Como um projeto escolar no Ceará transforma percepções sobre mulheres com deficiência

Grupo de estudantes em frente a um mural escolar, autores de um projeto de empoderamento de mulheres com deficiência, representando Paramoti no Ceará Científico 2024.

Legenda descritiva: Grupo de estudantes de Paramoti posando em frente a um mural. Eles são responsáveis pelo projeto escolar de empoderamento de mulheres com deficiência, que está participando do Ceará Científico 2024. (Foto: Acervo pessoal)

Criado por estudantes do ensino médio, o projeto escolar vai representar o colégio Tomé Gomes dos Santos no Ceará Científico 2024.

Em Paramoti, pequeno município do interior do Ceará, um projeto escolar está causando impacto na forma como a comunidade local enxerga as mulheres com deficiência. Intitulado “Elas e Seus Poderes de Transformação”, o projeto científico foi idealizado pela professora de sociologia Cristiane Rodrigues Uchôa e estudantes da EEMTI Tomé Gomes dos Santos, buscando desconstruir estereótipos e promover a valorização de mulheres com deficiência através de práticas pedagógicas inovadoras.

A iniciativa, que concorre no Ceará Científico 2024, utiliza círculos de leitura como ferramenta principal para fomentar discussões sobre equidade de gênero e proteção às mulheres. O projeto, que se enquadra na categoria PcD (Pessoa com Deficiência) — temática Equidade de Gênero e Proteção às Mulheres, está prestes a representar a escola e o município na etapa regional do evento, marcada para esta sexta-feira (11).

“Nosso objetivo é criar um espaço onde os participantes possam refletir e debater temas importantes, como preconceitos, através de narrativas inspiradoras de mulheres emancipadas”, afirma Cristiane Uchôa, em entrevista concedida à redação do site Jornalista Inclusivo.

Este projeto resultou no site Elas e Seus Poderes de Transformação (que será lançado no Ceará Científico), e no livro “Mulheres Extraordinárias”, uma coletânea de mulheres nacionais e internacionais, organizada pela aluna Maria Eugênia Oliveira Arruda e seu colega Marcos Aurélio Rodrigues Lopes. A publicação pode ser baixada gratuitamente, em formato PDF, neste link

O Poder da Leitura como Ferramenta de Transformação

O projeto “Elas e Seus Poderes de Transformação” adota uma abordagem única, utilizando a leitura como catalisador para mudanças significativas. “Através da leitura, conseguimos libertar o leitor de uma formação alienada e proporcionar um entendimento mais profundo sobre os direitos e as lutas que moldaram nossa sociedade”, explica Cristiane Uchôa.

Os círculos de leitura, principal atividade do projeto, exploram biografias e histórias de mulheres que superaram adversidades, incentivando a autoestima e a autonomia das participantes. Uma aluna envolvida no projeto compartilha: “Conhecer essas histórias de superação me fez perceber que eu também posso ser protagonista da minha própria história. É inspirador e transformador.”

A iniciativa vai além da simples leitura, promovendo discussões aprofundadas sobre a história dos movimentos que conquistaram direitos para as pessoas com deficiência e mulheres. “Acreditamos que é essencial que conheçamos nossos direitos e que estejamos cientes do futuro que queremos construir, tanto para nós quanto para as próximas gerações de pessoas com deficiência”, ressalta uma participante da equipe do projeto.

Entre as ações desenvolvidas, destaca-se a estante itinerante “Mulheres Incríveis”, que leva livros e histórias de impacto para diferentes espaços da comunidade. “Ver o brilho nos olhos das pessoas quando entram em contato com essas narrativas é emocionante. Percebemos que estamos plantando sementes de mudança”, comenta uma das alunas responsáveis pela ação.

Descrição da imagem: Um grupo de treze pessoas, incluindo estudantes e uma mulher com deficiência que contribuiu com o projeto, posam para uma foto em uma área aberta da escola. No centro, uma mulher está em uma cadeira de rodas, sorrindo e segurando um presente. Ao lado, há uma mesa coberta com toalha rosa e um arranjo de girassóis. (Foto: Reprodução/Acervo escolar)

Ações Concretas e Impacto na Comunidade

O projeto “Elas e Seus Poderes de Transformação” não se limita ao ambiente escolar. Desde o início do ano, a equipe tem realizado uma série de atividades que visam alcançar toda a comunidade de Paramoti e região. Entre as iniciativas mais impactantes, destacam-se:

1. Roda de Conversa e Café Literário: Espaços de diálogo onde participantes compartilham experiências e discutem obras literárias focadas no protagonismo feminino. Uma das organizadoras relata: “Nesses encontros, vemos como as histórias ressoam com as vivências das participantes. É um processo de autodescoberta e empoderamento coletivo.”

2. Visita à Exposição “O Que Não Nos Disseram”: A equipe do projeto organizou uma excursão a esta exposição, que aborda temas frequentemente silenciados sobre a experiência feminina. “Foi uma oportunidade de ampliar horizontes e questionar narrativas estabelecidas”, comenta uma aluna participante. 

3. Parceria com o Instituto Maria da Penha: Uma palestra em colaboração com o Instituto Maria da Penha trouxe à tona discussões sobre violência contra a mulher e mecanismos de proteção. Cristiane Uchôa destaca que “Essa parceria foi fundamental para abordarmos um tema tão crucial de forma responsável e informativa.”

4. Visitas a Escolas Municipais e CEI: O projeto expandiu seu alcance, levando suas mensagens e atividades para outras instituições educacionais da região. “Levar nossa iniciativa para outras escolas nos mostrou o quanto esse trabalho é necessário e como pode impactar positivamente diferentes comunidades”, afirma um dos alunos envolvidos.

5. Palestra Virtual com a Professora Neiva da UFC: Esta atividade proporcionou aos participantes uma perspectiva acadêmica sobre questões de gênero e deficiência. “A palestra da professora Neiva abriu nossos olhos para aspectos que não havíamos considerado antes, enriquecendo muito nosso projeto”, relata Cristiane.

O impacto dessas ações é visível na comunidade. Professores de outras escolas têm relatado mudanças positivas no comportamento e na percepção dos alunos em relação a questões de gênero e inclusão. Uma diretora de escola municipal comenta: “Percebemos uma maior sensibilidade e respeito entre os alunos desde que o projeto começou a circular por aqui. É uma mudança sutil, mas significativa.”

Resumo das ações do projeto

  • Circuito de Leitura
  • Roda de Conversa
  • Café Literário
  • Visita a Exposição: O Que Não Nos Disseram
  • Palestra em parceria com o Instituto Maria da Pena
  • Visita a escolas municipais e CEI
  • Estante itinerante “Mulheres Incríveis”
  • Estante itinerante “O poder nas escrituras (Mulheres Bíblicas)”
  • Palestra virtual com a professora Neiva – UFC
  • Biblioteca Poder das Vozes Femininas
  • Entrevistas
  • Livro “Mulheres Extraordinárias”
  • Site Elas e Seus Poderes de Transformação

Ceará Científico 2024: Um exemplo para o Brasil

Iniciativa da Secretaria da Educação do Ceará (SEDUC), o Ceará Científico  visa popularizar a ciência e promover o desenvolvimento de tecnologias nas escolas públicas estaduais. O projeto “Elas e Seus Poderes de Transformação” será o representante de Paramoti no evento, destacando-se pela sua abordagem inovadora e o impacto social que tem gerado.

O Ceará Científico é um exemplo de como iniciativas educacionais podem promover a interdisciplinaridade e contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e inclusiva. Projetos premiados no evento têm a oportunidade de representar o estado em eventos nacionais e internacionais, levando o nome do Ceará para fora do Brasil.

O projeto “Elas e Seus Poderes de Transformação” demonstra como a educação pode ser uma poderosa ferramenta de mudança social. Ao empoderar mulheres com deficiência e conscientizar a comunidade sobre a importância da inclusão e da equidade de gênero, essa iniciativa se destaca como um exemplo a ser seguido por outras escolas e comunidades ao redor do Brasil. 

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Rafael F. Carpi

Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.

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