O especialista em desenvolvimento web explica a importância de garantir a Acessibilidade na Web para promover a Inclusão Digital.
Atualmente é impossível pensar em acessibilidade na web, no Brasil, sem falar sobre Reinaldo Ferraz ↗. Formado em desenho e computação gráfica e pós graduado em design de hipermídia, é autor de quatro livros, e Especialista em Desenvolvimento Web no NIC.br, onde coordena as iniciativas de acessibilidade na Web.
Cada site, a cada texto, nos posts e em conversas sobre a necessidade é um pequeno e necessário passo na longa caminhada em busca da Inclusão Digital. Defendendo uma mudança social, de pensamento, de cultura, fazer da Internet um ambiente inclusivo é uma das bandeiras deste site.
Desde a criação desta iniciativa de Jornalismo Inclusivo, em 2017, nas redes sociais, o slogan “Acessibilidade e Inclusão em Notícias” sempre esteve associado ao símbolo de acessibilidade, representado pelo pictograma de uma pessoa em cadeira de rodas segurando um celular.
Se no mundo físico, a acessibilidade depende da boa vontade política e empresarial, com obras de alto custo, que podem demorar a serem realizadas, no digital deveria ser diferente. Afinal, diversas ferramentas gratuitas estão ao alcance de todos. Mas infelizmente não é.
De acordo com a Revista Galileu, um levantamento realizado pelo Movimento Web para Todos e pela plataforma BigDataCorp ↗, mostra que “apenas 0,74% dos sites brasileiros são acessíveis a pessoas com deficiência”. E esse dado preocupa.
Preocupa porque hoje em dia, não é difícil promover a acessibilidade na internet. E não é algo que está somente ao alcance de programadores e web designers. Todos temos acesso a tecnologias e práticas que podem tornar qualquer conteúdo acessível.
Qualquer um pode e deve fazer um post com texto alternativo para descrever imagens e qualquer tipo de informação visual relevante, por exemplo. Além disso, como citado anteriormente, há diversas possibilidades de legendar vídeos, e fazer áudio descrição por meio de aplicativos.
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Confira dicas do Reinaldo Ferraz sobre “Serviços para Adicionar Legendas em Vídeos”, no link: https://reinaldoferraz.com.br/servicos-para-adicionar-legendas-em-videos/ ↗
Entretanto, o que vemos na maioria esmagadora de websites, é também um reflexo da sociedade, de grandes empresas e políticos: A falta empatia – e nos seus três componentes: afetivo, cognitivo e reguladores de emoções.
É necessário colocar-se no lugar do outro, e imaginar como é para um cadeirante acessar um prédio sem rampas. É imaginar uma pessoa surda querendo assistir um vídeo sem legendas no YouTube, ou um cego passando por um post sem Texto Alternativo no Instagram, que descreve as imagens para os leitores de tela.
O assunto sobre como inserir legenda e descrição é extenso. Rende diversos artigos e publicações, como os dois livros Acessibilidade na Web (2018) e Acessibilidade na Web – Boas práticas para desenvolver sites e aplicações acessíveis (2020), lançados pelo entrevistado, Reinaldo Ferraz. Então, sem mais delongas, vamos para a entrevista:
Entrevista: Reinaldo Ferraz é especialista em Acessibilidade na Web
Como o NIC.br enxerga a importância de tornar a web num ambiente mais inclusivo, por meio da acessibilidade?
Tornar a Web um ambiente mais inclusivo é fundamental para que possamos garantir que todos tenham as mesmas oportunidades na rede. Uma pessoa com deficiência que encontra barreiras de acesso em uma aplicação Web devido a problemas de codificação pode não conseguir exercer seus direitos como cidadão. Isso pode ser exemplificado quando a pessoa tenta solicitar um documento on-line, participar de um grupo ou comunidade em rede ou mesmo ler uma documentação ou lei. A barreira não é devido a sua deficiência e sim devido a codificação sem seguir padrões que eliminam essas barreiras. A acessibilidade permite a igualdade de oportunidades.
A que nível o Brasil está, em relação a outros países, quando falamos em acessibilidade na web, na prática?
É difícil fazer uma comparação entre países. Conheço poucas pesquisas de outros países e suas metodologias são diferentes. Mas dá para ter uma ideia. Segundo a pesquisa TIC Web, promovida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, aproximadamente 5% das páginas governamentais seguem os padrões de acessibilidade ↗ estabelecidos pelo governo (esses são dados da pesquisa de 2017, mas continuam atuais). Já no Reino Unido esse número de sites governamentais que seguem as diretrizes locais está em torno de 40% ↗. Mesmo sabendo que a metodologia e o número de sites é diferente (no Brasil são mais de 1.300 domínios governamentais e no Reino Unido em torno de 270), esses números preocupam.
As pesquisas apontam que os sites têm sérios problemas de acessibilidade por não seguir padrões que eliminam as barreiras. Elas não abordam ferramentas para tornar os sites acessíveis. A acessibilidade costuma ser invisível para quem não tem deficiência, como por exemplo descrição de imagens. Quem enxerga consegue ver a imagem. Quem não enxerga tem acesso ao texto alternativo.
Sites com problemas de acessibilidade estão longe de ser exclusividade do Brasil, mas creio que algumas coisas contribuem para não tomarmos medidas para solucionar isso. Uma delas é a legislação que não é clara sobre o que deve ser feito para tornar o site acessível e leis que punam de verdade sites e serviços que sejam inacessíveis para pessoas com deficiência. Acho que o Brasil melhorou muito, mas ainda tem um longo caminho para seguir para respeitar as pessoas com deficiência.
Hoje temos recursos tecnológicos bastante sofisticados e não tão caros para quem quer fazer uma “live” acessível. As ferramentas que apresentei no blog são alguns exemplos de como qualquer pessoa pode dar um passo para tornar a rede mais acessível. Grandes instituições que oferecem “lives” com artistas famosos já perceberam que eles conseguem atingir um público maior proporcionando acessibilidade e à medida que essa informação é projetada para o grande público, que nunca entendeu a necessidade da acessibilidade, eles percebem que conseguem ir além. Lembro que a Marília Mendonça começou com “lives” com intérprete de Libras e depois adicionou audiodescrição. É um baita negócio.
Acho que precisa popularizar ainda mais. Fazer eventos acessíveis, transmissões, bate-papos e tudo mais. Pessoas com deficiência muitas vezes não conseguem assistir a um show por falta de acessibilidade e essa falta de acessibilidade faz parecer que não há público para os shows.
É a mesma coisa que o dono de uma loja de rua com uma enorme escada na frente dizer que não precisa adequar sua loja porque um cadeirante nunca entrou na loja.
Reforço o coro de que temos que tornar a acessibilidade um tema comum, e não de um grupo específico.
Livro Acessibilidade na Web (2020)
Reinaldo Ferraz lançou recentemente o livro “Acessibilidade na Web – Boas práticas para desenvolver sites e aplicações acessíveis”. Assista ao vídeo no final do texto, onde ele fala sobre as motivações de escrevê-lo.
Lista das publicações do especialista
- Acessibilidade na Web – Boas práticas para desenvolver sites e aplicações acessíveis (2020);
- Tendências da Web (2018);
- Acessibilidade na Web (2017);
- Coletânea Front-end – Uma antologia da comunidade front-end brasileira (2014);
Confira o site do Reinaldo Ferraz: https://reinaldoferraz.com.br/ ↗
Lançamento do livro em evento on-line. Assista ao vídeo:
O Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) do NIC.br realizou, no dia 21 de maio de 2020, evento online ↗ para debater os desafios da Acessibilidade na Web. No vídeo a seguir, Ferraz agradece o envolvimento de todos com acessibilidade.
“A gente percebe que é uma luta constante para conseguirmos manter a acessibilidade na web, como tema relevante na sociedade. É muito fácil relegar o tema da acessibilidade, dizendo que o custo é muito alto. Então, é super importante ter toda essa comunidade participando”
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