Legenda descritiva: Sala de galeria exibindo textos tipográficos em paredes brancas, um livro azul aberto com fones de ouvido, fotos emolduradas no centro e a imagem digital de um rosto com correntes douradas à direita. (Foto: Woodland Pattern)
Conquista da brasileira Alexandra Martins marca avanço na visibilidade das pessoas que gaguejam e fortalece a luta por visibilidade e acessibilidade de pessoas com deficiência.
A artista e ativista brasileira Alexandra Martins é a primeira pessoa latino-americana a integrar uma exposição da SPACE STUTTER, plataforma internacional dedicada à arte produzida por pessoas que gaguejam. A mostra, intitulada “This Rhythm That’s Mine” (“Este Ritmo Que É Meu”), está em cartaz até 29 de junho no Woodland Pattern, nos Estados Unidos, e reúne obras de artistas que fazem da gagueira não um obstáculo, mas um campo fértil de criação, identidade e resistência.
Participam da exposição os artistas Intisar Abioto, Willemijn Bolks, Alexandra Martins, Wendy Ronaldson e Olivia Simmons (autora do poema que dá nome à mostra), além de trabalhos do premiado JJJJJerome Ellis. Com um olhar sensível e potente, a curadoria — assinada por Ellis, Julia Leone e Aidan Sank — propõe reflexões sobre como a gagueira se conecta com temas como política, ancestralidade, meio ambiente, linguagem, espiritualidade e afeto. O projeto conta ainda com apoio da diretora de arte do Woodland Pattern, Marla Sanvick.
A obra em destaque na mostra
A obra de Alexandra, intitulada “Língua Afiada, Língua Aleijada”, parte da gagueira e da memória para propor uma investigação profunda sobre comunicação, subjetividade e ancestralidade. Ao evocar a gagueira como entidade viva e simbólica, a artista reinscreve essa experiência no imaginário social como parte do campo do sagrado, da beleza e da cura — rompendo com a lógica patologizante e capacitista.
“Essa conquista não é só minha. É de todas as pessoas com deficiência que têm suas formas de existir silenciadas. Ao ocupar esse espaço internacional com minha arte, estou reafirmando: gaguejar também é linguagem. E toda linguagem merece ser escutada com respeito e presença”, afirma Alexandra.
Experiência prévia em Londres
Essa é a segunda vez que Alexandra expõe sua arte em território internacional. Em 2023, ela foi convidada para participar da exposição “Wouldn’t You Rather Talk Like Us?” (“Você Não Preferiria Falar Como a Gente?”), realizada em Londres, com curadoria dos artistas gagos Paul Aston e Conor Foran. A mostra reuniu obras novas e existentes com o objetivo de criar um espaço físico para a arte e para discussões comunitárias, reforçando que as vozes gagas são válidas e que a produção artística pode inspirar mudanças na forma como pessoas com deficiências na fala se percebem e são percebidas socialmente.
Sua participação representa um importante avanço para a visibilidade da comunidade de pessoas com deficiência no Brasil, especialmente das pessoas com deficiência comunicacional, que ainda enfrentam enormes barreiras sociais, atitudinais e simbólicas para existirem em plenitude.
Primeira latino-americana na SPACE STUTTER
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A artista e ativista do Vozes Gagas: Alexandra Martins
Alexandra Martins, artista interdisciplinar e ativista, nasceu em Brasília e vive atualmente em Salvador, na Bahia. Pessoa que gagueja e não binária, ela já residiu em Fortaleza e Juazeiro do Norte, experiências que alimentam suas pesquisas sobre memórias, ancestralidades e identidades em dança, performance, instalação, fotografia e vídeo. Sua atuação articula arte, política e comunicação acessível.

Formada em Comunicação Social ↗ – Jornalismo pelo UniCEUB, em Brasília, Martins é mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela mesma instituição. Também possui especialização em Artes Visuais pelo SENAC-DF.
No campo institucional, Alexandra atua como diretora de Comunicação da Parada do Orgulho da Pessoa com Deficiência Brasil e é fundadora do Vozes Gagas, projeto dedicado a promover visibilidade e escuta para pessoas que gaguejam. Além disso, é proprietária do estúdio EspaçoNave Criativa e já atuou como editora de vídeo na TVE Bahia.
Sua prática artística inclui fotografia desde 2004, edição de vídeo a partir de 2010, performance e intervenção urbana desde 2011, e palhaçaria desde 2016. No âmbito acadêmico, integrou o Grupo de Pesquisa em Performance Corpos Informáticos na UnB e fez parte da Feminaria Musical, grupo de pesquisa em experimentos sonoros na UFBA.
Comprometida com a desconstrução de narrativas capacitistas ↗, Martins defende que a gagueira deve ser entendida como variação linguística legítima e direito à diversidade de vozes. Em entrevistas, critica iniciativas que buscam “curar” a gagueira sem participação da comunidade, reforçando o princípio “nada sobre nós sem nós” na construção de políticas e tecnologias inclusivas.
Links úteis:
- Site da SPACE STUTTER: https://www.spacetostutter.org/ ↗
- Instagram: https://www.instagram.com/spacetostutter/ ↗
- Exposição online no Woodland Pattern: https://woodlandpattern.org/exhibitions ↗