Descrição da imagem: Relógio inteligente com a tela exibindo o app da Samsung com o nome "Impulse", e um dedo interagindo com a tela. (Imagem: Reprodução/YouTube)
“A Samsung reforça a ideia de que apenas a fala fluente é valorizada. Isso desumaniza a complexidade da diversidade humana”, diz líder do grupo Vozes Gagas.
O aplicativo “Impulse” da Samsung — ainda indisponível no Brasil, tem sido objeto de críticas e questionamentos de grupos e organizações de autodefesa e ativismo para pessoas gagas em âmbito nacional e internacional. A tecnologia promete promover a fala fluente através de impulsos táteis, mas os grupos de ativistas alegam que isso apenas perpetua estigmas em vez de ajudar.
Boa leitura!
Carta Aberta à Samsung
Em resposta, algumas das principais figuras da comunidade de pessoas que gaguejam dos Estados Unidos escreveram uma carta aberta à Samsung sobre este aplicativo. Mais de 60 organizações de gagueira ao redor do mundo assinaram a carta, abordando dois aspectos principais: a estratégia de marketing da Samsung, que apenas perpetua o estigma; e o fato de terem desenvolvido um dispositivo baseado em um metrônomo, o qual sabemos há anos que não funciona na terapia para gagueira.
Segundo a carta, “o marketing da empresa sugere que o app pode eliminar a gagueira sem oferecer evidências de apoio, utilizando linguagem estigmatizante”. A carta sugere que tal abordagem é exploradora, especialmente porque o aplicativo é pago — apesar da Samsung informar o contrário. “Tratamentos eficazes devem ser baseados em evidências e não explorar os desejos das pessoas que gaguejam”, prossegue a carta.
Vozes Gagas criticam a Samsung
“A Samsung reforça a ideia de que apenas a fala fluente é valorizada. Nós, pessoas gagas, mostramos o contrário: a experiência da gagueira é diversa e não pode ser monitorada ou resumida por um aplicativo. Isso desumaniza a complexidade da diversidade humana,” avalia Alexandra Martins do grupo Vozes Gagas.
Ela explica que outro erro foi ignorar o lema ‘nada sobre nós sem nós’, ao não se envolveram com a comunidade de pessoas que gaguejam no desenvolvimento desse aplicativo.
Nas redes sociais, Associações e grupos de pessoas gagas do mundo todo vem buscando assinaturas de organizações dos Direitos Humanos que queiram colaborar com a iniciativa.
Demandas das organizações de gagueira
No documento, segundo nota enviada à imprensa, os grupos exigem que a Samsung:
- Envolva-se com organizações de autodefesa e ativismo de gagueira para entender melhor as necessidades e desejos da comunidade de pessoas que gaguejam.
- Descontinue a prática de comercializar um aplicativo sem pesquisas que apoiem sua utilidade em termos de impacto na qualidade de vida.
- Abstenha-se de usar linguagem estigmatizante em materiais de marketing e, em vez disso, concentre-se em narrativas empoderadoras que validem a comunidade de pessoas que gaguejam.
- Colabore com organizações de tecnologia já envolvidas com comunidades de pessoas que gaguejam para aprender as melhores práticas para inovação tecnológica inclusiva.
- Desenvolva produtos que promovam o pertencimento de pessoas que gaguejam e realmente inovem no campo da tecnologia assistiva para variações da fala, em vez de oferecer apenas “mais do mesmo”.
É possível assinar a carta entrando em contato com o grupo Vozes Gagas pelo e-mail: vozesgagas@gmail.com ↗
A posição da Samsung
Para entender o caso, a equipe de redação Jornalista Inclusivo entrou em contato com a assessoria de imprensa da Samsung, que respondeu em nota:
“O aplicativo Samsung Impulse está atualmente disponível apenas na Espanha e é de utilização gratuita. A solução foi desenvolvida em colaboração com o Speechcare Centre de Madrid e Lisboa, um instituto especializado no tratamento das dificuldades da fala, ‘co-fundado’ e dirigido pelo Dr. Gonçalo Leal. A aplicação também foi aprovada pela Associação Espanhola de Terapeutas da Fala. O Samsung Impulse tem como proposta ajudar pessoas que fazem terapia rítmica, e não deve ser utilizado como substituto de um profissional especializado em fala.”
Assista ao comercial do app da Samsung
Sobre o app Impulse
A Cheil Spain ↗, empresa de marketing digital do Grupo Samsung, lançou o aplicativo Impulse, que utiliza inteligência artificial (IA) para auxiliar pessoas com impedimentos de fala. Desenvolvido em parceria com a Samsung Iberia, o app está disponível atualmente apenas na Espanha para dispositivos Android e Galaxy Watch ↗.
O Impulse opera através de um algoritmo que identifica a deficiência de fala específica da pessoa usuária e ajusta os exercícios de tratamento para aprimorar a capacidade de expressão vocal. O objetivo da aplicação é melhorar a vida das pessoas, atuando como um treinador de fala tátil invisível no pulso.
O Impulse ganhou dois Grand Prix no Festival El Sol nas categorias de Inovação e Saúde, e também ganhou um Bronze Clio Health em 2024.
Segundo a Samsung, cerca de 70 milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem de algum tipo de impedimento de fala, incluindo gagueira, repetições silábicas, sons prolongados e dificuldades de leitura narrada (conhecido como “ditado”).
Deficiência de Fala
Uma deficiência na fala é uma condição em que a capacidade de produzir os sons necessários para se comunicar com outras pessoas é prejudicada. Esses distúrbios podem variar de leves, como a pronúncia ocasional de algumas palavras incorretas, a graves, como a incapacidade de produzir os sons da fala.
Existem diferentes tipos de distúrbios da fala, incluindo:
Distúrbio da Linguagem (Disfasia): Envolve dificuldades na compreensão e expressão da linguagem, afetando crianças com inteligência adequada à sua idade. Pode ser do tipo do desenvolvimento (causa desconhecida) ou adquirida (resultante de acidentes cerebrais ou outros fatores). A disfasia pode ser receptiva (afetando a compreensão) ou expressiva (diminuição notável da produção de linguagem).
Apraxia da Fala: Nesse distúrbio, a pessoa tem dificuldade em articular corretamente os músculos envolvidos na fala, mas seu raciocínio permanece intacto. Isso pode resultar em arrastamento de palavras e distorção de sons.
Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Formado em Comunicação Social (2006), foi repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. É consultor em inclusão, ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, e redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.
