Eletroestimulação Neuromuscular

Eletroestimulação Neuromuscular

Descrição da Imagem #PraCegoVer: Fotografia do Vitor Hugo Santos Franco, 13 anos, com paralisia cerebral nível V, em sessão de Eletroestimulação Neuromuscular. Vitor é um garoto branco e está em decúbito ventral (ou deitado de bruços), com a camiseta levantada e com 4 eletrodos posicionados em paravertebrais para ativação de tronco e alinhamento postural, enquanto realiza atividades de alcance e brincadeiras lúdicas. Fim da descrição | Foto: Arquivo/Carol Nunes

Estimulação elétrica direcionada à tarefa como um potente recurso terapêutico

Em seu novo artigo, a Fisioterapeuta Neurofuncional Carol Nunes fala da potencialidade de associar a eletroestimulação neuromuscular a uma tarefa funcional

Hoje eu vou falar um pouco sobre um recurso terapêutico muito popular, a eletroestimulação neuromuscular (NMES). Também conhecida apenas como eletroestimulação, se trata da indução da contração muscular usando impulsos elétricos. 

Consiste no uso de um aparelho gerador da corrente, eletrodos e fios de condução duplos, onde um é polo negativo e o outro positivo, gerando um circuito de condução elétrica. Quando aplicada sobre o ponto motor de um músculo, essa ativação gera uma contração muscular involuntária. 

Existem diferentes tipos de eletroestimulação . Mas dessa vez vou falar da TASES (Task Specific Electrical Stimulation), que é uma modalidade do FES.  A sigla FES (Functional Electrical Stimulation ou em português Estimulação Elétrica Funcional) se refere a uma corrente alternada de baixa frequência, que provoca contrações musculares. Por exemplo, quando posicionado em ponto motor de bíceps braquial, acionamos um movimento de flexão de cotovelo. E assim com todos os músculos que forem recrutados. 

Porém precisamos fazer uma definição mais clara desse método, que se refere ao processo de associar a estimulação com uma tarefa funcional. 

Foto sobre Eletroestimulação Neuromuscular
Descrição da Imagem #PraCegoVer: Dessa vez, Vitor está sem camiseta, sentando com cunha abdutora entre as coxas para abdução de quadris e alinhamento biomecânico. Está sentado sozinho, com auxílio da eletroestimulação, para realizar atividades lúdicas de alcançar bolas e arremessa-las. Ele está com o braço esticado para alcançar o objeto. A sua frente aparece o braço da terapeuta com uma bola vermelha na mão. Fim da descrição | Foto: Arquivo/Carol Nunes

Eletroestimulação Neuromuscular: Pasiva e Ativa

Ligar um indivíduo a um aparelho de eletroestimulação neuromuscular apenas, e deixá-lo recebendo a corrente por um período de tempo é um ato muito passivo. Existem estudos que nos mostram que apenas excitar a musculatura passivamente apresenta ganhos maiores do que não realizar nenhum tipo de intervenção. Pensando assim, em pacientes acamados, ou com alguma condição específica grave, em que não conseguimos associar com a funcionalidade, a corrente trará impactos positivos, mesmo que muito pequenos. 

Entretanto, de um modo mais amplo, a estimulação passiva se torna apenas uma forma de aumentar a ativação muscular, mas não trará ganhos em relação a movimentos ativos e tão pouco em relação a funcionalidade do indivíduo. 

Para que possamos aproveitar os reais efeitos positivos do uso da corrente, e para que proporcionemos aprendizado motor e aquisição de movimento, a eletroestimulação neuromuscular deve estar associada à um treino funcional. Desse modo, utilizamos a contração a nosso favor, dentro de uma atividade em que o indivíduo necessitava de maior recrutamento de unidades motoras. Isso sim gera aprendizado motor. 

Retomando o primeiro exemplo, se meu indivíduo tem uma fraqueza importante e não consegue flexionar o cotovelo o suficiente para levar o copo a boca no ato de beber água, nós podemos aumentar a ativação de bíceps braquial, aumentando o arco de movimento pra flexão de cotovelo e o mesmo alcançará o copo à boca. Então nós aumentamos o movimento de flexão de cotovelo, que impactou uma melhora funcional. 

Foto sobre Eletroestimulação Neuromuscular
Descrição da Imagem #PraCegoVer: Fotografia do Vinícius, irmão gêmeo do Vitor, das fotos anteriores. Ele está sentado na cadeira, e tem um par de eletrodos ativando bíceps braquial e o outro par ativando flexores de dedos. Para execução de tarefa de encaixe. Ele segura uma peça colorida de brinque. Fim da descrição | Foto: Arquivo/ Carol Nunes

Eletroestimulação Neuromuscular: TASES

A modalidade TASES é baseada em evidências científicas, para adultos e crianças com afeções neurológicas onde a inervação está preservada. A diferença do TASES para o FES é que o TASES não foca apenas no movimento específico, focamos na tarefa específica. A partir daqui vamos detalhar a técnica e como aplicamos na prática clínica. 

TASES é uma abordagem diferenciada, utilizada em pacientes com desordens neuromotoras. Nessa modalidade o terapeuta utiliza um aparelho de eletroestimulação de baixa intensidade e um controle remoto, através do qual músculos específicos são estimulados no momento exato em que deveriam se contrair, garantindo sincronismo muscular enquanto o paciente realiza movimentos de tarefas específicas, como por exemplo marcha, alcance de objetos, tarefas bimanuais, trocas posturais, manutenção de posturas, entre outros. A TASES é utilizada para fornecer entrada sensorial e motora no momento em que os músculos precisam estar ativos na função. Ela pode tanto auxiliar a iniciar o movimento como a mantê-lo. 

A estimulação elétrica pode ativar a musculatura e proporcionar percepção sensorial e motora ao indivíduo. Este aumento da consciência muscular e da capacidade do músculo para contrair melhora a função muscular e o movimento. Os músculos se tornam mais ativos e a capacidade funcional vai gradativamente se tornando desempenho motor. Ou seja, o que o indivíduo é capaz de fazer, mas não faz, aos poucos vai se tornando o que ele efetivamente faz na sua rotina diária. Também observamos que com o aprendizado motor há permanência de ganhos a longo prazo. 

Foto sobre Eletroestimulação Neuromuscular
Descrição da Imagem #PraCegoVer: Criança branca com cabelo preto de costas para a foto. A sua frente tem uma caixa de brinquedos. O garoto está sem camiseta, com eletrodos posicionados em paravertebrais torácicos e trapézio esquerdos, fibras superiores, para alinhamento biomecânico de coluna e equilíbrio no uso dos membros superiores. Fim da descrição | Foto: Arquivo/Carol Nunes

Eletroestimulação: O ponto certo!

O ponto difícil da TASES é determinar quais músculos precisam ser mais ativados naquela função, para aquele indivíduo específico. Diferentes indivíduos podem ter comprometimento na mesma função, porém são músculos diferentes que se apresentam acometidos. Por isso é muito importante uma avaliação criteriosa de um fisioterapeuta, que deve considerar a biomecânica e a cinesiologia do movimento desejado, no momento e posicionamento desejado. 

Também observamos que com a melhora da função e aumento do controle muscular, há maior controle de movimentos não desejados ou involuntários, e também diminuição da espasticidade. 

A TASES se diferencia das demais eletroestimulações por apresentar parâmetros técnicos muito específicos e seleção criteriosa de musculatura alvo. A eficácia da técnica se dá através da melhora na amplitude de movimentos, percepção corporal, iniciação do movimento, função manual, controle postural, mobilidade e qualidade de marcha. 

Foto sobre Eletroestimulação Neuromuscular
Descrição da Imagem #PraCegoVer: Fotografia mostra um braço infantil, com um par de eletrodos localizamos em antebraço e base da mão. Fim da descrição | Foto: Arquivo/Carol Nunes

Eletroestimulação Dinâmica

A TASES é uma modalidade mais dinâmica da eletroestimulação. Pelo aparelho ser abastecido com pilhas, e não precisar ser conectado à tomada, conseguimos treinar funções dinâmicas e em ambientes externos. Outros pontos positivos são:

– Não precisamos restringir o movimento ao tamanho da sala, ou tamanho do fio e do indivíduo.

– Podemos treinar marcha, marcha em esteira, subir e descer escadas, deslocamentos em ruas e parques, trocas posturais de um lugar a outro.

– Podemos associar as contrações às brincadeiras das crianças, sem precisar da colaboração da mesma, e sem tornar o movimento um ato mecânico e engessado.

– Ele pode acontecer de maneira espontânea e livre, enquanto o terapeuta observa e ocasiona os acionamentos nos momentos necessários. 

– Há um maior conforto e maior aceitação referida pelos pacientes e por suas famílias. E também por parte dos terapeutas, que conseguem tornar as terapias um ambiente mais divertido, mais prazeroso, mais funcional e que faça mais sentido aos nossos pacientes. 

Gostaria de ilustrar com exemplos mais fáceis de visualizar. Podemos melhorar a postura do sentar e desenvolver habilidades sentado. Podemos melhorar atividades manuais como cortar a comida no prato, fechar botões, escovar os dentes e calçar os sapatos. Treinar marcha em terrenos irregulares e com obstáculos. Passar de sentado para em pé. Sustentação em pé para realizar atividades nesta posição. Permanecer sentado sem desequilíbrio durante a execução de esportes adaptados. E qualquer outra função que seja relevante na rotina do indivíduo. 

Sendo assim, a corrente elétrica deve ser usada, preferencialmente, de modo dinâmico e direcionado à tarefas especificas e relevantes. Para que possamos realmente impactar de forma positiva a rotina do nosso indivíduo e lhe oferecer uma maior independência  naquela função que lhe trará maior qualidade de vida! 

Carol Nunes

Carol Nunes

Formada em Fisioterapia, Ana Carolina tem especialização Neurofuncional com enfoque Neuropediatrico. É coordenadora do setor Neurofuncional da clínica Fisiocenter, em Itu (SP), onde atende como Fisioterapeuta. No site Jornalista Inclusivo é responsável pelo espaço "Sem Filtro & Com Afeto".

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