Dia Mundial do Braille 2025: Celebrando o Bicentenário de Inclusão e Acessibilidade

Busto de Louis Braille em um pedestal com uma placa azul, em um jardim arborizado, com o texto "200 anos de Louis Braille" e "Dia Mundial do Braille 2025".

Legenda descritiva: Busto de Louis Braille em um pedestal com uma placa azul, em um jardim arborizado, com o texto "200 anos de Louis Braille" e "Dia Mundial do Braille 2025". (Foto: Thierry Caro / Editada)

Conheça a história inspiradora de Regina Oliveira, coordenadora de revisão de Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Neste artigo
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    Boa leitura!

    O Dia Mundial do Braille, comemorado anualmente em 4 de janeiro, tem um significado ainda mais especial em 2025: o bicentenário do nascimento de Louis Braille, criador do sistema que revolucionou a educação, a inclusão e a autonomia das pessoas com deficiência visual. Essa data não apenas celebra o legado de Braille, mas também reforça a importância da inclusão, acessibilidade e igualdade de direitos.

    O Legado de Louis Braille: 200 Anos de Impacto Global

    Louis Braille, nascido em 4 de janeiro de 1809, apresentou ao mundo um código de leitura e escrita que daria voz e liberdade às pessoas cegas em 1825, quando tinha apenas 15 anos. Este sistema de leitura e escrita tátil para pessoas cegas foi desenvolvido após ele ter perdido a visão aos 5 anos devido a um acidente na infância. Inspirado no método de escrita noturna de Charles Barbier, Braille simplificou e adaptou um sistema complexo de pontos em relevo, criando uma linguagem que transcende idiomas e culturas. Desde então, o Braille tem sido a chave para a educação, cultura e inserção social de milhões de pessoas com deficiência visual em todo o mundo.

    No Brasil, o sistema Braille foi oficializado pela Lei nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962 , consolidando o direito das pessoas cegas de acessar informações de maneira autônoma e digna. Desde então, essa ferramenta tem sido fundamental na inclusão educacional e profissional.

    Dorina Nowill: Uma Pioneira na Inclusão Brasileira

    Ao falar sobre Braille no Brasil, é indispensável destacar o trabalho de Dorina de Gouvêa Nowill, uma das principais defensoras dos direitos das pessoas com deficiência visual no país. Fundadora da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Dorina dedicou sua vida a ampliar o acesso ao Braille e a materiais em formato acessível. Sua atuação não apenas transformou a educação inclusiva, mas também inspirou políticas públicas que beneficiam milhares de brasileiros.

    A Fundação Dorina é referência nacional na produção de livros em Braille, audiolivros e publicações digitais acessíveis. Seu trabalho impacta diretamente a vida de crianças, jovens e adultos, proporcionando-lhes acesso ao conhecimento e ao mercado de trabalho.

    A Situação da Deficiência Visual no Brasil: Dados e Desafios

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022 do IBGE, cerca de 6,7 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência visual, sendo 582 mil com cegueira completa. Dentre essas pessoas, uma parcela significativa enfrenta desafios relacionados à educação, ao trabalho e à saúde.

    • Educação: Apenas 19,3% das pessoas com deficiência visual completaram o ensino médio, e menos de 6% chegam ao ensino superior.
    • Trabalho: A taxa de desemprego entre pessoas com deficiência é de 27%, enquanto a média nacional é de 8,9%. A falta de acessibilidade em ambientes corporativos é uma barreira recorrente.
    • Saúde: O acesso a serviços de reabilitação visual e tecnologias assistivas ainda é limitado, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do país.

    Avanços Legais e Políticas de Inclusão

    A inclusão de pessoas com deficiência visual no Brasil conta com importantes avanços legislativos:

    • Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) : Estabelece direitos fundamentais, como educação, saúde, transporte e trabalho, e obriga a acessibilidade em todas as esferas da sociedade.
    • Decreto nº 5.296/2004 : Regulamenta a acessibilidade e impõe obrigações a órgãos públicos e privados para garantir adaptações nos serviços oferecidos.
    • Lei do Cão-Guia (Lei nº 11.126/2005) : Garante o direito de pessoas cegas a ingressar e permanecer em espaços públicos e privados acompanhadas de seus cães-guia.

    Essas leis são pilares na construção de uma sociedade mais inclusiva e reforçam o compromisso do Brasil com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

    Braille e o Futuro da Acessibilidade

    Com o avanço das tecnologias digitais, surgem novas formas de inclusão, mas o Braille continua sendo indispensável. Dispositivos eletrônicos com teclados em Braille, impressoras e leitores digitais táteis mantêm viva a relevância desse sistema, garantindo que ele se adapte às novas gerações.

    A promoção do Braille nas escolas, empresas e órgãos públicos é essencial para assegurar a plena participação de pessoas cegas na sociedade. Programas de formação e capacitação são fundamentais para ampliar as oportunidades e reduzir as desigualdades existentes.

    Um Futuro Mais Inclusivo

    O Dia Mundial do Braille em 2025 não é apenas uma celebração do bicentenário de Louis Braille, mas um convite à reflexão sobre os desafios e conquistas das pessoas com deficiência visual. A construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva passa pelo compromisso coletivo de governos, empresas e toda a sociedade.

    Em 2025, que o legado de Braille inspire novas gerações a lutarem por acessibilidade e igualdade, consolidando o Braille como um instrumento de liberdade e autonomia.

    Confira o relato inspirador de Regina Oliveira, coordenadora de revisão de Braille na Fundação Dorina. Cega desde os 7 anos devido ao glaucoma, Regina encontrou apoio na Fundação Dorina, onde aprendeu Braille ainda na infância. Esse aprendizado foi fundamental para recuperar seu desejo de ler e escrever. Em seu relato, ela compartilha como o Braille transformou sua vida e impulsionou sua trajetória.

    Dia Mundial do Braille 2025: 200 anos de Louis e de Luz!

    “Sentada confortavelmente numa poltrona, leio um livro que ganhei de presente de aniversário!

    Minhas mãos planam pelas páginas que, para os que enxergam, parecem estar em branco.

    Numa fração de segundos, pontos se convertem em símbolos, símbolos se conectam formando palavras, palavras se juntam formando frases, estas se unem e, por meio dos meus terminais nervosos, chegam à minha mente, ao meu coração e ao meu espírito, inundando-os de uma emoção intraduzível.

    Nasci com aquela que, para muitos, é considerada a mais cruel de todas as deficiências. Talvez assim seja, uma vez que, segundo dizem, mais de 80% de tudo o que está fisicamente no mundo só pode ser captado pela visão.

    Regina Oliveira, pessoa com deficiência visual, ilustrando artigo sobre Dia Mundial do Braille.
    Descrição da imagem #PraGeralVer: Fotografia de Regina Oliveira, uma mulher branca de cabelos curtos, na altura dos ombros. Ela está parada em frente a uma parede amarela, veste camisa azul e óculos escuros. Regina tem deficiência visual e segura uma bengala branca (Foto: Divulgação / Fundação Dorina Nowill para Cegos)

    Felizmente, aquela menininha de 8 anos de idade, cujo maior sonho era aprender a ler e escrever, ainda não tinha recebido esta informação. Então, quando um anjo chamado Elza lhe apresentou uma reglete e um punção e, pouco tempo depois,lhe entregou um cartãozinho com algumas palavras que ela leu quase  chorando de emoção, soube que chegaria aonde quisesse chegar!

    Os livros didáticos me traziam palavras e ideias novas, mostravam mapas de lugares distantes que eu não veria, mas cuja forma e localização registraria, me davam autonomia para resolver cálculos, contavam fatos que me ajudavam a entender o mundo… E mais: descreviam animais, vegetais e minerais, reproduziam monumentos e obras de arte e, assim, fui crescendo, recebendo pelo tato o conhecimento que meus colegas recebiam pela visão.

    E porque adorava ler, visitei sozinha castelos e florestas encantadas, conheci princesas, fadas e duendes, escondi-me na ilha de Robinson Crusoé, brinquei com o Pequeno Príncipe, passei férias maravilhosas no Sitio do Picapau Amarelo…

    Já adulta, a leitura me guiou pela Europa de Shakespeare, pelo Rio de Janeiro de Machado de Assis, pelo Rio Grande do Sul de Veríssimo, pela África de Mia Couto e por mil outros lugares que nunca vi, mas que explorei com mãos ágeis, curiosas e emocionadas…

    E por tudo isso, minha escolha profissional não poderia ter sido outra a não ser aquela que me permitisse continuar conhecendo o mundo, tecendo a vida e levando a crianças e jovens cegos a oportunidade de transformar mais de 80% de desvantagens em uma porcentagem incalculável de superações, descobertas e conhecimentos.

    Hoje, as novas tecnologias me proporcionam momentos de cultura, lazer, interatividade, informação e muito mais! Todavia, estou convicta de que só me foi possível transpor os portais desta nova era graças à Luz de Louis!

    E é com este singelo texto que homenageio os 200 anos do Sistema Braille, na esperança de que ele continue chegando às mãos de todos aqueles que dele precisam para que possam, como eu, viver com independência, autonomia e dignidade e ser protagonistas de suas próprias histórias!”

    Para saber mais sobre a Fundação Dorina Nowill e o trabalho de inclusão no Brasil, visite o site oficial (https://fundacaodorina.org.br/ ) e acompanhe as iniciativas de educação e acessibilidade.

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