Casa acessível: guia de soluções práticas de acessibilidade residencial

Homem negro cadeirante transferindo-se da cama para a cadeira de rodas em um quarto adaptado de uma casa acessível. (Créditos: Depositphotos)

Legenda descritiva: Homem negro cadeirante transferindo-se da cama para a cadeira de rodas em um quarto adaptado de uma casa acessível. (Créditos: Depositphotos)

Acessibilidade residencial: pequenas ações para tornar uma casa acessível, segura, funcional e inclusiva para todas as pessoas.

O debate sobre acessibilidade frequentemente se restringe ao espaço público — calçadas, transporte coletivo, escolas, bibliotecas. Contudo, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária começa nas residências. A casa — que deveria ser um ambiente seguro e funcional — muitas vezes deixa de atender necessidades básicas de acessibilidade, em especial para pessoas com deficiência, pessoas idosas, gestantes, com mobilidade temporariamente reduzida, com deficiência sensorial (como surdez, cegueira, baixa visão e surdocegueira), neurodiversas e crianças.

Ícone de pessoa em cadeira de rodas, logo do site Jornalista Inclusivo.Jornalista Inclusivo também está no WhatsApp!

Acesse o canal e acompanhe as nossas atualizações.

De acordo com pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, cerca de 90% dos paulistanos avaliam as calçadas e ruas da cidade como regulares, ruins ou péssimas em termos de acessibilidade. Esse dado expõe o descaso com a mobilidade urbana e serve de alerta sobre como o mesmo descompromisso pode ser replicado no ambiente doméstico.


Acessibilidade residencial: casa acessível é questão de adaptação

Tornar um imóvel verdadeiramente acessível, nem sempre é sinônimo de obras complexas e custos elevados, como alargamento de portas, instalação de elevadores ou rebaixamento de pisos. Esse investimento nem sempre está ao alcance da maioria e pode gerar atraso na implantação de soluções urgentes. No entanto, pequenas intervenções já promovem avanços significativos na segurança e na autonomia dos moradores.

Cadeira de rodas próxima a uma rampa de madeira em construção sobre escadas, com ferramentas manuais espalhadas.
Descrição da imagem: Foto de uma rampa de acessibilidade sendo instalada sobre escadas em ambiente interno. Uma cadeira de rodas está posicionada no topo da rampa e ao redor há ferramentas como serrote, martelo e régua, indicando a execução de obra para acessibilidade. (Créditos: Depositphotos)

Além disso, responsabilidade de adaptar a residência não deve recair apenas sobre a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Recursos simples e estratégias acessíveis podem transformar ambientes comuns em espaços inclusivos, muitas vezes sem a necessidade de grandes reformas.

Entradas e circulação acessíveis: o primeiro desafio

Para que qualquer residência seja acessível, é fundamental considerar o acesso logo na entrada. Portas estreitas, degraus, batentes elevados e fechaduras de difícil manipulação dificultam o acesso não só para cadeirantes, mas também para pessoas  idosas, gestantes, com carrinhos de bebê ou mobilidade reduzida temporária, além de pessoas com limitações visuais. Instalar rampas com inclinação adequada, superfícies antiderrapantes, portas amplas, maçanetas de fácil acionamento e eliminar barreiras desnecessárias são medidas iniciais essenciais.

No interior, a circulação precisa ser fluida. Tapetes soltos, móveis mal posicionados ou passagens estreitas são perigosos para qualquer pessoa, em especial para aquelas com baixa visão, pessoas cegas (que se beneficiam de sinalizações táteis) ou deficiência intelectual que requeiram rotas simples e seguras. Espaços organizados e livres facilitam deslocamento com bengalas, andadores ou cadeiras de rodas.

A iluminação adequada, preferencialmente indireta e difusa, e interruptores em alturas acessíveis, são fundamentais para pessoas com baixa visão, dificuldades motoras ou limitação de alcance. Sinalização tátil e visual também pode ajudar pessoas com deficiência visual ou intelectual.

Cozinha e banheiro: foco na segurança e autonomia

A cozinha e o banheiro são espaços críticos quanto à segurança e acessibilidade. No banheiro, barras de apoio próximas ao vaso sanitário e dentro do box, pia e bancada em altura adequada para pessoas idosa ou em cadeira de rodas, espelhos inclinados e piso antiderrapante contribuem para autonomia de pessoas com deficiência motora, física ou equilíbrio reduzido. Para pessoas com baixa visão, diferenças de cor e texturas facilitam o reconhecimento dos ambientes.

 Idosa sorridente sentada em cadeira adaptada para banho, segurando barras de apoio no banheiro.
Descrição da imagem: Mulher idosa de cabelos brancos sorri enquanto está sentada em uma cadeira de banho com encosto, dentro de um banheiro adaptado com barras de apoio nas paredes. (Créditos: Depositphotos)

Em banheiros, é importante que a disposição dos elementos seja lógica e previsível, beneficiando também pessoas neurodiversas (como autistas), que podem se beneficiar de ambientes organizados e previsíveis. A instalação de alarmes sonoros e luzes indicativas podem facilitar a autonomia de pessoas surdas ou com surdocegueira.

Na cozinha, adaptar armários, utensílios e eletrodomésticos para diferentes alturas ou comandos acessíveis permite o uso por pessoas em cadeiras de rodas, com nanismo, baixa mobilidade, força ou destreza reduzidas. Uma geladeira  posicionada de forma estratégica, eletrodomésticos com comandos visuais e táteis, além de layouts claros, tornam o ambiente mais inclusivo.

Lembre-se: esses ajustes beneficiam não só pessoas com deficiência, mas toda a família, proporcionando mais segurança, funcionalidade e conforto.

Quarto e áreas de descanso: conforto sem barreiras

O quarto, espaço de privacidade e descanso, deve priorizar a autonomia. Cama em altura acessível, tomadas, interruptores e abajures próximos ao leito, armários de portas leves e prateleiras ajustáveis facilitam a rotina de pessoas idosas, com deficiência e crianças.

Espelhos devem estar em altura apropriada e a ausência de tapetes ou uso de modelos antiderrapantes reduzem riscos de quedas. Sistemas de automação residencial — como lâmpadas, cortinas ou alarmes acionados por comando de voz ou aplicativos — beneficiam pessoas com deficiência física, auditiva, visual ou mobilidade reduzida.

 Homem cadeirante dormindo em uma cama com a cadeira de rodas ao lado, em um quarto aconchegante.
Descrição da imagem: Homem jovem dorme de lado em uma cama de casal com lençóis brancos e cobertor cinza, em um ambiente bem iluminado. Em primeiro plano, desfocada, aparece sua cadeira de rodas ao lado da cama, indicando um espaço adaptado que oferece acessibilidade no cotidiano. (Créditos: Depositphotos)

Acessibilidade vai além da deficiência permanente

É importante destacar que a acessibilidade domiciliar não diz respeito apenas a pessoas com deficiência física permanente. Pessoas idosas, gestantes, quem está em recuperação de lesões, quem convive com deficiência intelectual, autismo, surdez, baixa visão ou cegueira também se beneficiam de ambientes planejados e inclusivos. Até crianças em fase de desenvolvimento ganham mais autonomia e segurança em uma casa acessível.

Além dos benefícios sociais e de saúde, adaptações podem valorizar o imóvel para venda, locação ou uso comercial, ampliando seu potencial de uso por diferentes perfis de moradores ou visitantes.

Um caminho possível e coletivo

Adaptar uma casa é totalmente viável com planejamento, sensibilidade e informação correta. Mais do que uma questão técnica, trata-se de um compromisso com a dignidade, a autonomia e a segurança de todas as pessoas que circulam pelo espaço, independentemente de sua condição.

A acessibilidade domiciliar não deve ser uma resposta apenas às situações emergenciais ou à obrigação de grandes reformas. Com ajustes simples e escolhas conscientes, qualquer lar pode se tornar inclusivo, seguro e acolhedor.

O desafio está em abandonar a ideia de que acessibilidade é apenas para “os outros”. É um direito que atravessa todas as fases da vida e alcança todas as famílias e visitantes. Adaptar a casa é olhar para o presente com responsabilidade social e preparar o futuro para todos.


Créditos das imagens deste artigo: https://depositphotos.com/br

Deixe um comentário