Agência da ONU para Refugiados já registra 130 pessoas com deficiência em abrigos do norte do Brasil; cadeirante venezuelana reconstrói a vida com sua mãe, marido e filha de um ano e seis meses
A venezuelana Gabriela Peña chegou ao Brasil há pouco mais de três anos e, há dois, com dedicação e profissionalismo, ajudou a família a alcançar a independência financeira. Formada em Administração pelo Instituto Tecnológico da Venezuela, a profissional que anteriormente trabalhava em um aeroporto venezuelano na área de alfândega, hoje faz parte da equipe de recursos humanos de um grande grupo de medicina do país.
Boa leitura!
Cadeirante refugiada da Venezuela
Mas chegar a este estágio da integração local em um novo país não foi fácil. Antes do atual emprego, Gabriela atendia clientes em uma empresa de tecnologia e computadores – vaga obtida através do PoupaTempo, do governo do Estado de São Paulo. Durante oito meses, dedicou seu tempo à nova empresa e às aulas de português em instituições parceiras do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), como a Cáritas São Paulo e o Sesc-SP.
Em 2019, ela conseguiu o atual emprego durante uma das sessões do projeto Empoderando Refugiadas, uma parceria entre o ACNUR, a Rede Brasil do Pacto Global e a ONU Mulheres para facilitar que mulheres refugiadas tenham uma formação específica e continuada para o ingresso no mercado de trabalho no Brasil – incluindo mulheres com deficiência.
“Não é fácil. No começo nada é fácil. Mas aqui no Brasil, existe uma lei que protege as pessoas com deficiência e que obriga empresas a ter uma cota de contratações. (..) Eu já passei por duas empresas e não tenho o que reclamar de nenhuma das duas”, afirma Gabriela.
Garantia de oportunidade
Atualmente, estima-se que pessoas com deficiência correspondem a 15% da população mundial. No que diz respeito ao deslocamento forçado, essa proporção pode ser ainda maior, com 12 milhões de pessoas com alguma deficiência. Segundo dados coletados pelo ACNUR em abrigos localizados no norte do Brasil, existem 130 pessoas com deficiência registradas.
Em nota, o ACNUR informa que Gabriela é mais um exemplo da importância da geração de emprego para refugiadas e migrantes com deficiência. Foi com a inserção dela no mercado de trabalho que a família encontrou estabilidade para reconstruir a vida deixada na Venezuela.
“É fundamental trabalharmos para garantir oportunidades para pessoas com deficiência, já que frequentemente correm maior risco de violência, exploração e abuso, além de enfrentarem barreiras para ter acesso a serviços básicos e serem excluídas das oportunidades de educação e subsistência”, afirma Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório do ACNUR em São Paulo.
Acolhimento e INTEGRAÇÃO
Essa é a primeira vez que ela trabalha com RH, e diz que está conhecendo processos relacionados a modalidades de contratação e leis brasileiras que não existem em seu país. Antes de iniciar sua trajetória no mercado de trabalho brasileiro, Gabriela, a mãe e o marido desembarcaram em Pacaraima (RR), fronteira brasileira com a Venezuela.
Três meses após chegarem ao Brasil, Gabriela e a família foram beneficiados pelo programa de interiorização da Operação Acolhida em 2018. Foram para Cuiabá (MT), mas não encontraram oportunidade sendo direcionados a São Paulo. Por ser cadeirante, Gabriela teve dificuldade para encontrar uma moradia adequada que coubesse no orçamento, até se mudar para o bairro do Butantã, na zona oeste paulistana.
Hoje, a família vive em Caucaia do Alto, distrito do município de Cotia que integra a região metropolitana de São Paulo. Lá, Gabriela e o marido acompanham o crescimento da Frida, filha de um ano e seis. O nome da criança homenageia a artista mexicana Frida Khalo (1907 – 1954), mulher com deficiência, símbolo de resistência e do feminismo pós-moderno, por seu engajamento e empoderamento social em um cenário ainda conservador.
Pessoas com deficiência e integração
Este é um tema que ganha vez mais espaço para discussão, principalmente quando se destacam grandes feitos de pessoas com deficiência, como aconteceu durante os recentes Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, que contaram com a Equipe Paralímpica de Refugiados e também trouxeram histórias incríveis de comprometimento e desejos de construírem um futuro mais seguro para suas famílias.
O ACNUR trabalha para garantir que mulheres, meninas, homens e meninos com deficiência tenham acesso a serviços vitais e a oportunidade de mostrar suas habilidades e capacidades para beneficiar a si, suas famílias e comunidades de acolhida. Em 2021, a Agência publicou um relatório sobre como fortalecer a proteção de pessoas com deficiência em situação de deslocamento forçado ↗, para encontrar as melhores soluções possíveis para esses casos.
Projeto Empoderando Refugiadas
O Empoderando Refugiadas está em sua sexta edição e trabalha a empregabilidade de mulheres refugiadas e migrantes em Boa Vista (RR), além de promover o engajamento de empresas para a contratação dessas mulheres. O projeto é uma parceria entre o ACNUR, Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres.
“O projeto Empoderando Refugiadas propicia meios para que as mulheres refugiadas possam aprimorar e buscar novos conhecimentos, assegurando os saberes que já trazem consigo para que, no Brasil, possam reconstruir suas carreiras profissionais com dignidade, cientes de seus direitos”, destaca Camila Sombra, Associada de Meios de Vida do ACNUR.
O Empoderando Refugiadas conta com o apoio das empresas Unidas, Renner, MRV, Iguatemi, Sodexo e Facebook.
Com informações de Ana Carolina Cipriano | 10 Sep 2021
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