Descrição da imagem #PraCegoVer: Ilustração colorida sobre feminismo e as mulheres com deficiência com o título Movimento Feminista, e o símbolo de vênus, que consiste em um círculo com um cruz abaixo dele. Abaixo estão cinco mulheres, de diferentes tons de pele e deficiências, como nanismo e uma cadeirante. Imagem: Shutterstock
A problematização de dar voz ao feminismo e às mulheres com deficiência dentro do movimento feminista.
Os estudos sobre perspectiva feminista e de gênero têm avançado enquanto fala de questões tais como: raça/etnia, orientação sexual, classe social, religião, entre outros. No entanto, as mulheres com deficiência ainda ficam á margem de discussões do movimento feminista.
É notória a falta de diálogo entre o movimento feminista e o movimento das pessoas com deficiência. Não importa o nome, pauta ou assunto abordado, nenhum movimento costuma inserir pessoas com deficiência em suas falas, como se a realidade dessa população fosse um caso a parte, fora de contexto.
Boa leitura!
Mulheres PcDs e Movimentos Feministas
Os movimentos feministas se tornaram um ato importante da redemocratização. A partir de meados dos anos 1970, os direitos das mulheres passaram a integrar a agenda da oposição ao regime autoritário. O feminismo é um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideológicos e filosofias que tem como objetivo comum direitos iguais e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcas, baseados em normas de gênero.
No Brasil, das 45,6 milhões de pessoas que têm algum grau de deficiência (23,9 da população brasileira), 25,8 milhões são mulheres ↗ (26,5% da população feminina), segundo Censo 2010 do IBGE. Essas mulheres, em sua expressiva maioria, encontram a invisibilidade e o silenciamento de suas vozes como barreira inicial, inviabilizando o exercício de seus direitos humanos e de cidadania.
Desigualdades, estigmas e barreiras
Essas mulheres são alvos de desigualdade de gênero e de discriminação no acesso á saúde, á educação e aos direitos econômicos, políticos e culturais. Nas empresas elas representam 0,8% dos 2% de trabalhadores e trabalhadoras com deficiência nas 500 maiores empresas no país.
Mulheres com deficiência sofrem para conseguir espaço seja ele no mercado de trabalho, na política, no cotidiano e nos meios de comunicação em massa para falar sobre assunto que são comuns para todas as mulheres. Esse mecanismo, de não dar voz a essa parcela da população, deixa evidente a desigualdade igualitária presente na sociedade.
As barreiras impostas, sejam elas físicas ou reflexos estereotipados, condicionam a entrada de um dos grupos mais vulneráveis no movimento feminista, que tem como ideologia ser um espaço seguro e acolhedor para todas as mulheres, independente de suas especificidades não se faz presente nas questões de dar voz a população.
Um longo caminho
Apesar do gênero ter sido incorporado pelos estudos sobre a deficiência como categoria de análise, a deficiência ainda não foi incorporada como categoria nos estudos feministas, temas que são intrínsecos á deficiência, como tecnologia reprodutiva, o lugar das diferenças corporais, as particularidades da opressão, a ética, o cuidado, e a construção de sujeito, são estudados no feminismo isoladamente, sem que se estabeleçam relações com a experiência da deficiência. Isso se dá ao fato de que ainda há uma noção reducionista de identidade em alguns estudos feministas.
O distanciamento das causas sociais, especialmente a da pessoa com deficiência, é fruto da indiferença da mídia e da sociedade. Por muito tempo essa parcela da população foi marginalizada, tinha que esperar que as outras pessoas fizessem tudo por elas, inclusive ser a voz de suas lutas por direitos. Eram impendidas de participar ativamente do convívio social, nem podiam levantar a voz em movimentos de luta por direitos, como é o caso do movimento feminista. É exatamente por essa postura passiva, cheia de preconceito histórico da sociedade que temas que vão além da acessibilidade, como a luta das mulheres com algum tipo de deficiência por direitos igualitários, infelizmente segue não sendo posto em discussão pela grande maioria dos grupos.
Apoio empresarial
Mas vale ressaltar que o mercado empresarial segue tentando se adaptar as duas causas citadas, podendo ser um caminho para maior integração entre as mesmas. Dr. Caitano Neto ↗, CEO da Saphir Educ ↗, e colaborador da OSEAD Brasil (ONG) ↗ é um exemplo, ele busca dar oportunidade no mercado de trabalho PCD, e apoiar causas feministas dentro da instituição educacional, dando voz as causas.
“É importante dar a palavra, apoiar e impulsionar diretrizes de liberdade, quero usar meus meios de comunicação para ceder espaço a todos que lutam por uma causa igualitária”, afirma o CEO.
Coletivo Feminista Helen Keller
Entretanto, na contra mão de outros movimentos, está o Coletivo Feminista Helen Keller, que a pouco tempo elaborou e disponibilizou para download o Guia Mulheres com Deficiência: Garantia de Direitos para Exercício da Cidadania.
Para baixar o Guia (arquivo em formato PDF), use este link: http://bit.ly/GuiaFeministaHelenKeller
O Coletivo Feminista Helen Keller é um coletivo de mulheres com deficiência que sentiu essa dificuldade de representatividade da diversidade dentro do movimento feminista e de mulheres. O coletivo atua pelo reconhecimento da importância do gênero na vivência da deficiência na causa dessa parcela da sociedade.
São mais de 50 integrantes das 5 regiões do país, atuando em parceria com outras entidades, no controle social, na execução de projetos, participação em eventos e manifestações e no desenvolvimento de campanhas virtuais pelas redes sociais Facebook, Instagram e Blogger.