Em família, atletas com deficiência visual buscam medalhas nos Jogos de Paris 2024

Kétyla e Kesley Teodoro, atletas com deficiência visual, sorrindo e exibindo suas medalhas em frente a um banner amarelo de evento paralímpico.

Legenda descritiva: Atletas com deficiência visual representando Campinas (SP), Kétyla e Kesley Teodoro sorrindo e exibindo suas medalhas em frente a um banner amarelo de evento paralímpico. (Créditos: Divulgação/APC)

Naturais de Rondônia, Kétyla e seu irmão Kesley foram convocados para representar o Brasil no atletismo da Paralimpíada na França, entre 28 de agosto e 8 de setembro.

Os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 estão chegando e, entre os nomes que vão representar o país nas pistas, estão dois representantes de Campinas, no interior de São Paulo. Kesley e Kétyla Teodoro, irmãos com condição genética rara que afeta a retina, foram convocados para compor a seleção nacional de paratletismo.

Convocação para os Jogos de Paris 2024

A notícia da convocação de Kétyla e seu irmão Kesley tem sido muito comemorada pelos cerca de 80 paratletas da ‘Associação Paraolímpica de Campinas (APC)’, que participam de um projeto desenvolvido nas pistas e piscinas da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas. 

Multimedalhistas em eventos nacionais e internacionais, Kétyla e Kesley têm expectativa de brilhar ainda mais em Paris. Nos jogos paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, Kesley ficou em quarto lugar. Kétyla conquistou o 3° lugar nos jogos Pan-americano de 2019, o 5° nos jogos Paralímpicos Tokyo 2020+1 e, também, a 3ª colocação no Mundial Paralímpico de Atletismo em Kobe, no Japão, realizado entre os dias 17 e 25 de maio deste ano.

“Desde que Kesley e Kétyla foram convocados, os treinos dos nossos atletas não são os mesmos”, conta Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, professor e gerente de projetos da APC. “O desempenho deles está cada vez mais próximo dos atletas olímpicos, o que mostra o nível do nosso trabalho.”

A seleção brasileira está realizando sua aclimatação na França, na cidade de Troyes, se preparando para entrar na Vila Olímpica e Paralímpica na próxima semana. Kesley disputará os 100m rasos, enquanto Kétyla correrá os 400m com o seu atleta-guia, Rodrigo Chieregatto.

Atletas com deficiência visual: inclusão e base

Nascidos em Rondônia, os irmãos praticam o atletismo desde 2012. Kétyla, de 29 anos, compete na classe T12, voltada para atletas com baixa visão agravada. Ela iniciou no esporte há 12 anos e, atualmente, representa a APC há cinco anos. “O esporte educacional inclusivo foi o que me levou ao esporte de alto rendimento, uma oportunidade que pode ser gerada para muitas crianças”, destaca.

Já Kesley, de 31 anos, vê o esporte como uma “ferramenta transformadora” que mudou sua perspectiva de vida e da sua família. “Nesse período de cinco anos representando a APC, nós participamos das Paralimpíadas e de dois Mundiais. E tudo isso começou na base, emociona-se.

Kesley compete na classe T12, que permite a opção de ter ou não um guia. Diferente da sua irmã, ele corre sozinho, já que encontrar um atleta-guia com o nível necessário é uma tarefa difícil. “Eu corro na categoria T12, em que é opcional ter ou não um guia. Mas ainda existem as categorias T11 e T13, com níveis diferentes de deficiência visual”, explica.

A importância de atletas-guias

Rodrigo Chieregatto, atleta-guia de Kétyla há sete anos, é peça fundamental na busca pelos sonhos da paratleta. “Eu sempre digo que a Kétyla é a minha força e eu sou os olhos dela. Essa relação nos deixa muito mais próximos e a gente consegue se ajudar nessa busca pelos seus sonhos”, conta Rodrigo.

Durante a prova dos 400m, Rodrigo narra o que está acontecendo para que Kétyla se situe. “Nós somos uma família e é assim que estamos caminhando rumo ao pódio. Já temos medalhas de Mundial e de Panamericano. Só falta a medalha paralímpica. E nós trabalhamos muito para que ela venha”, completa.

Esportes sem barreiras 

O projeto “Esportes Sem Barreiras”, realizado pela APC em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com financiamento do Fundo de Investimentos Esportivos do Município, é fundamental para o apoio aos atletas paralímpicos da região.

Equipe do projeto "Esportes Sem Barreiras" posando para foto em frente a dois banners com os logotipos da APC e PUC-Campinas.
Descrição da imagem: Foto de parte da equipe da Associação Paralímpica de Campinas (APC), usando uniformes azuis, na pista de atletismo da PUC-Campinas. As pessoas estão sorrindo e posando para a foto ao lado de dois banners, um com o logotipo da APC e outro com o nome da universidade. À frente, duas crianças exibem suas medalhas, enquanto as demais sorriem e acenam. Ao fundo, é possível ver um prédio colorido e árvores, indicando que a foto foi tirada ao ar livre. (Créditos: Vera Longuini)

“Os alunos, dos mais variados cursos, participam do processo através do projeto de integralização. De um lado, os alunos auxiliam os atletas em suas respectivas áreas para que eles tenham o necessário para o seu máximo desenvolvimento e, de outros, os estudantes, adquirem um grande aprendizado em seu campo de atuação ao trabalhar com o esporte”, explica a professora Giovanna Regina Saroa, diretora da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas.

Desempenho dos atletas

Além da família Teodoro, a APC conta com outros atletas se destacando no cenário paralímpico. Vinicius Tavares Celestino da Silva, de 30 anos, tem deficiência física decorrente de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e compete nas provas de arremesso de peso e lançamento de dardo na classe F33. Ele é o 4º colocado no Ranking Nacional.

Outro destaque é o nadador Eduardo Leme Medeiros, de 13 anos, que tem nanismo e disputa as provas de 50m livre, 100m livre e 100m costas na classe S6. Em 2023, ele foi o 6º colocado geral nos 100m livre e está próximo aos índices nacionais nas outras provas.

Entre as mulheres, Maria do Socorro dos Santos, de 59 anos, se sobressai nas provas de arremesso de peso e lançamento de disco na classe F44. Ela é a 3ª colocada no Ranking Nacional.

“Há muitos atletas se destacando na APC”, afirma Luiz Marcelo Ribeiro da Luz. “A convocação dos irmãos Teodoro é um exemplo do nosso trabalho de base, que vem gerando frutos e ajudando na consolidação de carreiras no esporte paralímpico.”

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