Legenda descritiva: Refugiados venezuelanos recebendo atendimento humanitário no Brasil em centro de acolhimento. (Foto: Reprodução/Ministério da Defesa)
Pesquisa da jornalista Amanda Ganzarolli explora desafios de inclusão enfrentados por refugiados venezuelanos responsáveis por crianças autistas no Brasil.
Amanda Ganzarolli, jornalista e pesquisadora com especialização em Comunicação Social e Intervenção ABA, acaba de publicar uma importante pesquisa na Revista Travessia. O artigo, intitulado “O deslocamento forçado e a pessoa com deficiência: acessibilidade e inclusão sob a ótica de responsáveis diretos por venezuelanos autistas em refúgio”, destaca a situação de crianças autistas refugiadas venezuelanas no Brasil. Em sua abordagem interdisciplinar, Amanda combina a experiência em comunicação e sua formação em autismo para explorar um tema sensível e urgente, ainda pouco abordado em estudos acadêmicos.
Contexto do Deslocamento Forçado na América Latina
A crise migratória na América Latina é uma das mais intensas do mundo, com destaque para a situação da Venezuela. Dados de setembro de 2024 ↗ da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) indicam que mais de 5,4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela na última década. O Brasil é um dos principais destinos para essas pessoas em refúgio, mas a integração dessa população migrante ainda enfrenta obstáculos, especialmente para aquelas com alguma deficiência, como as pessoas no espectro autista.
Atualmente, a maioria das pessoas que fogem da Venezuela estão em países da América Latina e do Caribe, com a Colômbia recebendo o maior número, seguido por Peru e Chile. A situação, conforme aponta o ACNUR, continua a exigir apoio internacional para atender às necessidades dessas pessoas e das comunidades que as acolhem.
A Pesquisa sobre Refugiados Venezuelanos Autistas
O artigo de Ganzarolli (disponível neste link ↗) foca nos desafios de acessibilidade e inclusão enfrentados por pessoas refugiadas com deficiência, com base no relato de responsáveis por crianças autistas entre 18 meses e 17 anos, nascidas no Brasil ou na Venezuela, que foram recrutadas pelas redes sociais.
Para obter esses relatos, a autora utilizou entrevistas em profundidade semi-estruturadas, baseando-se em uma abordagem qualitativa descrita por Barros e Duarte (2006). O roteiro consistia em perguntas amplas que permitiam aos participantes explorar suas experiências de forma detalhada. Essa metodologia garantiu que os entrevistados narrassem suas trajetórias de forma empírica, o que enriquece a compreensão sobre os desafios enfrentados no Brasil e na Venezuela.
A análise revela barreiras estruturais e sociais que dificultam o acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, além de apontar a necessidade de estratégias mais integradas para atender a essa população.
Entre os resultados apresentados no estudo estão:
- A ausência de políticas públicas voltadas especificamente para pessoas refugiadas com deficiência.
- Dificuldades de acesso a serviços especializados devido à burocracia e à falta de capacitação de profissionais.
- Barreiras culturais e linguísticas que agravam a exclusão social.
Além disso, o estudo documenta as experiências vividas por cuidadores de crianças autistas, como o caso da mãe de uma menina de 12 anos que destacou as dificuldades de interiorização e acesso a serviços no Brasil. A pesquisa também expôs o impacto da Operação Acolhida, que, apesar de bem-intencionada, não possui estrutura para atender adequadamente às necessidades específicas de pessoas com deficiência. Essas barreiras incluem atrasos em diagnósticos e dificuldades no reconhecimento de laudos médicos obtidos na Venezuela, agravando a exclusão vivida por essas famílias.
O Cenário do Autismo no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 2 milhões de pessoas estão no espectro autista no Brasil – número com expectativa de alteração após a divulgação do Censo de 2022, que incluiu questões sobre autismo pela primeira vez. Projeções baseadas em estudos internacionais sugerem que o número de autistas no Brasil pode chegar a 5,9 milhões.
No entanto, os desafios enfrentados por refugiados autistas são agravados pela falta de dados sobre essa população específica, o que pode refletir a invisibilidade dessa questão no contexto migratório.
O estudo de Ganzarolli propõe maior articulação entre governo, sociedade civil e organizações internacionais para desenvolver políticas públicas que contemplem as necessidades específicas de pessoas refugiadas com deficiência. Também ressalta a importância de capacitar profissionais de diversas áreas para atender essa população de forma adequada.
Contribuições Profissionais
A jornalista Amanda Ganzarolli combina sua experiência em comunicação social com sua formação em Intervenção ABA, um método reconhecido para o atendimento de pessoas com autismo. Sua pesquisa traz contribuições relevantes para o debate sobre inclusão e acessibilidade no contexto do refúgio, integrando aspectos acadêmicos e práticos.
Considerações Finais
A publicação de seu artigo destaca lacunas nas políticas de acolhimento das pessoas refugiadas com deficiência no Brasil e na América Latina. A pesquisa aponta para a necessidade de ações concretas e coordenadas para garantir acessibilidade, inclusão e outros direitos básicos a esse grupo, muitas vezes invisibilizado nas estatísticas e nos debates políticos.
Acesse o artigo completo, Deslocamento forçado e pessoas com deficiência neste link ↗.
Editor na Jornalista Inclusivo e na PCD Dataverso. Consultor em Estratégias Inclusivas e Gestor de Mídias Digitais. Formado em Comunicação Social (2006). Atuou como repórter, assessor de imprensa, executivo de contas e fotógrafo. Ativista dedicado aos direitos da pessoa com deficiência, redator na equipe Dando Flor e na Pachamen Editoria.