Debate sobre caminhos e desafios da inclusão mostrou que “pandemia acelerou desenvolvimento tecnológico, mas acessibilidade digital ainda está longe de ser realidade”, no primeiro Arena de Ideias de 2022
Os avanços tecnológicos recentes parecem ter ganhado um impulso ainda maior com a deflagração da pandemia. Contudo, observa-se que nem todos conseguem vivenciar da mesma maneira as facilidades deste novo momento, como participar de uma reunião virtual de trabalho em qualquer lugar do planeta ou comprar uma passagem aérea pela internet. Os reflexos da desigualdade estão na pesquisa conduzida pela BigDataCorp, em parceria com o Movimento Web para Todos (MWPT), que identificou que apenas 0,89% dos sites e aplicativos estão preparados para atender pessoas com algum tipo de deficiência ou limitação.
A acessibilidade digital prevê um ambiente que seja acessível para todas as pessoas, independentemente da natureza da limitação do usuário – física, sensorial, cognitiva ou intelectual. Mas, para a CEO da Espiral, palestrante e idealizadora do Web para Todos ↗, Simone Freire, esse conceito vai além:
“É preciso entender que a acessibilidade digital é para todos nós, é essencial na vida de qualquer cidadão. Pensar que a web está chegando em povos, públicos e pessoas que a gente não imaginava. Pessoas de baixo letramento. Pessoas idosas. Se você pensa que acessibilidade digital é só para pessoas com deficiência, lembre-se que quem não tem uma deficiência pode ter o que a gente chama de limitação temporária”, frisou Freire durante o Arena de Ideias realizado na quinta-feira (13), cujo tema foi “Sua empresa tem acessibilidade digital?” ↗.
Para a diretora de Conteúdo, Curadoria e Novos Produtos da Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento, Miriam Moura, mediadora do webinar, apesar do caminho para mudanças efetivas ser longo, a sociedade já está despertando para o tema:
“A pandemia trouxe visibilidade para as desigualdades e a falta de inclusão. Estamos vendo uma conscientização para isso, em todas as áreas. É preciso um olhar mais empático, mais solidário, porque todo mundo precisa navegar nesse novo mundo, que é digital.”
Convidado do webinar, criador do #MundoCegal ↗ e atuante pelos direitos das pessoas com deficiência, Diniz Cândido explicou que existem etapas a preencher para chegar a essa acessibilidade. Em portais na internet, por exemplo, é preciso partir do desenvolvimento do site, depois a homologação automática e a homologação presencial para permitir a compatibilidade com o leitor de tela.
“Precisamos ter a acessibilidade também dos sistemas, porque ele precisa estar acessível para conversar com o leitor de tela, ferramenta que nós, com deficiência visual, utilizamos para interagir com o computador. O leitor de tela não lê exatamente o que está na tela, ele lê o código. Essas regrinhas foram desenvolvidas pelo Web Content Accessibility Guidelines (WCAG), que é um consórcio internacional de acessibilidade”, relatou o autor do livro “Por uma Web Mais Inclusiva: Noções básicas de acessibilidade on-line”.
Legislação
Atualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra 45 milhões de pessoas com deficiência no país. No campo jurídico, os direitos dessa parcela da população estão assegurados pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) ↗, de 2015. O texto aponta, no artigo 63, que “é obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente”.
Apesar de ser considerada uma legislação de vanguarda por Diniz Cândido, a idealizadora do Web para Todos defendeu que há espaço para melhoramentos:
“Especificamente sobre o artigo que trata da acessibilidade digital, o 63, a nossa grande consideração é que o artigo é aberto. Quais são essas diretrizes? O que é um critério mínimo? Se isso não for implementado, o que acontece?”, questionou Simone Freire. E emendou:
“A LBI, especificamente nesse artigo, tem duas questões que impactam muito essa transformação que a gente tanto quer. A primeira é a abertura em relação aos critérios, dizer critérios internacionais é uma coisa absurdamente vaga. Segundo, não traz as sanções. Não traz uma definição de prazo para adaptação”.
Simone informou ainda que, nesse sentido, há um projeto de lei em andamento, do Senador Alessandro Vieira (Cidadania – Sergipe), que está propondo especificações no artigo 63. Trata-se do PL n° 1090, de 2021 ↗, que prevê melhores condições de acessibilidade ↗ em sites da internet.
Onde assistir
O Arena de Ideias é o webinar quinzenal, aberto ao público, promovido pela Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento ↗ que traz nomes de relevância no mercado para debater assuntos em pauta na sociedade brasileira. Transmitido ao vivo, está disponível no YouTube ↗ (abaixo), no Spotify ↗ e no LinkedIn ↗.