025 na Comunidade Kaingang
A exibição de “Meu Malvado Favorito” na Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Fag Nhin (Rua João de Oliveira Remião, 9105, Parada 25, Lomba do Pinheiro) representa um marco para a comunidade. Segundo o Kacique Samuel da Silva, conhecido como Kacique Gog, a iniciativa é de grande valia. “Na aldeia Fag Nhin vivem 52 famílias e na Oré Kipri, 29 famílias”, explica ele, que acrescenta: “Gog significa Bugio”. O Kacique Gog fez questão de frisar: “E escreva, por favor, cacique com K, porque é assim que assino o meu nome”.

Kacique Gog concedeu a permissão para o evento ao perceber que “muitas famílias não conseguem ter acesso às telas de cinema, por problemas financeiros”. Ele revela um dado impactante: “80% das pessoas que vivem na comunidade nunca foram ao cinema. A maioria vive da comercialização de seus artesanatos. Fica muito caro ir ao cinema! Essa primeira exibição de um filme em nossa comunidade indígena será ótima, um acontecimento. Ainda mais porque as crianças verão dentro da sua própria comunidade um filme que passa nas telas dos cinemas”.
Acessibilidade e Inclusão: Pilares do Festival
O Festival de Cinema Acessível Kids é dedicado a crianças cegas ou com baixa visão, surdas ou com deficiência auditiva, ou com deficiência intelectual ou cognitiva, além de populações de baixa renda em áreas com pouco acesso a equipamentos culturais. Todos os filmes são exibidos com recursos essenciais:
- Audiodescrição: Permite que pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão) compreendam os elementos visuais da obra através de narrações. Pesquisas indicam que este recurso também beneficia espectadores com autismo, Síndrome de Down, deficiência intelectual e déficit de atenção.
- Legendas Descritivas: Fornecem informações textuais sobre diálogos, sons e outros elementos auditivos.
- Janela de Libras (Língua Brasileira de Sinais): Garante que o público com deficiência auditiva tenha acesso total ao conteúdo.
Além dos filmes, o Festival se destaca pela recepção acolhedora, criando um ambiente onde todos se sentem à vontade para aprender e interagir. “Para chegar às telas de cinema com toda a acessibilidade necessária, tudo é gravado em estúdio. É preciso de tecnologia e muita sensibilidade”, afirma Sidnei Schames, conhecido como Sid, idealizador do projeto.
Expansão e resposta às necessidades atuais
Sidnei Schames explica que a escolha da comunidade Kaingang se deu porque “até hoje nunca realizamos uma ação de cinema acessível em aldeias do Rio Grande do Sul”. Ele destaca que, em 2025, muitas programações do Festival continuarão no estado, com visitas a comunidades e escolas afetadas pelas recentes enchentes. “Para combater a evasão escolar, nada melhor que uma atividade lúdica como cinema e, se for acessível, melhor ainda”, afirma.
O Festival também expandirá sua atuação nacionalmente. “Teremos ainda no Rio Grande do Sul, em agosto, uma ação no Festival no Cinema do Barra Shopping, em uma parceria que iniciamos este ano com a Fundação Iberê Camargo. Também no segundo semestre, acontecerá em Brasília a quarta edição de uma parceria do Festival de Cinema Acessível Kids com o Senado Federal”, acrescenta Schames. Ele informa que mais duas grandes cidades do país serão visitadas em 2025, com a definição dos locais até o final de julho. “Mas este ano nosso objetivo principal é fazer mais eventos no estado, para atender localidades e cidades impactadas pelas cheias”.
A história e o propósito do Festival de Cinema Acessível Kids
O projeto nasceu há dez anos em Porto Alegre, inicialmente como “Festival Cinema Acessível”, idealizado por Sidnei Schames, presidente da OSC Mais Criança e diretor da Som da Luz. A inspiração para a versão infantil veio de seu filho, David, hoje com 18 anos. Em 2015, David, então com oito anos, não pôde entrar no cinema por não ter a idade mínima. “Meu pai criou um Festival Acessível para os outros; mas não é acessível para mim!”, exclamou David, que logo transformou a indignação em uma proposta: “Pai, que tal a gente criar também um festival para as crianças? Já tenho até nome e slogan: ‘Festival de Cinema Acessível Kids, leve seu pai ao cinema’”.
Essa ideia deu origem ao Festival de Cinema Acessível Kids, que estreou em 2017 e recebeu a chancela da Unesco. Em 2022, o projeto ganhou maior relevância ao participar da 36ª edição do Criança Esperança, expandindo sua atuação para fora da região Sul pela primeira vez. No ano passado, participou da 38ª edição do Criança Esperança. Até hoje, em suas versões adulto e infantil, o Festival já alcançou cerca de 23.580 pessoas em 41 cidades (incluindo São Paulo, Natal, Niterói, Recife, Florianópolis, Brasília, 33 no Rio Grande do Sul e duas em Santa Catarina), totalizando 125 exibições.
“Tivemos casos de pessoas que fizeram curso de Libras para poder se comunicar com pessoas surdas a partir da experiência que tiveram nas edições anteriores. O Festival Kids é muito mais do que a exibição de filmes acessíveis. Trata-se de uma oportunidade de troca e aprendizado”, afirma Schames.
Formação de educadores inclusivos
Desde 2022, o Festival de Cinema Acessível Kids – a serviço da inclusão educacional – se alicerça em duas ações principais: a exibição de filmes acessíveis seguida de debate e a capacitação de professores das escolas públicas em inclusão social. As oficinas, com duração de seis horas, são destinadas a grupos de até 25 educadores.
Essa vertente educacional, integrada ao Criança Esperança, foca em desencadear um processo de inclusão educacional e social para crianças, adolescentes e jovens com e sem deficiência, e outros grupos minorizados. O objetivo é valorizar a educação e combater a evasão escolar, fortalecendo os vínculos entre alunos e professores por meio de atividades lúdicas que estimulem o interesse e a convivência entre as diferenças.
“O investimento na formação das crianças garante uma sociedade melhor no futuro. Ações como esta do Festival possibilitam que as crianças e jovens já cresçam em um contexto que acolhe e respeita as particularidades de cada indivíduo. Estar em um ambiente com pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência, com todos assistindo a um filme de forma independente, provoca de maneira efetiva o pensar no que realmente podemos e sobre o que precisamos para exercer o nosso direito à cidadania. O acesso à cultura é fundamental. É notável a diferença na formação do adulto se já na infância houver a convivência e a troca entre crianças com e sem deficiência”, diz Sidnei Schames.
O Festival se diferencia pela adaptação de obras cinematográficas infanto-juvenis, que também agradam a toda a família, oferecendo conteúdo acessível de qualidade a uma parcela da população frequentemente privada do acesso à magia do cinema. “Todos somos diferentes, mas podemos compartilhar uma mesma sala de cinema. Nas sessões tem o pai com deficiência visual, com o filho que enxerga; a filha com deficiência auditiva com a mãe que escuta, crianças com deficiência intelectual ou cognitiva e todos estão juntos se divertindo dentro do cinema”, ressalta Schames. David, seu filho, complementa:
“Criamos o Festival para todo mundo ser igual. Não igual no sentido de ter as mesmas características, mas os mesmos direitos e possibilidades. É um momento de inclusão estar todo mundo, pessoas com e sem deficiência, assistindo ao filme”.
Para promover a empatia, o Festival realiza sessões em escolas onde “as crianças assistem aos filmes de olhos fechados ou com venda nos olhos, para sentir como é um mundo sem imagens. Assim, esses alunos tentam se colocar na posição do Outro e aprendem a entender e respeitar as diferenças”, reflete Sid. Ele enfatiza a importância das oficinas para educadores:
“Temos contribuído com os educadores para fazer o acolhimento de forma adequada. Cumprimos uma função muito importante, já que aumentamos – e precisamos ampliar ainda mais – a velocidade dessa mudança na sociedade. Se mostramos que a inclusão é perfeitamente possível, ela se torna natural. Estamos fazendo parte de uma história importante, do caminho da acessibilidade, do tudo para todas as pessoas”.
Lei de Inclusão e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
A Lei Brasileira da Inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência) , de dezembro de 2015, reforça o direito das pessoas com deficiência ao “exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania”. Apesar da legislação, a plena participação ainda é um desafio. “As leis existem, mas na prática não são cumpridas. Por isso entendemos que projetos como esse, que promovem a acessibilidade e inclusão de todos, ainda são fundamentais”, destaca Schames. Ele critica que “as ações de inclusão cultural para o público das pessoas com deficiência são raras e, quando existem, invariavelmente assistencialistas”.
O Festival de Cinema Acessível Kids está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, contribuindo diretamente para a educação inclusiva, equitativa e de qualidade (ODS 4), o crescimento inclusivo e sustentável (ODS 8) e a redução das desigualdades (ODS 10). “Participamos diretamente da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”, conta o presidente da Mais Criança.
Títulos do acervo da Som da Luz na Edição Kids
- Avatar 1
- Harry Potter e a Pedra Filosofal
- Aladdin – Live Action
- Malévola
- Meu Malvado Favorito 1 e 2
- Universidade Monstros
- Frozen – Uma Aventura Congelante
- Divertida Mente
Sobre a OSC Mais Criança
A OSC Mais Criança atua na defesa e promoção dos direitos humanos para a inclusão social, desenvolvendo e adotando tecnologias e abordagens inovadoras com foco na acessibilidade universal. Tem como referência os ODSs, especialmente aqueles voltados para o desenvolvimento socioambiental, a educação, a cultura e a saúde, em busca de uma sociedade democrática, equitativa e com acesso e participação de todos e de todas.
Sobre a Som da Luz
A empresa Som da Luz Tecnologias de Inclusão, idealizadora e realizadora do Festival de Cinema Acessível Kids por meio de seu braço social, a OSC Mais Criança, foi a grande vencedora do TOP de MKT 2024 da ADVB/RS. A Som da Luz recebeu o primeiro prêmio nas categorias de Cultura – Troféu Eva Sophe” e Top Inclusão à Diversidade, além de ser agraciada com a “Distinção”, prêmio concedido aos três cases melhor avaliados. Conquistou o Ouro no TOP Inclusão à Diversidade. A edição 2024 registrou um recorde de 60 empresas e 116 cases inscritos em 30 categorias.
“Estamos felizes e orgulhosos com todo esse reconhecimento, que amplia ainda mais nossas possibilidades de trabalhos e parcerias”, disse Sidnei Schames, diretor da Som da Luz, na ocasião. “Sem qualquer demagogia, queremos destacar ao receber essa premiação representamos aqui todos os projetos sérios que trabalham pela acessibilidade, pela cultura e pela inclusão educacional em nosso estado. E destacamos ainda que os vencedores são todas as entidades e empresas que ajudaram e seguirão ajudando o Rio Grande do Sul em um ano tão difícil como este de 2024, mas que demonstrou mais uma vez a resiliência e a capacidade de superação dos gaúchos”.
Conclusão
Com a estreia da edição 2025 na comunidade Kaingang, o Festival de Cinema Acessível Kids reafirma seu papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Ao levar a magia do cinema e a capacitação em acessibilidade a quem mais precisa, o projeto não apenas garante o direito à cultura, mas também semeia a empatia e o respeito às diferenças, contribuindo ativamente para um futuro onde a acessibilidade seja a norma, e não a exceção. O reconhecimento e a continuidade do trabalho do Festival são a prova de que a inclusão é perfeitamente possível e natural, pavimentando o caminho para “tudo para todas as pessoas”.