Mesmo após resposta da CET, estudo do Instituto Corrida Amiga revela tempos insuficientes e risco elevado, especialmente para pessoas idosas e com deficiência.
São Paulo, 21 de junho de 2025 – Apesar da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP) ter afirmado, em maio de 2025, que todos os semáforos críticos de 2024 haviam sido ajustados, um novo estudo do Instituto Corrida Amiga, realizado entre 26 e 29 de maio de 2025, revela uma realidade preocupante: 44% das travessias semafóricas ainda oferecem apenas 4 a 5 segundos de tempo verde, tempo insuficiente para garantir a segurança de pedestres, especialmente pessoas com deficiência e idosas. A verificação, parte da campanha “Travessia Cilada”, expõe que a lógica do trânsito paulistano ainda prioriza a fluidez dos veículos em detrimento da segurança de quem caminha.
Este levantamento detalhado, que analisou 25 travessias previamente identificadas como problemáticas, demonstra que as melhorias implementadas pela CET-SP foram, em grande parte, insuficientes ou simbólicas. Os dados coletados pelo Instituto Corrida Amiga, que utiliza parâmetros do Estatuto do Pedestre de São Paulo , evidenciam um risco acentuado para grupos vulneráveis, reforçando a urgência de políticas de mobilidade urbana que garantam o direito à cidade e a segurança de todas as pessoas, independentemente de sua capacidade de mobilidade ou idade.
A Resposta da CET e a Realidade dos Semáforos em SP
A declaração da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP), divulgada em 24 de maio no contexto do Maio Amarelo , de que todos os semáforos críticos da campanha “Travessia Cilada” de 2024 haviam sido “consertados”, gerou expectativas. Contudo, a verificação in loco realizada pelo Instituto Corrida Amiga, entre 26 e 29 de maio, buscou confrontar essa afirmação com a experiência diária de quem se desloca a pé pela cidade.
O esforço coletivo do Instituto, que revisitou cerca de 25 travessias apontadas como problemáticas em sua campanha anterior, revelou que, embora algumas intervenções tenham ocorrido, a maioria das travessias ainda está longe de oferecer a segurança necessária para quem anda a pé. A persistência dos problemas levanta questionamentos sobre a eficácia e a prioridade dada à segurança dos pedestres na gestão do trânsito paulistano.
Dados Alarmantes: Tempos Insuficientes e Riscos Elevados
Os resultados do monitoramento do Instituto Corrida Amiga são claros e preocupantes, destacando a insuficiência dos tempos semafóricos para travessias seguras:
- 44% dos semáforos continuam com apenas 4 a 5 segundos de tempo verde para pedestres.
- A média do tempo verde subiu de 4,7 segundos (2024) para 5,8 segundos (2025), um ganho de apenas 1 segundo, equivalente a um aumento de 20%.
- O tempo de espera para o pedestre caiu de 120 segundos para 98 segundos, mas mais da metade das travessias ainda ultrapassa 90 segundos de espera — sendo que uma delas chegou a ultrapassar 3 minutos.
Impacto na Segurança e Acessibilidade: Quem Mais Sofre
A análise dos dados, utilizando os parâmetros do Estatuto do Pedestre de São Paulo – que estabelece velocidades de travessia diferenciadas (0,6 m/s para crianças e pessoas com deficiência, 0,8 m/s para idosos) – revela um cenário de alto risco para os grupos mais vulneráveis:
- Apenas 20% das travessias oferecem tempo suficiente para que idosos atravessem com segurança.
- 90% das travessias não possuem tempo seguro para crianças e pessoas com deficiência.
- Mesmo adotando o critério mais excludente – 1,2 m/s, utilizado pela própria CET-SP – apenas 40% das travessias garantem o tempo necessário para que o pedestre complete a travessia com segurança.
- Foram identificadas travessias em condição gravíssima de risco, onde o tempo semafórico disponível representa menos de um terço do tempo necessário para que uma pessoa complete a travessia com segurança. Isso exige uma velocidade de caminhada três vezes superior à considerada segura para idosos ou crianças, expondo esses grupos a um perigo iminente.
A Lógica do Trânsito Urbano: Prioridade aos Veículos

Apesar da visibilidade da campanha “Travessia Cilada” e da resposta pública da CET, os dados revelam que a lógica da regulação semafórica em São Paulo ainda privilegia desproporcionalmente a fluidez dos veículos. O tempo urbano, essencial para a mobilidade a pé, segue negado a quem caminha. A readequação feita é, em grande parte, simbólica ou insuficiente frente à realidade dos corpos que circulam a pé, reforçando a necessidade de uma mudança de paradigma na política de trânsito da cidade.
Para mais detalhes e para acessar todos os dados levantados pelo Instituto Corrida Amiga, acesse a planilha completa com todas as análises realizadas .
Sobre a Campanha Travessia Cilada
Criada em 2019 pelo Instituto Corrida Amiga, a campanha “Travessia Cilada” é uma iniciativa de ciência cidadã que mobiliza a sociedade para mapear e documentar travessias inseguras nas cidades brasileiras. Os dados coletados pelos participantes subsidiam análises como esta rodada de monitoramento, que foi realizada especificamente para verificar a resposta oficial da Prefeitura de São Paulo. A campanha visa dar voz aos pedestres e fornecer subsídios para a melhoria da infraestrutura urbana e das políticas de mobilidade.
Contato
Para mais informações sobre o Instituto Corrida Amiga e a campanha “Travessia Cilada”, entre em contato:
- Instagram: @corridaamiga
- Email: contato@corridaamiga.org
- Telefone: (11) 94155-5993
Semáforos em SP: cidade segura e inclusiva
Os resultados do Instituto Corrida Amiga reforçam que a segurança e a acessibilidade para pedestres em São Paulo ainda são desafios urgentes que demandam ações mais efetivas e menos simbólicas por parte das autoridades. É fundamental que a gestão do tráfego vá além da fluidez veicular, priorizando a vida e a dignidade de todas as pessoas que se deslocam a pé. A persistência de semáforos com tempos inadequados não é apenas uma questão de mobilidade, mas de saúde pública e direitos humanos, exigindo um compromisso real com a construção de uma cidade mais inclusiva e segura para todos.