Documento elaborado pela SNPAR em parceria com a CBDS, o Diagnóstico do Surdoatleta demonstra a diversidade e a realidade dos atletas surdos no Brasil
Realizada pela Confederação Brasileira de Desporto de Surdos (CBDS), entre os dias 4 e 7 de dezembro, a Surdolimpíada Nacional 2021, em São José dos Campos (SP), foi o ponto de partida para a elaboração do diagnóstico do surdoatleta no Brasil.
Boa leitura!
Uma iniciativa inédita, o diagnóstico apresentado pela Secretaria Nacional de Paradesporto (SNPAR), da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, traz dados coletados a partir de uma pesquisa realizada com surdoatletas brasileiros em parceria com a CBDS.
Segundo Agtônio Guedes, secretário nacional de Paradesporto do Ministério da Cidadania, o objetivo deste diagnóstico foi subsidiar tanto a Secretaria Nacional de Paradesporto quanto a CBDS de informações que nos permitam traçar um perfil mais preciso do surdoatleta no Brasil.
Diagnóstico do surdoatleta
De acordo com dados da SNPAR, 670 brasileiros, de 23 unidades da Federação, todos surdos ou com deficiência auditiva e praticantes de esportes, participaram da pesquisa e responderam a um questionário que teve como objetivo traçar o perfil do surdoatleta.
Para Diana Kyosen, presidente da CBDS, com os dados do diagnóstico será possível traçar um perfil do surdoatleta além de definir novas estratégias. “Esses dados serão importantes para nós e serão usados para melhorar e otimizar o trabalho que já realizamos com os surdoatletas”, explica Diana.
Já Guedes, destaca: “os dados nos permitirão promover políticas públicas mais eficientes para o surdoatleta brasileiro”.
Números do diagnóstico
De acordo com o Ministério da Cidadania, a maior parte dos que responderam ao questionário (80%) disputou a Surdolimpíada 2021 no interior paulista. Os demais são praticantes de esporte para surdos que tiveram acesso à pesquisa por meio de parceria da SNPAR com a Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).
O diagnóstico indica que 35,7% dos entrevistados vivem na região Sudeste, sendo que a maior parte deles moram no estado de São Paulo. Na sequência, aparecem as regiões Sul (29,2% do total), Nordeste (20,5%), Centro-Oeste (10%) e Norte (4,7%). Os estados de Roraima, Acre, Tocantins e Sergipe não tiveram representantes no diagnóstico, pois nenhum atleta desses estados respondeu ao questionário.
Modalidades dos atletas
Outro dado refere-se às modalidades praticadas, com uma predominância de esportes coletivos. O vôlei, com 155 praticantes, seguido por handebol (138) e basquete (52) foram os mais citados. Na sequência, aparece o atletismo, com 51 praticantes no grupo de entrevistados.
No total, os surdoatletas ouvidos são integrantes de 15 modalidades: atletismo, badminton, basquete, boliche, ciclismo de estrada, tênis de mesa, handebol, natação, mountain bike, vôlei, vôlei de praia, xadrez, judô, taekwondo e karatê.
A pesquisa mostrou ainda que, dos 670 entrevistados, 69,4% nasceram surdos. Os demais ficaram surdos ou adquiriram deficiência auditiva ao longo da vida. O diagnóstico também identificou a frequência de dias e horas por semana que eles dedicam aos treinos e há quanto tempo e onde praticam esportes.
Frequência: O que disseram os 670 entrevistados?
Entre os 670 entrevistados, 268 disseram praticar esporte há mais de cinco anos, enquanto uma boa parte deles, 178 pessoas, adquiriu o hábito há menos de um ano. Sobre a frequência, 160 praticam três vezes por semana. Quando indagados quantas horas por dia dedicam aos treinamentos, o maior grupo (260 pessoas) respondeu entre uma e duas horas.
O diagnóstico descobriu ainda que 415 dos 670 entrevistados (61,9%) praticam esporte orientado por um treinador e que 625 entrevistados (93,2%) não recebem auxílio financeiro voltado para a prática esportiva.
“É uma triagem que demonstra a diversidade das pessoas surdas, pois fazemos parte de quase 10 milhões de surdos no Brasil”, aponta a presidente da CBDS.
Ela destacou ainda que a criação da Secretaria Nacional de Paradesporto, na estrutura do Ministério da Cidadania, trouxe um olhar mais atento às pessoas com deficiência. “Com a Secretaria Nacional de Paradesporto criou-se um olhar para os surdos no esporte. Isso traz, para nós, da CBDS, o sonho de avançarmos num futuro de mais equidade”, completa Diana.
Mapeamento socioeconômico
A iniciativa da Secretaria Nacional de Paradesporto ainda traçou um perfil acadêmico e socioeconômico dos entrevistados. Em relação ao nível de escolaridade, 33,7% têm o ensino médio completo, enquanto 21,7% concluíram o ensino superior. O diagnóstico revelou ainda que a maioria dos atletas está no mercado de trabalho: 460 entrevistados, ou 68,6% do total.
Em relação à renda mensal, 470 (70,1%) ganham até três salários mínimos, enquanto 155 (23,1%) têm rendimentos entre 3 e 10 salários mínimos. Dezesseis pessoas (2,3%) disseram ganhar entre 10 e 20 salários mínimos e 4,3% afirmaram ganhar mais de 20 salários mínimos.
A pesquisa tratou também da questão de hábitos de saúde e constatou que a maioria não fuma (658 pessoas) e não faz uso de bebidas alcóolicas (422 pessoas). “Esse diagnóstico é importante, pois preenche uma lacuna histórica em relação ao perfil do surdoatleta. A partir de agora, temos um retrato mais preciso deste público, que está fora do arcabouço dos Jogos Paralímpicos, mas que tem um movimento muito forte no país”, completa Giselle Chirolli, diretora do Departamento de Paradesporto da Secretaria Nacional de Paradesporto.
Resumo dos dados
Em publicação do Ministério da Cidadania no site ↗ do Governo Federal, em 24 de fevereiro, é possível conferir mais detalhes do mapeamento, ou acessar aqui um resumo do diagnóstico do surdoatleta no Brasil ↗, para fazer o download do arquivo PDF.