Autor símbolo da inclusão no Brasil transforma limites físicos em impulso criativo, ampliando sua produção sobre deficiência, arte, moda e mitos populares.
São Paulo, SP, 08 de dezembro de 2025 – Durante décadas, o autor e pesquisador Emílio Figueira, 56, dedicou sua vida à pesquisa e à escrita sobre as questões que envolvem as pessoas com deficiência. Foram inúmeras viagens pelo país, ministrando palestras, cursos, participações em seminários, congressos, universidades e escolas, uma de suas grandes paixões.
Nos últimos três anos, no entanto, Emílio Figueira passou a viver de forma mais reclusa em seu apartamento, em São Paulo. O motivo é explicado pelo próprio autor:
“Eu tive até aqui uma vida intensa, principalmente produtiva na ciência e nas artes. Por ser uma pessoa com paralisia cerebral, sempre precisei gastar muito mais energia para coordenar a fala e os movimentos em tarefas que muitos realizam naturalmente. Como consequência, tive um desgaste precoce no quadril direito, o que reduziu ainda mais minha mobilidade, que já era limitada pela deficiência.”
Formado em Jornalismo, Psicologia e Teologia, possui seis pós-graduações e dois doutorados. É autor de 127 livros, mais de cem artigos científicos publicados, além de peças teatrais e roteiros audiovisuais.
Novas Obras Sobre Inclusão, Psicologia E Artes Mundiais
Entre suas mais de trinta obras dedicadas ao tema da inclusão, destaca-se “As Pessoas com Deficiência no Brasil – Entre Silêncios e Gritos”, já em sua quarta edição, publicada pela Wak Editora, no Rio de Janeiro.
Após anos de novas pesquisas e leituras, Figueira revela ter concluído o segundo volume dessa obra, que analisará a trajetória das pessoas com deficiência do Império aos dias atuais. O estudo abordará a exclusão histórica, a violência contra escravos, a medicalização e a eugenia como formas de controle, além da exploração simbólica e física dos corpos. Também destacará a negligência do Estado, o surgimento dos movimentos sociais durante a ditadura e os avanços legais na redemocratização. A obra apresenta a passagem da invisibilidade para a cidadania, valorizando o corpo com deficiência como símbolo de resistência e memória histórica.
Outro trabalho de fôlego, em fase final de conclusão, é “Corpos Que Viraram Mitos” (título provisório). A obra investiga personagens reais e figuras lendárias brasileiras ligadas a corpos marcados por deficiência, deformidades e doenças. Organizado pelas cinco regiões do país e por períodos históricos, o estudo analisa como esses corpos, marginalizados em vida, tornam-se centrais na construção do imaginário, da fé e do mito popular, sob uma perspectiva histórica, simbólica, sociológica e psicológica.
Uma terceira obra também está em desenvolvimento: “Desde 1991 venho pesquisando as representações das pessoas com deficiência na história da arte e da literatura mundial. Já publiquei diversos artigos sobre o tema, mas pretendo organizar tudo em um livro no próximo ano”, revela o pesquisador.
Ainda pela Wak, Emílio Figueira lançou em 2015 o livro “Psicologia e Inclusão” e agora tem no prelo revisto pela mesma editora a obra “Intervenções Psicológicas em Pessoas com Deficiência”. O livro analisa, de forma ampla e interdisciplinar, o papel da psicologia na inclusão e no cuidado de pessoas com deficiência nos contextos social, clínico, hospitalar, educacional, afetivo, corporativo e esportivo, abordando práticas, desafios e perspectivas da área.
“Essa obra é fruto de mais de vinte anos de minhas pesquisas e escrita. Busco valorizar uma abordagem centrada na pessoa e em seus direitos, tratando desde as intervenções terapêuticas e educacionais até temas como sexualidade, mercado de trabalho e envelhecimento, destacando o psicólogo como mediador essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e humanizada”, afirma Figueira.
Pessoas Com Deficiência Como Personagens Literários
Nos últimos anos, Emílio também tem se dedicado à literatura ficcional. Segundo ele, durante muito tempo esteve tão envolvido com a escrita científica e pedagógica, que seu lado literário acabou ficando em segundo plano.
“Nas últimas décadas, fiquei muito focado na inclusão e na escrita técnica e científica, e o meu lado literário foi ficando mais discreto. Agora chegou o momento de me dedicar mais a isso”, explica.
Ele vem se especializando na escrita de contos psicológicos modernos, abordando temas existenciais, políticos, angústias cotidianas, pertencimento, homoafetividade, racismo e identidade.
Entre suas recentes produções está a coletânea “Espelhos Que Caminham – Histórias sobre deficiência, existência e humanidade”, publicada pela Amazon. A obra convida o leitor a atravessar espelhos – alguns claros, outros trincados – para conhecer personagens que desafiam estereótipos e silenciam expectativas, revelando vidas que respiram, amam, erram, resistem e se reinventam em um mundo que insiste em vê-las como exceção.
Um Romance Sobre Moda Inclusiva
Em primeira mão, Emílio Figueira também revelou estar trabalhando em um romance que abordará a moda inclusiva e seu impacto na valorização das pessoas com deficiência.
A narrativa mostrará modelos que conquistam espaço no mercado fashion, rompendo estereótipos e fortalecendo autoestima e reconhecimento profissional. Paralelamente, o romance tratará do crescimento de marcas inclusivas que promovem autonomia, acessibilidade e liberdade de escolha ao se vestir, apresentando a moda inclusiva como uma transformação cultural, estética e social.
A Nova Reinvenção Do Escritor Como Caminho
Em sua autobiografia “Autor de Mim Mesmo”, lançada o ano passado Emílio escreve:
“Pelo meu estado atual, preciso mais uma vez me reinventar, adaptar-me à minha nova realidade para seguir em frente, como na jornada do herói descrita por Joseph Campbell. No momento em que tudo parece perdido, o personagem precisa reunir toda a experiência acumulada para vencer seus desafios e seguir sua vida. Diante dessas mudanças em meu corpo, mais uma vez a vida me desafia a me reinventar. E planos e projetos não me faltam, graças a Deus.”
Um retrato de um pensador que insiste em criar mesmo quando o corpo impõe novos desafios.
Saiba mais sobre suas obras no site www.emiliofigueira.com.br
