5ª Mostra do Filme Marginal no RJ lança luz sobre a Exclusão Social no Brasil

Close do rosto do músico e educador Irton Mário da Silva, do documentário 'O Som da Pele', na 5ª Mostra do Filme Marginal 2025. (Créditos: Camilo Soares)

Legenda descritiva: Close do rosto do músico e educador Irton Mário da Silva, do documentário 'O Som da Pele', na 5ª Mostra do Filme Marginal 2025. (Créditos: Camilo Soares)

Com entrada gratuita e sessões acessíveis, evento exibe filmes que dialogam com a realidade de milhões de pessoas afetadas pelas desigualdades.

 

Rio de Janeiro, setembro de 2025 – De 12 a 21 de setembro, o Rio de Janeiro sedia a 5ª edição da Mostra do Filme Marginal, um evento que utiliza o cinema como ferramenta para expor e debater as profundas desigualdades que marcam a sociedade brasileira. Com uma programação gratuita que se espalha por dez locais da cidade, incluindo o Estação NET Botafogo e a Biblioteca Parque de Manguinhos, a mostra exibe produções independentes que dão voz a narrativas e personagens historicamente marginalizados. Além disso, a programação contempla filmes com recursos de acessibilidade

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Um Retrato Fiel da Desigualdade Brasileira em Números

A relevância da mostra é amplificada quando seus temas são confrontados com os dados oficiais do país. As temáticas de racismo, precariedade de trabalho e encarceramento, presentes nos filmes, refletem uma realidade estatística alarmante. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua de 2023, a renda média de pessoas brancas (R$ 3.733) é 75,7% maior que a de pessoas pretas (R$ 2.125) e 69,5% maior que a de pessoas pardas (R$ 2.202). No mercado de trabalho, a taxa de desocupação para pessoas pretas (9,4%) e pardas (8,9%) é significativamente superior à de pessoas brancas (6,2%). A mostra, portanto, não é apenas uma exibição de arte; é um espelho crítico de uma exclusão estrutural.


Cinema como Ferramenta de Luta e Reflexão

A seleção de 2025 reúne produções de 19 estados brasileiros e da Guiné-Bissau, abrangendo uma vasta gama de gêneros, do documentário à ficção científica. Os filmes abordam questões urgentes como violência doméstica, etarismo, sexismo e a crise ambiental, temas que também encontram eco nas estatísticas nacionais. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2023, por exemplo, revelam que 1.463 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2022, um aumento de 6,1% em relação ao ano anterior.

“A mostra é um espelho das questões que mais mobilizam a nossa sociedade a cada ano. Na seleção de 2025, aparecem temas como precariedade de trabalho, encarceramento, etarismo, racismo, violência doméstica, superexploração de recursos naturais, exclusão, invisibilidade social e sexismo.”

Uilton Oliveira, idealizador do evento

A diversidade de narrativas inclui histórias sobre maternidade, romances LGBTQIAPN+, religiões afro-brasileiras, quilombos e a memória da ditadura militar, oferecendo um contraponto às produções do circuito comercial e promovendo um cinema popular, autoral e crítico.

Acessibilidade e Inclusão: Um Compromisso em Destaque

A Mostra do Filme Marginal também se compromete com a inclusão de públicos diversos, oferecendo sessões com recursos como legenda descritiva, audiodescrição e Libras. Um dos destaques deste compromisso é a sessão especial para pessoas cegas e com baixa visão, que acontecerá no dia 18 de setembro, às 10h, no Instituto Benjamin Constant, referência nacional na educação de pessoas com deficiência visual. A iniciativa é crucial em uma cidade como o Rio de Janeiro, que, segundo o Censo 2022, abriga mais de 470 mil pessoas com algum tipo de deficiência.

Nesta sessão, serão exibidos os seguintes filmes com recurso de audiodescrição:

  • O Som das Redes (BA): Documentário, Livre, 2024. Direção: Assaggi Piá.
  • O Som da Pele (PE): Documentário, Livre, 2024. Direção: Marcos Santos.
  • A Casa Amarela (PR): Ficção, 10 anos, 2024. Direção: Adriel Nizer.

A organização ressalta a importância de o público consultar a programação detalhada no site para verificar quais outras sessões e filmes contam com recursos específicos, uma vez que a acessibilidade, embora presente, ainda não é universal em todas as exibições, refletindo os desafios de produção do cinema independente.

Crescimento e Resistência do Cinema Independente

Criada em 2017, a Mostra do Filme Marginal tem registrado um crescimento exponencial, refletindo a vitalidade e a urgência do cinema independente no Brasil. Em sua primeira edição, o evento contou com 36 filmes inscritos. Em 2024, esse número saltou para 404 inscrições, um aumento de mais de 1.000%. Esse crescimento demonstra a necessidade de espaços de difusão para produções que, apesar de sua relevância social e qualidade artística, raramente encontram lugar nos circuitos comerciais.

A 5ª edição da mostra é uma realização da Corpo Fechado Produtora e conta com o apoio da Lei Paulo Gustavo e da RioFilme, por meio do edital Pró-Carioca Audiovisual 2024, um fomento essencial para a continuidade de projetos que promovem a diversidade cultural e a democratização do acesso ao cinema.

Serviço – 5ª Mostra do Filme Marginal