Emprego Apoiado promove inclusão no Dia do Trabalho 2025

Homem com trissomia 21 usando headset e camisa amarela, sentado em uma mesa enquanto olha para o celular em um ambiente corporativo iluminado. (Imagem gerada por IA)

Legenda descritiva: Homem com trissomia 21 usando headset e camisa amarela, sentado em uma mesa enquanto olha para o celular em um ambiente corporativo iluminado. (Imagem gerada por IA)

Inclusão com propósito: como o Emprego Apoiado abre caminhos para a autonomia profissional de pessoas com deficiência intelectual.

Imagine atravessar portas que antes pareciam intransponíveis e descobrir, no compasso do trabalho, a trilha para a autonomia e o pertencimento. Neste Dia do Trabalho de 2025, enquanto o Brasil celebra conquistas históricas nas leis de inclusão, ganha força a narrativa de que o emprego é muito mais do que um salário: é um instrumento de transformação social. É nesse cenário que nasce o Emprego Apoiado, uma iniciativa que vai além da simples colocação profissional, abrindo caminho para que pessoas com deficiência – especialmente dentro do espectro da neurodiversidade – possam exercer seus talentos e construir um caminho sustentável para a independência e vida em comunidade.

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Embora o Brasil tenha avançado com leis como a Lei nº 14.992/2024 , que visa facilitar a contratação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a realidade corporativa ainda apresenta desafios. Uma pesquisa feita pela Consultoria Maya com a Universidade Corporativa Korú, a startup Tismoo.mell e Órbi Conecta, revela que 86,4% dos profissionais nunca receberam treinamento sobre neurodiversidade. Nesse cenário, a metodologia do Emprego Apoiado, aplicada por instituições como o Autonomia Instituto, torna-se crucial para promover uma inclusão efetiva e individualizada.

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O que é o Emprego Apoiado?

O Emprego Apoiado é uma metodologia focada na inclusão sustentável no mercado de trabalho. “O Emprego Apoiado atende pessoas com deficiência intelectual, múltipla, autismo, paralisia cerebral e deficiência psicossocial. Mais do que empregar, é preciso considerar os talentos, interesses e necessidades de apoio de cada indivíduo”, afirma Bárbara Calmeto, neuropsicóloga e diretora do Autonomia Instituto .

O processo geralmente envolve três etapas principais:

  1. Perfil vocacional – onde são identificados os pontos fortes e os apoios necessários;
  2. Desenvolvimento de emprego – quando se busca oportunidades compatíveis em empresas parceiras;
  3. Acompanhamento pós-colocação – que garante suporte durante a adaptação, promovendo a inclusão no ambiente de trabalho.

Curso Profissionalizante: Preparando para o Mercado

Foco em Habilidades Essenciais

Para atender às demandas atuais, o Autonomia Instituto desenvolveu um curso profissionalizante adaptado para jovens a partir de 16 anos com deficiência intelectual, Trissomia 21 (T21) e TEA. “A atual dinâmica do mercado de trabalho exige profissionais não apenas qualificados, mas também dotados de habilidades sociais e relacionais”, explica Bárbara Calmeto. O curso foca em preparar os alunos para funções administrativas e de atendimento.

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Conteúdo e Metodologia Adaptados

O conteúdo, adaptado a partir de cursos de mercado nas áreas com maior oferta como auxiliar administrativo e atendimento ao cliente, abrange desde a estrutura e hierarquia de uma empresa até práticas como anotar recados, responder mensagens, usar EPIs, reconhecer tipos de serviços e produtos em lojas, além de comunicação, cuidados pessoais e organização. “Mais do que aquisição de habilidades técnicas, o curso promove a conscientização sobre autocuidado e competências fundamentais para o sucesso profissional”, completa Bárbara.

O curso é presencial, com 4 horas semanais (terças e quintas), e duração variável. O material didático e a metodologia são ajustados com linguagem simples, atividades práticas focadas em situações do cotidiano profissional e respeito ao ritmo e necessidades sensoriais de cada aluno, com acompanhamento próximo. Aulas práticas e visitas externas complementam o aprendizado.

A Importância das Habilidades para a Vida

A preparação vai além do técnico. Gustavo Fuzeto, 26 anos, participante do Núcleo de Habilidades desde 2021, aprendeu tarefas como cozinhar e usar o comércio local. “Chamamos isso de Habilidade Prática. É preparar o indivíduo para cuidar de si e lidar com as exigências da rotina. Isso impacta diretamente na autonomia no trabalho”, reforça a diretora.

Desafios e Realidade da Inclusão

O Processo de Colocação e Adaptação

O Autonomia Instituto realiza a prospecção ativa de vagas, buscando o “matching” entre o perfil do candidato e as necessidades da empresa. O objetivo é garantir não só a contratação, mas a permanência do jovem no ambiente de trabalho com qualidade e bem-estar, o que exige adaptação e suporte contínuos – sendo este, segundo o Instituto, o maior desafio, mais até do que a colocação inicial.

Barreiras no Mercado e o Papel da Família

O principal desafio é a resistência de empresas em contratar pessoas com deficiência intelectual (como TEA e T21), que, segundo estudos recentes, ainda são as últimas a serem incluídas, apesar das cotas. Muitas tendem a optar por perfis com deficiências físicas leves ou auditivas. Além disso, é necessário um trabalho intenso de adaptação no local de trabalho — algo que muitas empresas ainda não estão preparadas para fazer.

A decisão familiar também é crucial. Gustavo, por exemplo, concluiu o curso de qualificação, mas a família optou por não dar seguimento à inclusão profissional no momento, por ainda não se sentir segura, respeitando seu tempo e contexto. Ele continua participando dos grupos de desenvolvimento de habilidades funcionais e sociais no instituto. Isso demonstra que cada percurso é único. A continuidade desse trabalho de inclusão e acompanhamento depende de tempo, estrutura e recursos — fatores que, segundo o instituto, impactaram a oferta do curso em 2025.

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 Página da cartilha "Emprego Apoiado – Alternativa de Trabalho", do Instituto Paradigma, exibida na biblioteca digital com destaque para inclusão econômica.
Descrição da imagem: Captura de tela da biblioteca digital com a cartilha “Emprego Apoiado – Alternativa de Trabalho”, produzida pelo Instituto Paradigma. O título está em destaque, seguido de um visualizador de PDF com três páginas. (iparadigma.org.br)

Emprego Apoiado: Alternativa de Trabalho

Para se aprofundar no tema, a seção Biblioteca Virtual do site do Instituto Paradigma disponibiliza gratuitamente conteúdos de valor para profissionais, acadêmicos, estudantes e demais pessoas interessadas na inclusão social das pessoas com deficiência no Brasil.

Neste Dia do Trabalho – feriado instituído pela Lei Nº 7.466/1986 , a reflexão sobre o Emprego Apoiado reforça uma mensagem fundamental: inclusão não é favor, é direito. Promover um ambiente de trabalho acessível e diverso, com suporte adequado, transforma a vida da pessoa contratada, enriquece a cultura da empresa e fortalece a sociedade como um todo. Iniciativas como as do Autonomia Instituto são essenciais nessa jornada.


 

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